Zelensky diz que paz deve respeitar independência e soberania da Ucrânia
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Zelensky diz que paz deve respeitar independência e soberania da Ucrânia

Presidente ucraniano apelou a uma paz que respeite independência e soberania do seu país, após um alto funcionário norte-americano lhe ter apresentado o plano dos EUA para pôr fim à invasão russa.
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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou esta quinta-feira, 20 de novembro, a uma paz que respeite independência e soberania do seu país, após um alto funcionário norte-americano lhe ter apresentado o plano de Washington para pôr fim à invasão russa.

"A Ucrânia precisa de paz. (...) Uma paz digna, para que as condições respeitem a nossa independência, a nossa soberania e a dignidade do povo ucraniano", disse Zelensky no seu discurso diário difundido através das redes sociais.

Antes, Zelensky reuniu-se em Kiev com o secretário do Exército norte-americano, Daniel Driscoll.

A presidência ucraniana confirmou esta quinta-feira ter recebido o que classificou como um "plano preliminar" dos Estados Unidos para pôr fim à guerra com a Rússia, depois de na quarta-feira ter sido noticiado por vários órgãos de informação internacionais, incluindo o portal de notícias norte-americano Axios, uma proposta de 28 pontos de Washington, que implica a cedência do território ucraniano ocupado pela Rússia.

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O plano inclui o reconhecimento das conquistas da Rússia na Ucrânia, onde ocupa cerca de 20% do território e prevê também a redução do exército ucraniano para 400 mil efetivos, metade dos atuais, e o abandono das armas de longo alcance, segundo a agência de notícias France-Presse.

A alta representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) rejeitou esta quinta-feira qualquer plano que não tenha o acordo da Ucrânia, enquanto país invadido, e a participação europeia, recordando a Washington que, neste conflito, "há um claro agressor e uma vítima".

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Kaja Kallas disse, antes do início de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, em Bruxelas, que o encontro iria debruçar-se sobre as "notícias recentes".

Em Washington, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou esta quinta-feira que o plano de paz proposto pelos Estados Unidos é bom "tanto para a Rússia, como para a Ucrânia".

"O Presidente (Donald Trump) apoia este plano. É um bom plano tanto para a Rússia como para a Ucrânia, e nós pensamos que é aceitável para ambas as partes", disse Leavitt aos jornalistas, em resposta às informações de que o plano satisfaria Moscovo em vários pontos importantes.

"O Governo está a falar tanto para um lado como para o outro", insistiu a porta-voz.

Leavitt afirmou que o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, e o chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, "trabalham em silêncio há um mês" neste projeto, para "compreender o que estes países estariam dispostos a fazer para alcançar uma paz duradoura".

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Em reação, a presidência russa comentou esta quinta-feira que a proposta norte-americana não traz "nada de novo" em relação ao que foi discutido na cimeira dos líderes dos Estados Unidos e da Rússia, em agosto no Alasca, apesar de o Axios indicar que foi preparada em articulação com Moscovo.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, recorreu a um jogo de palavras para responder evasivamente aos jornalistas que o questionaram sobre o assunto.

"Não existem hoje consultas propriamente ditas. Os contactos, sem dúvida, existem", afirmou.

Peskov recorreu ainda à argumentação habitualmente usada por Moscovo sobre o conflito, observando que "qualquer momento é bom para uma resolução pacífica", desde que a solução elimine as suas "causas profundas".

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

No plano diplomático, a Rússia rejeitou até agora qualquer cessar-fogo prolongado e exige, para pôr fim ao conflito, que a Ucrânia lhe ceda pelo menos quatro regiões - Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia - além da península da Crimeia, anexada em 2014, e renuncie para sempre a aderir à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).

Estas condições são consideradas inaceitáveis pela Ucrânia, que, juntamente com os aliados europeus, exige um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de entabular negociações de paz com Moscovo.

Por seu lado, a Rússia considera que aceitar tal oferta permitiria às forças ucranianas, em dificuldades na frente de batalha, rearmar-se, graças aos abastecimentos militares ocidentais.

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