Merkel defende ligação à Rússia. Alemanha prepara lista de bunkers
Foi demasiado branda com a Rússia? Demasiado lenta em ajudar a Ucrânia? Se não tivesse bloqueado a entrada de Kiev na NATO em 2008, teria evitado a guerra? Confrontada com estas questões durante uma entrevista à BBC, Angela Merkel defendeu o seu legado. A ex-chanceler alemã garantiu que o acordo sobre o gás que fez com a Rússia pretendia ser benéfico para as empresas alemãs e ajudou a manter a paz com Moscovo. A mulher que esteve à frente do governo da maior economia europeia durante 16 anos (até 2021) insistiu que se não tivesse travado a adesão da Ucrânia à Aliança, a guerra ainda teria começado mais cedo.
No poder num período conturbado, que incluiu a crise financeira, a crise dos refugiados e a covid, Merkel garantiu que “teríamos tido um conflito militar ainda mais cedo. Era claríssimo para mim que o presidente [Vladimir] Putin não teria ficado de braços cruzados a assistir à adesão da Ucrânia à NATO.” E acrescentou que em 2008, “a Ucrânia como país não estaria tão bem preparada como estava em fevereiro de 2022”, quando se deu a invasão russa.
Numa rara entrevista desde que deixou o poder, Merkel, que lança hoje o seu livro de memórias Liberdade, confessou-se preocupação com as ameaças de Putin sobre o eventual recurso a armas nucleares, lembrando que a Rússia tem o maior arsenal nuclear, maior mesmo do que o dos Estados Unidos.
Com a invasão russa da Ucrânia a ocorrer apenas uns meses depois de ela ter saído do poder, Merkel insiste ter procurado evitar um ataque russo através da diplomacia e das negociações. Apesar de admitir que estes não surtiram o efeito desejado.
Entretanto o Ministério do Interior alemão está a preparar uma lista de bunkers que poderão servir de abrigo para os civis em caso de ataque, segundo noticiou o The Guardian. Num altura em que a tensão com a Rússia subiu, depois de vários países, incluindo os EUA, terem autorizado Kiev a usar os seus mísseis contra território russo e de Moscovo ter revisto a sua doutrina nuclear para a tornar mais fácil de acionar, a lista de abrigos, que inclui estações de comboios e parques de estacionamento subterrâneos, bem como edifícios do Estado e algumas propriedades privadas, será disponibilizada através de uma aplicação que pode ser descarregada para o telemóvel . A data para o seu lançamento ainda não foi revelada.