Um diplomata chinês ameaçou “cortar o pescoço” à primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, depois de esta ter dito que o Japão poderia intervir militarmente caso a China invadisse Taiwan. A ameaça do cônsul-geral em Osaka, publicada nas redes sociais, foi considerada “extremamente inapropriada” por Tóquio, que exigiu uma retratação - a mensagem foi apagada. Mas a polémica ameaça as relações entre as duas maiores economias asiáticas.Pequim considera a ilha de Taiwan como uma das suas províncias, não afastando a hipótese de recorrer à força para garantir a reunificação (os EUA alegam que poderá tentar já em 2027). As declarações da primeira-ministra foram vistas como uma “interferência flagrante nos assuntos internos” e uma “violação da soberania”, tendo sido exigido um pedido de desculpas a Tóquio. Mas afinal, o que disse Takaichi? Na sexta-feira, um deputado da oposição perguntou à primeira-ministra sobre as “situações que ameaçam a sobrevivência”, uma expressão que faz parte de uma lei de 2015 que permite aos chefes do Governo mobilizar as Forças de Autodefesa caso um país com relações próximas com o Japão for ameaçado. Os japoneses renunciaram à guerra e adotaram uma visão pacifista na Constituição escrita no pós-II Guerra Mundial, mas Tóquio tem militares para se poder defender.Na resposta, a líder conservadora que há menos de um mês se tornou na primeira mulher a chefiar o Governo do Japão optou por falar em exemplos. E disse que uma tentativa de colocar Taiwan completamente sob o controlo de Pequim, utilizando navios de guerra e força militar, poderia constituir uma situação deste tipo, dada a importância do estreito de Taiwan para o Japão.Também disse que um ataque a navios de guerra dos EUA enviados para romper um possível bloqueio chinês à ilha poderia exigir que Tóquio interviesse militarmente para se defender e defender o seu aliado (o Japão acolhe um dos maiores contingentes norte-americanos). “A chamada contingência de Taiwan tornou-se tão grave que temos de antecipar o pior cenário possível.”No seu ponto mais próximo, Taiwan e o Japão ficam a apenas uma centena de quilómetros de distância, tendo os japoneses sido a força colonizadora durante meio século (de 1895 até ao fim da II Guerra Mundial). Em 1949, a ilha tornou-se no refúgio do líder nacionalista Chiang Kai-shek e do seu Kuomitang após a derrota na guerra civil chinesa para os comunistas, tendo um governo paralelo sido criado - atualmente reconhecido por apenas 11 países, além da Santa Sé.A polémica intensificou-se no fim de semana, com a mensagem do cônsul chinês em Osaka, Xue Jian: “Não temos outra escolha senão cortar este pescoço imundo que nos foi imposto sem hesitação”, escreveu no X, partilhando notícias sobre a declaração de Takaichi. Esta não é a primeira vez que a primeira-ministra japonesa entra em choque com Pequim. Os chineses também não gostaram que tivesse publicitado o seu encontro com um representante de Taiwan durante a cimeira da ASEAN em Seul. Esse encontro surgiu depois de Takaichi reunir nessa mesma ocasião com o presidente chinês, Xi Jinping, tendo acordado continuar a construir uma relação “construtiva e sólida” entre os dois países. O comentário do diplomata foi apagado depois do protesto japonês, tendo o Governo do Japão já reafirmado o seu compromisso para com o acordo de 1972. Este estabeleceu os laços com o Governo de Pequim como único representante legítimo do povo chinês, cortando as relações com os nacionalistas em Taipé. O Japão reiterou ainda defender uma solução pacífica através do diálogo para Taiwan. Mas a primeira-ministra recusou retratar-se em relação ao que disse no Parlamento japonês, alegando que a sua resposta “é consistente com a posição tradicional do Governo”. Contudo, admitiu que seria “mais cautelosa a descrever cenários específicos” no futuro. .Sanae Takaichi eleita primeira mulher a liderar o Governo do Japão