O primeiro-ministro russo termina nesta terça-feira uma visita de dois dias à China, na ressaca da reunião entre Xi Jinping e Donald Trump. Moscovo atribuiu à visita de Mikhail Mishustin o caráter de “muito importante”. A economia russa perdeu mais uma fonte de receitas: as refinarias chinesas começaram a recusar a compra de petróleo russo após os Estados Unidos terem imposto sanções à Rosneft e à Lukoil, empresas que exportam cerca de metade do petróleo russo. Segundo a Bloomberg, as empresas Sinopec e PetroChina cancelaram várias encomendas e o mesmo se passa com empresas chinesas de menor dimensão. As trocas comerciais entre os dois países já estavam em declínio. Em setembro, as exportações da China para a Rússia registaram a maior queda em sete meses, de 21% em comparação a igual período do ano passado. Mas as exportações da Rússia para a China voltaram a crescer (3,8%), após uma queda de 17,8% um mês antes. Algo que o ministro da Indústria e Comércio da Rússia, Anton Alikhanov, atribuiu à pressão económica “externa” e à “saturação do mercado” de produtos chineses na Rússia..A viagem de Mishustin ocorre dias depois de as petrolíferas chinesas terem deixado de comprar crude à Rússia devido às sanções impostas pelos EUA.. Segundo a agência TASS, Mishustin tinha na sua agenda as relações comerciais e económicas, de transporte e cooperação industrial, e o reforço das parcerias energéticas, em tecnologia e agricultura. A economia de guerra da Rússia dá sinais de exaustão, com o crescimento do PIB em 1,1% contra 4,1% no ano passado e previsões de recessão. Do lado chinês, o primeiro-ministro Li Qiang disse que o seu país deseja fortalecer a cooperação com a Rússia e defender interesses de segurança comuns. “A China está disposta a fortalecer o alinhamento das estratégias de desenvolvimento com a Rússia e expandir a cooperação em diversas áreas”, afirmou durante a reunião bilateral em Hangzhou. Hoje, Li deverá ser recebido em Pequim por Xi Jinping. O porta-voz do Kremlin realçou a importância da visita de Mishustin à China. No entanto, Dmitri Peskov não esclareceu se o primeiro-ministro iria ser mensageiro de Vladimir Putin. Além do aprofundamento dos laços entre os dois países, esta visita surge depois de Xi e Trump terem debatido a guerra na Ucrânia, entre outros temas, na reunião decorrida na quinta-feira, na Coreia do Sul. Após a reunião, o presidente norte-americano disse que Washington e Pequim haviam concordado em “trabalhar juntos” para “resolver a guerra entre a Rússia e a Ucrânia”. Os pormenores, se debatidos, ficaram por divulgar. Mas o certo é que vários analistas acreditam que uma maior participação de Pequim poderá influenciar os contornos do desfecho negociado da guerra, tendo em conta a dependência de Moscovo em relação a Pequim. Segundo declarações do influente economista chinês David Daokui Li, o encontro de Xi com Trump poderá ter repercussões sérias. “Entre todas as reuniões entre os dois líderes, esta é talvez a mais importante - verdadeiramente histórica. Fundamentalmente, o progresso mais significativo para ambas as partes é que os EUA reconheçam a China como um parceiro igual para debater assuntos”, disse Li à Bloomberg. Exemplo desse papel de maior relevância diplomática em que Pequim aposta como líder global, sem ter recebido oposição de Trump, está na divulgação de um artigo do chefe de gabinete de Xi Jinping, Cai Qi, sobre a “gestão proativa do espaço internacional” após a cimeira, nota o economista.