A Rússia celebra esta sexta-feira o 80.º aniversário da vitória na Europa dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, data que será marcada por um enorme desfile militar em Moscovo, ao qual assistirão, segundo o Kremlin, pelo menos 29 líderes mundiais, com destaque para o presidente chinês, Xi Jinping. Estas celebrações serão ainda marcadas pelo receio de ataques de drones ucranianos, como tem acontecido durante o resto da semana, com as autoridades russas a garantirem que estão a fazer tudo para garantir a máxima segurança do evento. De recordar que a Rússia marca o Dia da Vitória na Europa a 9 de maio e não a 8, como os restantes aliados, por uma questão de fuso horário - a rendição nazi foi conhecida às 23h01 de 8 de maio de 1945, quando em Moscovo já era dia 9.Vladimir Putin e Xi Jinping estiveram reunidos esta quinta-feira no Kremlin, tendo o presidente chinês dito ao seu homólogo russo que os dois países devem ser “amigos de aço”, prometendo elevar a cooperação bilateral a um novo nível, incluindo militar. Os dois líderes apresentaram-se ainda como defensores de uma nova ordem mundial já não dominada pelos Estados Unidos.Além de Xi Jinping, estarão esta sexta-feira na Praça Vermelha o presidente brasileiro, Lula da Silva, mas também líderes de países como Cuba, Egito, Guiné-Bissau, Venezuela, Myanmar ou Congo, além de antigas repúblicas soviéticas, como Arménia, Bielorrússia ou Cazaquistão. Quanto a países europeus, apesar dos apelos da líder da diplomacia dos 27, marcarão presença o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, pertencente ao bloco mas próximo do Kremlin, e o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, nação candidata a Estado-membro da União Europeia. As idas destes dois últimos não foram isentas de sobressaltos - Vucic só conseguiu prosseguir viagem na quarta-feira depois de ter ficado retido em Bacu, a capital do Azerbaijão, devido ao encerramento do espaço aéreo de vários estados regionais devido aos ataques ucranianos contra Moscovo; enquanto Fico teve ontem de seguir uma rota tortuosa para Moscovo depois de os países do Báltico terem fechado os seus espaços aéreos para impedirem a passagem de voos para o desfile militar russo.“Apesar da atitude hostil por parte de um número de países ocidentais, vamos ter, com sucesso, um evento em grande escala”, disse na quarta-feira Yuri Ushakov, o principal conselheiro em Política Externa do Kremlin..Defesas aéreas em alerta contra ameaça de drones ucranianosDurante a cerimónia desta sexta-feira na Praça Vermelha, milhares de soldados russos irão desfilar ao som de marchas militares da Segunda Guerra Mundial, sendo que a parada incluirá também a apresentação de tanques, mísseis balísticos intercontinentais e outros equipamentos militares. Haverá também a passagem de aviões de combate que deixarão um rasto de fumo branco, azul e vermelho, as cores da bandeira russa. Como já é habitual, Putin fará um discurso e, se a tradição se cumprir, estará rodeado de veteranos de guerra.Após uma semana marcada por ataques de drones da Ucrânia contra Moscovo, o Kremlin já garantiu que tudo fará para garantir a segurança do evento e avisou que, apesar de ter decretado um cessar-fogo de três dias (que termina amanhã), responderá a ataques por parte de Kiev.Entre as medidas de segurança estão uma rede de defesas aéreas para abater drones antes que eles cheguem ao centro de Moscovo, bem como a perturbação do serviço de comunicações móveis.Há cerca de uma semana, o presidente ucraniano disse que não podia “garantir a segurança” do evento em Moscovo, o que foi visto pelo Kremlin como “uma ameaça direta”. Nos planos do presidente ucraniano para este dia estava, como foi avançado em meados de abril, juntar em Kiev líderes dos países aliados da chamada “coligação da boa-vontade” em resposta ao desfile de Moscovo, mas ontem não havia indicações de que tal fosse acontecer. No entanto, é esperado que se realize em Lviv um contradesfile com a presença dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da UE.Zelensky marcou esta quinta-feira o Dia da Vitória com um vídeo durante o qual anda pelas ruas de Kiev, dizendo que 80 anos após a vitória sobre a Alemanha nazi o “mal russo deve ser combatido, em conjunto”. E criticou as celebrações de Moscovo, afirmando que vai ser um desfile de cinismo e mentiras.O Reino Unido, onde as celebrações começaram na segunda-feira, marcou o dia com várias iniciativas, como dois minutos de silêncio e uma cerimónia em honra dos veteranos na Abadia de Westminster, na qual participou o rei Carlos III e outros membros da família real, bem como o primeiro-ministro Keir Starmer. “A ideia de que tudo isto é apenas História e que já não importa, de alguma forma, é completamente errada”, disse Starmer, acrescentando que “estes valores de liberdade e democracia importam hoje”.Em Berlim, o Dia da Vitória na Europa foi pela primeira vez feriado, com a classe política alemã reunida numa cerimónia no Parlamento para assinalar o que muitos alemães chamam dia de “libertação” do nazismo. Na sua intervenção, o presidente Frank-Walter Steinmeier afirmou que “a guerra de agressão da Rússia na Ucrânia não tem nada a ver com a luta contra a tirania nazi”, sublinhando que “os libertadores de Auschwitz tornaram-se novos agressores”.