O professor Nuno Loureiro estava no MIT desde 2016.
O professor Nuno Loureiro estava no MIT desde 2016.MIT/Jake Belcher

Polícia: Português matou físico Nuno Loureiro mais duas pessoas na Universidade Brown

Polícia encontrou atirador já morto - suicidou-se quando agentes se aproximaram. Também ligou os dois casos que marcaram esta semana nos EUA.
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A polícia norte-americana encontrou esta madrugada o suspeito do tiroteio na Universidade de Brown, no sábado, onde morreram duas pessoas. Também é ele, acreditam os investigadores, o homicida de Nuno Loureiro, físico do MIT morto a tiro na passada terça-feira em Boston.

Trata-se de um português, identificado como Cláudio Valente, de 48 anos. Estava morto quando os agentes se aproximaram dele. "Ele tirou a própria vida quando o tentámos deter", disse em conferência de imprensa Oscar L. Perez Jr., o chefe de polícia de Providence.

Claudio Manuel Neves Valente foi o foco central da investigação desde o início. Valente tinha um historial académico na Universidade Brown, onde esteve matriculado na prestigiada escola de pós-graduação para estudar um mestrado e doutoramento em Física entre setembro de 2000 e julho de 2003.

Durante esse período, frequentou quase exclusivamente aulas de física, o que o tornou profundamente familiarizado com o edifício onde o crime ocorreu, embora não tivesse qualquer afiliação actual com a instituição.

A "caça ao homem" durou cinco dias, fez questão de sublinhar o mayor de Providence, Brett Smiley, para anunciar que os cidadãos da cidade podem "finalmente respirar mais aliviados" .

A operação policial realizou-se em colaboração entre a Polícia de Providence, a Polícia da Universidade Brown, a Polícia Estadual de Rhode Island, o FBI, a ATF e diversas outras agências federais.

A investigação avançou através de um trabalho de análise de imagens de videovigilância, que permitiram identificar o suspeito e a descrição de um veículo. E menos de uma hora após a divulgação pública de uma fotografia, um indivíduo apresentou-se voluntariamente à polícia de Providence afirmando ter informações cruciais. Foi o seu depoimento, segundo o chefe da polícia, que acabou por "abrir o caso", confirmando a identidade de Valente e a sua presença na cena do crime.

Com o apoio da tecnologia de leitura de matrículas (LPR), as autoridades localizaram o veículo em Massachusetts, o que levou à obtenção de um contrato de aluguer assinado com o nome real do suspeito e imagens que coincidiam com a descrição do atirador visto em Providence, incluindo a indumentária e uma mala específica.

Iniciou-se assim uma perseguição policial que terminou pouco antes das 21h00 (hora local) da última noite em Salem, New Hampshire, quando uma equipa de intervenção táctica (SWAT) do FBI se preparava para executar mandados de busca numa unidade de armazenamento.

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Foi nesse local que Valente pôs termo à própria vida, sendo encontrado junto a uma mala que continha duas armas de fogo e provas que "correspondiam exatamente às recolhidas no local do tiroteio", disse Ted Docks, agente especial do FBI responsável pelo caso.

O ataque em Providence resultou na morte de dois estudantes da Brown e causou ferimentos a outros nove, além de ter deixado a comunidade académica em estado de choque.

O procurador-geral de Rhode Island, Peter Neronha, confirmou que, embora já tivesse sido assinado um mandado de detenção por homicídio, não haverá agora lugar a um processo judicial devido à morte do suspeito. As autoridades continuam agora a processar as provas para tentar determinar as motivações por trás deste acto de violência, bem como a investigar a ligação ao homicídio do físico português do MIT Nuno Loureiro.

Carro e imagens de videovigilância ligam os dois casos

Uma ligação que foi confirmada por Leah B. Foley, a procuradora do Massachusetts, também em conferência de imprensa. A peça central da investigação foi um Nissan Sentra cinzento, com matrícula da Florida, alugado em Boston no dia 1 de dezembro.

A localização do suspeito nos dois locais foi confirmada através de uma análise minuciosa de imagens de videovigilância. Em Providence, Rhode Island, o veículo foi detetado nas imediações do campus da Brown University em diversas ocasiões entre o dia 1 e o dia 12 de dezembro, antecedendo o ataque que vitimou dois estudantes.

Já em Brookline, Massachusetts, o cerco apertou-se quando as câmaras de segurança captaram o suspeito a cerca de "uma milha" -- 0,8 quilómetros -- da residência de Nuno Loureiro.

Vídeos adicionais mostraram o indivíduo "a entrar no prédio de apartamentos do docente no dia do homicídio, a 15 de dezembro", declarou ainda a procuradora.

Paralelamente à vigilância, decorreu uma investigação financeira. Os detetives conseguiram ligar o suspeito não apenas ao aluguer do automóvel, mas também ao pagamento de quartos de hotel em Boston e de um armazém em Salem, New Hampshire, arrendado ainda em novembro -- que seria o mesmo no qual o suspeito se viria a suicidar.

A tentativa de evasão do suspeito foi igualmente documentada: as autoridades confirmaram que, durante a sua estada em Massachusetts, as matrículas originais da Florida da viatura foram substituídas por placas não registadas do estado do Maine, numa tentativa deliberada de evitar a deteção policial.

A prova considerada "irrefutável" surgiu através da cronologia visual após o crime em Brookline. Cerca de uma hora depois do homicídio do físico do MIT, o suspeito foi filmado a entrar no seu armazém arrendado em New Hampshire. "Ele foi visto a entrar na unidade de armazenamento a usar as mesmas roupas que vestia logo após o homicídio", declarou aos jornalistas a procuradora Leah B. Foley.

Também esta responsável fez questão de sublinhar a importância do esforço conjunto de múltiplas agências, incluindo o FBI, ATF, U.S. Marshals e as polícias estatais de Massachusetts e Rhode Island para a resolução do caso "Quando as agências de aplicação da lei trabalham juntas, os crimes são resolvidos e o público é protegido", disse Foley.

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