O candidato presidencial Venâncio Mondlane já está em Moçambique depois de mais de dois meses no exílio. "Não posso estar protegido quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, dos meus valores está a ser massacrado", declarou esta quinta-feira à chegada a Maputo."Independentemente de todos os riscos associados, eu quero estar aqui, quero fazer a luta neste país e vou até às últimas consequências para continuar a lutar por este país", assegurou no aeroporto de Maputo, durante uma conferência de imprensa. Afirmou que o regresso a Moçambique tem como objetivo "quebrar a narrativa de que o diálogo não tinha a participação de Venâncio, porque estava fora do país". "Tinha que quebrar essa narrativa de que estou ausente por vontade própria das iniciativas de diálogo", disse."Estou aqui presente, em carne e osso, para dizer que se se querem negociar, dialogar comigo, se quiserem ir à mesa das conversações eu estou aqui", afirmou Mondlane, referindo que o seu regresso a Moçambique é uma "decisão unilateral", que não resulta "de nenhum acordo político". "Estou aqui em Moçambique porque apercebo-me de que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso. As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, as pessoas estão a ser executadas extra-judicialmente nas matas, estão a ser descobertas as valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane", denunciou o líder da oposição.Venâncio Mondlane disse que regressa ao país também para mostrar que está "disponível" para responder à justiça. "Para defender-me perante a justiça e provar quais são os verdadeiros responsáveis dos crimes hediondos que aconteceram até hoje", referiu.O líder da oposição de Moçambique garantiu que não vai fazer parte de nenhum executivo que resulte das eleições de 9 de outubro. "Não estou disposto a aceitar resultados eleitorais se forem os mesmos anunciados até este momento. A única função que estou a disponível a assumir é a de defender este povo, é de lutar por este povo, lutar pela verdade, pela justiça. Eu não fiz esta luta toda para ser chefe, para ter benefícios", garantiu. Mondlane deixou o aeroporto, sob um forte dispositivo de segurança, em direção ao centro da capital moçambicana e a comitiva está a ser acompanhada por centenas de pessoas a pé. Mais tarde, quando o candidato presidencial falava para os apoiantes, na zona do Mercado Estrela, no centro de Maputo, em que simbolicamente voltou a prestar juramento do que autointitulou tomada de posse, ocorreu uma carga policial que provocou a fuga generalizada. A polícia dispersou a multidão com tiros e gás lacrimogéneo."Quando chegámos aqui a polícia veio com rajadas. Mataram um, dois, três. A bala está aqui", afirmou um dos apoiantes, Nélson Fumo, revoltado, ainda no Estrela.Seguiram-se momentos de caos, com rajadas de tiro e novos lançamentos de gás lacrimogéneo, depois de um cortejo com milhares de pessoas a acompanharem o carro de Venâncio Mondlane do aeroporto até ao centro de Maputo."Que nos matem todos, menos o nosso presidente", afirmou Nélson Abrenjare, outro apoiante, logo após a carga policial, acrescentando o objetivo: "Para repormos a verdadeira liberdade, isto não tem nada a ver com liberdade".Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.*Com Lusa.As incógnitas do regresso anunciado a Moçambique de Venâncio Mondlane