A NATO avisou esta terça-feira, 23 de setembro, a Rússia que usará “todos os instrumentos militares e não militares necessários para nos defender e dissuadir todas as ameaças provenientes de todas as direções”, garantindo que “o nosso compromisso com o Artigo 5 é inabalável”. Ao mesmo tempo, condenou Moscovo por violar o espaço aéreo da Estónia num “padrão mais vasto de comportamento cada vez mais irresponsável”.Estas declarações foram feitas pela Aliança após uma reunião do Conselho do Atlântico Norte convocada após a Estónia ter invocado o artigo 4.º do tratado da NATO, depois de, na sexta-feira, três caças russos MiG-31 terem violado o seu espaço aéreo durante 12 minutos antes de serem escoltados por caças italianos. Este incidente foi antecedido por casos de violação do espaço aéreo da Polónia e da Roménia, todos países da Aliança. “A Rússia tem total responsabilidade por estas ações, que são escalonadas, arriscam erros de cálculo e colocam vidas em risco. Elas precisam de parar”, referiram os 32 países da Aliança no mesmo comunicado.Falando depois da reunião, o secretário-geral da NATO lembrou que “somos uma aliança defensiva, sim, mas não somos ingénuos. Por isso, vemos o que está a acontecer”, numa referência às invasões do espaço aéreo da Aliança. “Se não for intencional, então é flagrantemente incompetente. E, claro, mesmo que seja incompetência, ainda temos de nos defender.” Nesse sentido, Mark Rutte deixou um aviso: “A nossa mensagem aos russos é clara: defenderemos cada centímetro do território aliado. Garantiremos que poderemos sempre defender e dissuadir quando necessário”.O neerlandês abordou também o incidente com três grandes drones que afetou o aeroporto de Copenhaga na noite de segunda-feira, dizendo que tinha falado com a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, mas recusou-se a avançar se este tinha ligação à Rússia. “Os dinamarqueses estão, neste momento, a avaliar exatamente o que aconteceu para terem a certeza do que está por trás”, referiu, acrescentando que “estamos em contacto muito próximo sobre isso, por isso é muito cedo para dizer”. Questionado novamente sobre o tema, Rutte afirmou que a NATO demonstrou em incidentes anteriores que “agirá de forma decisiva e rápida”, sublinhando que “os russos sabem que, se for necessário, não hesitaremos”.O tráfego aéreo do aeroporto de Copenhaga foi suspenso na noite de segunda-feira durante cerca de quatro horas após o avistamento de três drones de grande porte. As autoridades na Noruega também fecharam o espaço aéreo do aeroporto de Oslo por três horas depois de ter sido avistado um drone.Classificando o incidente como “o ataque mais grave à infraestrutura crítica dinamarquesa até à data” e não apontando diretamente a responsabilidade a Moscovo, a líder dinamarquesa afirmou esta terça-feira que “obviamente, não estamos a descartar qualquer possibilidade em relação a quem está por trás disto. E é claro que isto se enquadra nos desenvolvimentos que observámos recentemente com outros ataques de drones, violações do espaço aéreo e ataques de hackers a aeroportos europeus”. “Certamente não posso negar de forma alguma que seja a Rússia”, concluiu Frederiksen.A presidente da Comissão Europeia, por seu turno, frisou que “a nossa infraestrutura crítica está em risco. E a Europa responderá a esta ameaça com força e determinação”. Numa mensagem publicada no X, Ursula von der Leyen, não se referiu diretamente à Rússia, mas deixou claro que “embora os factos ainda estejam a ser apurados, é evidente que estamos a assistir a um padrão de contestação persistente nas nossas fronteiras”. Mais direta, a porta-voz da política externa da UE, Anitta Hipper, afirmou que os incidentes registados na Dinamarca e na Noruega se enquadram num padrão de ações russas “imprudentes”. “Ainda precisamos de esperar pelo resultado final da investigação, por isso não vamos prejulgar isto, mas quando colocamos as coisas em contexto, sem prejulgar os resultados desta investigação das autoridades, vimos um padrão claro quando se trata de lançar drones a violar o nosso espaço aéreo, e isso aponta para a Rússia”, declarou Hipper.Já o porta-voz da União Europeia para a defesa, Thomas Regnier, anunciou que a Dinamarca vai reunir-se na sexta-feira com o comissário europeu da Defesa, Andrius Kubilius, para discutir o “muro de drones” do bloco dos 27. Um encontro que contará com a participação de representantes de Bulgária, Estónia, Finlândia, Letónia, Lituânia, Polónia e Roménia.A Rússia negou qualquer ligação aos voos de drones que afetaram o aeroporto de Copenhaga, recusando a suspeita levantada por Frederiksen. “Ouvimos acusações infundadas de lá o tempo todo. Talvez um partido que assume uma posição séria e responsável não devesse fazer tais acusações infundadas repetidamente”, disse esta terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.Do lado da Noruega - que pertence à NATO, mas não à União Europeia - o primeiro-ministro Jonas Gahr Støre declarou, após falar com Frederiksen, que poderia haver uma ligação entre os incidentes com drones em ambos os países, sem oferecer mais informações. Mas revelou que a Rússia violou o espaço aéreo norueguês três vezes este ano. “Os incidentes na Noruega são de menor âmbito do que as violações contra a Estónia, a Polónia e a Roménia, tanto em termos de localização como de duração. No entanto, são incidentes que consideramos muito graves”, disse o governante, acrescentando que dois incidentes ocorreram sobre o mar a nordeste de Vardø em abril e agosto, e o terceiro sobre uma área desabitada ao longo da fronteira terrestre em Øst-Finnmark em julho.Støre explicou também que estas violações do espaço aéreo norueguês envolveram caças SU-24, SU-33 e aeronaves L410 Turbolet e duraram entre um e quatro minutos, não tendo sido possível determinar se foram ou não deliberadas. “Independentemente do motivo, isto não é aceitável e deixámos isso claro às autoridades russas”, garantiu o chefe do governo da Noruega. .NATO reforça presença no flanco leste após incidente com drones russos na Polónia.Ações do Kremlin podem levar a “um confronto armado entre a NATO e a Rússia”