“Nem negação nem catastrofismo”. Macron sai em defesa do governo
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“Nem negação nem catastrofismo”. Macron sai em defesa do governo

Presidente francês está a ser pressionado pela oposição para convocar novas legislativas... e também para se demitir.
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Naquele que pode bem ser o último Conselho de Ministros do governo de François Bayrou, que no dia 8 de setembro se sujeita a um voto de confiança, o presidente Emmanuel Macron manifestou “apoio total” ao seu primeiro-ministro. “É um voto de lucidez e responsabilidade. (...) Não devemos cair na negação nem no catastrofismo”, garantiu o presidente.

Finda a reunião, a porta-voz do governo, Sophie Primas, explicou aos jornalistas que Macron lembrou como “entre 2017 e 2019 conseguimos endireitar as contas públicas enquanto criávamos empregos e baixávamos impostos. O desafio pode ser superado”. “Trata-se de uma votação sobre a constatação e os princípios, não sobre o orçamento, e isso abre caminho para negociações”, insistiu o chefe de Estado francês.

Os ministros - alguns dos quais terão sido surpreendidos pelo anúncio de Bayrou na segunda-feira - estarão, segundo Primas, “num estado de espírito combativo”. A porta-voz lembrou que o executivo se guia por princípios que passam por “produzir mais” e “gastar melhor”. E que a votação de dia 8 é “sobre a constatação e os princípios, não é sobre o orçamento”.

Mas é a proposta de orçamento de Bayrou que está na origem desta nova crise. Na segunda-feira, o primeiro-ministro voltou a alertar para o “risco de sobreendividamento” que pesa sobre França. Segundo ele, a urgência é evidente, uma vez que a dívida francesa ultrapassou os 3, 35 biliões de euros no final do ano de 2024 e que “o peso da dívida se tornará, este ano, o maior orçamento da nação”. Bayrou tem sido confrontado com forte resistência ao seu projeto de Orçamento para 2026, que prevê cortes de mais de 43 mil milhões de euros, incluindo quatro mil milhões que devem ser economizados com a extinção de dois feriados nacionais.

A partir de segunda-feira, Bayrou vai receber em Matignon os líderes dos partidos para discutir o estado das finanças públicas e a necessidade de endireitar as contas. Uma semana antes da votação da moção de confiança, cada partido poderá enviar a delegação que bem entender.

Ontem também se ficou a saber que os deputados do Horizons, o partido de Édouard Philippe, irão votar a favor da moção de confiança. Mas o antigo primeiro-ministro - e visto como provável candidato às presidenciais de 2027 a que Macron está impedido de se apresentar por ter chegado ao limite de dois mandatos - mostrou-se bastante cético em relação ao resultado da votação e ao futuro do governo minoritário de Bayrou. “A aritmética não está com ele”, admitiu à BFMTV, afirmando que “a dissolução [da Assembleia Nacional], se a confiança não for votada, pode ser inevitável”. E sublinhando a “grande responsabilidade dos parlamentares”, considerou que se o governo cair “a instabilidade política somar-se-á ao risco financeiro”.

Apesar do sentido de voto do Horizons, as contas parecem pouco favoráveis a Bayrou, com o Reagrupamento Nacional (RN, ex-Frente Nacional, de extrema-direita), a França Insubmissa (extrema-esquerda), o Partido Socialista e os Ecologistas a terem todos anunciado que vão votar contra a moção de confiança. Juntos têm um total de 315 deputados, quando a maioria é de 288.

Na oposição, vêm-se repetindo desde segunda-feira os apelos a novas eleições. Sobretudo por parte do RN, com o líder, Jordan Bardella, e a líder parlamentar, Marine Le Pen, a exigirem um regresso dos franceses às urnas, onde acreditam que estes lhes darão agora a vitória clara que lhes escapou nas legislativas antecipadas do ano passado. Esse escrutínio foi convocado por Macron precisamente na sequência da vitória da extrema-direita nas europeias de junho de 2024, mas acabou por mostrar uma França dividida em três grandes blocos: extrema-esquerda, extrema-direita e um centro (mais ou menos) fiel ao presidente.

Outro cenário que não desagradaria à extrema-direita - e também à extrema-esquerda liderada pela França Insubmissa e o seu líder de facto Jean-Luc Mélenchon - seria uma demissão de Macron e antecipação das presidenciais . Até agora, o presidente tem rejeitado essa opção, mas já nos habituou no passado a surpresas.

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