A primeira volta das presidenciais da Roménia terminou com uma surpreendente vitória do candidato independente pró-russo Calin Georgescu, com 22,94% dos votos, de acordo com os resultados conhecidos ontem. A segunda volta, marcada para 8 de dezembro, será disputada também pela candidata reformista Elena Lasconi, que obteve 19,18%, ficando 2700 votos à frente do primeiro-ministro Marcel Ciolacu, que esta segunda-feira apresentou a demissão da liderança do Partido Social-Democrata (PSD). .Estes resultados são uma prova de que as sondagens relativas às eleições deste país da União Europeia estavam muito longe da realidade, pois o quase desconhecido Georgescu surgia com cerca de 5% das intenções de voto, enquanto que Ciolacu era dado como o favorito a vencer a primeira volta seguido de Lasconi, tendo acabado por ficar em terceiro, com 19,15% dos votos, e fora da segunda ronda - esta é a primeira vez na história pós-comunista da Roménia, ou seja desde 1989, que um candidato do PSD não passa à ronda seguinte das presidenciais. “As regras da democracia e a importância da segunda volta estão acima dos nossos interesses pessoais”, declarou Ciolacu, quando anunciou a demissão de líder do PSD..Numa primeira reação, a imprensa romena falava de “uma tremenda surpresa” e de “resultados inesperados”. Com as suas ideias radicais e declarações pró-russas, “conseguiu alcançar um resultado surpreendente na primeira volta, permanecendo praticamente invisível para os principais meios de comunicação social”, dizia o portal Transtelex.ro sobre Calin Georgescu. .Classificando a sua vitória como um “incrível acordar” do povo romeno, Georgescu explicou os resultados dizendo que “os 35 anos de incerteza económica impostos aos romenos tornaram-se numa incerteza para os partidos políticos”. .Georgescu, de 62 anos, é um professor universitário e consultor em desenvolvimento sustentável que já trabalhou por várias vezes para as Nações Unidas, nomeadamente como diretor executivo do Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável ou relator especial do Alto Comissariado para os Direitos Humanos. .Paralelamente, é conhecido pelas suas posições pró-Rússia, sendo até considerado por muitos o representante dos interesses de Moscovo na Roménia. É também um crítico da União Europeia e da NATO, tendo já descrito a instalação do sistema de defesa contra mísseis balísticos da Aliança na base romena de Deveselu como uma “vergonha da diplomacia”, acrescentando ainda que a NATO não protegerá os seus Estados-membros de um ataque russo..Entre as suas polémicas está ainda o facto de já ter descrito como heróis nacionais Corneliu Codreanu, o líder da Guarda de Ferro, um movimento fascista da Roménia nos anos 30, e Ion Antonescu, líder do governo pró-nazi durante a Segunda Guerra Mundial e que foi executado pela sua participação no Holocausto romeno. Georgescu já defendeu igualmente de forma pública que a Roménia não está preparada para conduzir de forma independente a sua diplomacia e estratégia, devendo, por isso, confiar na “sabedoria russa”..Na última década, foi ainda apontado por várias vezes como potencial primeiro-ministro por inúmeros partidos, incluindo a força de extrema-direita Aliança para a União dos Romenos, de George Simion, que também foi candidato nestas presidenciais, tendo ficado em quarto lugar, com 13,86%..Durante a sua campanha, muito centrada nas redes sociais, principalmente no TikTok, Calin Georgescu defendeu o aumento do apoio aos agricultores, o estímulo da produção de energia e alimentos e a redução da dependência das importações, bem como o fim da ajuda à Ucrânia..Na segunda volta, dentro de duas semanas, irá defrontar Elena Lasconi, de 52 anos, uma antiga jornalista televisiva e correspondente de guerra que se juntou à força de centro-direita União Salvar a Roménia (USR) em 2018, tendo chegado à liderança do partido este ano. .Lasconi foi eleita por duas vezes autarca de Câmpulung, primeiro em 2020 quando afastou o titular do cargo, e já este ano, por uma larga margem. É uma apoiante da ajuda à Ucrânia e de um maior aumento dos gastos com a Defesa. “Espera-nos uma batalha pelo futuro da Roménia. Seremos bem sucedidos”, disse ontem..A segunda volta está marcada para 8 de dezembro, uma semana depois das legislativas. Vários analistas acreditam que o sucesso de Georgescu nesta primeira volta das presidenciais possa contagiar as legislativas, tornando difícil a formação de um novo e estável governo de coligação..“Estamos numa posição em que podemos vir a ter um presidente de extrema-direita”, declarou à Reuters o cientista político Cristian Pirvulescu, falando sobre Georgescu. “Foi para aqui que os partidos do establishment nos trouxeram, primeiro negando a existência de uma guerra híbrida e depois caindo nela. As suas hipóteses de vitória são elevadas”.