A Torre Eiffel fica no seu limite noroeste, mas o 7.º arrondissement de Paris, um dos mais prestigiados da capital, abriga ainda o hotel Matignon, residência do primeiro-ministro, a Assembleia Nacional, a sede da UNESCO ou o Hotel des Invalides. Este bairro parisiense faz parte da segunda circunscrição de Paris, palco até outubro de umas eleições antecipadas parciais. E é também a coutada de Rachida Dati, sua autarca desde 2008 e agora candidata a este escrutínio. Nada de surpreendente, não fosse o facto de o seu próprio partido, Os Republicanos (LR, direita tradicional), ter nomeado um outro candidato ao lugar: o ex-negociador do Brexit pela União Europeia e primeiro-ministro fugaz Michel Barnier.Na segunda-feira, uma reunião da comissão nacional de investidura do LR decretou que Barnier, de 74 anos, seria o seu candidato à segunda circunscrição de Paris. Uma decisão que ignorou as ambições de Dati, com a ministra da Cultura de Emmanuel Macron, e ex-ministra da Justiça, de Nicolas Sarkozy, a garantir ao Le Parisien que será candidata “aconteça o que acontecer”. Na mesma entrevista, a também antiga eurodeputada, de 59 anos, denunciava a forma como o partido “lançou de paraquedas” a candidatura de Barnier - uma manobra que atribui àqueles “que querem impedi-me de ganhar as municipais”. Previstas para março, as municipais são a oportunidade para Dati vingar a derrota de 2020 face à socialista Anne Hidalgo. E garante quem a conhece que a ministra - expulsa de Os Republicanos em janeiro de 2024 após ser nomeada ministra da Cultura pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, mas reintegrada pouco mais de um ano depois - irá “fazer a vida negra” ao rival, como garante um colaborador próximo de Dati, citado pela Radio France.Mas a própria Dati tem outras preocupações pela frente, a começar pelos problemas judiciais que enfrenta. Acusada de ter recebido cerca de 900 mil euros entre 2010 e 2012, quando ocupava o cargo de eurodeputada, Dati tem de responder em tribunal por corrupção. A ministra é suspeita de atuado como lobista em favor do grupo Renault-Nissan, então comandado pelo empresário franco-libanês Carlos Ghosn, prática proibida para parlamentares da União Europeia.As eleições na segunda circunscrição de Paris foram antecipadas devido à saída do deputado Jean Laussucq, afastado do cargo depois de o Conselho Constitucional ter invalidado as suas contas de campanha para as legislativas de 2024, tendo detetado despesas irregulares. Mas o que levou Barnier a avançar? Depois de uma experiência falhada à frente do executivo - entre 5 de setembro e 13 de dezembro de 2024, fazendo dele o primeiro-ministro mais efémero da V República -, Barnier espera agora regressar à Assembleia Nacional, mas com os olhos postos nas presidenciais de 2027. “A situação é muito grave. Este é um momento de compromisso e de responsabilidade. Todos têm de estar a bordo”, afirmou ao Le Figaro. Não podemos ficar de braços cruzados. Nas tempestades, é preciso estar presente. Quero estar no convés, não no porão.”Mas para isso terá de ultrapassar o embate com Dati, cujos apoiantes não lhe têm poupado críticas. “Foi um primeiro-ministro de curta duração, talvez injustamente demitido. Mas, até agora, não tinha mostrado grande interesse pelos parisienses nem pelas questões de Paris”, atacou David Alphand, deputado parisiense do LR, próximo de Rachida Dati, citado pelo 20 Minutes.“Avanço porque os parisienses têm de compreender que esta eleição não pode ser apenas sobre as ambições presidenciais de Michel Barnier. É uma falta de respeito por todos”, explicou a autarca do 7º arrondissement. Na sua declaração de candidatura, Dati diz acreditar que “pela primeira vez desde 2001, a direita e o centro podem ganhar Paris” e garante que é agora candidata à legislativa porque “a menos de seis meses das municipais, esta eleição lançará necessariamente a campanha” às municipais. Se vencer, terá de deixar a Assembleia, uma vez que desde 2014 a lei francesa já não permite acumular o cargo de deputado e de presidente de Câmara.Uma sondagem Elabe para a BFMTV e Tribune du Dimanche, publicada no final de junho, dava a Dati entre 28% e 34% das intenções de voto, dependendo dos cenários, garantindo o primeiro lugar face a uma esquerda fortemente dividida.