Nicolas Sarkozy, de 69 anos, pode ser condenado até dez anos de prisão.
Nicolas Sarkozy, de 69 anos, pode ser condenado até dez anos de prisão.EPA/YOAN VALAT

Ligações com Kadhafi levam Sarkozy a julgamento

De pulseira eletrónica no tornozelo, o ex-presidente volta nesta segunda-feira ao banco dos réus, desta vez acusado por financiamento ilícito.
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Condenado por duas vezes noutros casos, o ex-presidente Nicolas Sarkozy enfrenta um terceiro julgamento por alegado financiamento ilegal de campanha eleitoral com fundos do ditador Muammar Kadhafi.

Após mais de dez anos de investigações judiciais e revelações da imprensa, sobretudo do site de investigações jornalísticas Mediapart, o antigo chefe de Estado francês está a ser julgado por “corrupção passiva, conspiração criminosa, financiamento ilegal de uma campanha eleitoral e ocultação de desvio de fundos públicos líbios”.

Condenado em definitivo por corrupção e tráfico de influências há pouco mais de duas semanas, Sarkozy prossegue o seu calvário na justiça.

Depois de em 18 de dezembro, o Supremo Tribunal de Justiça ter rejeitado o seu recurso em relação a uma sentença de um ano de prisão por tráfico de influências, que deverá cumprir com o recurso a uma pulseira eletrónica, e não na prisão, Sarkozy regressa ao banco dos réus do tribunal de Paris. O processo alega que Sarkozy aceitou financiamento ilegal no valor de cerca de 50 milhões de euros por parte de Kadhafi para o ajudar na campanha eleitoral de 2007, que acabaria por vencer.

Em troca, o alegado pacto de Sarkozy e de outras personalidades com Kadhafi envolvia a sua reabilitação internacional. Kadhafi era visto como um terrorista, depois de o seu regime ter sido responsabilizado pelos ataques bombistas ao voo 103 da Pan Am, em 1988, sobre Lockerbie, na Escócia, e ao voo 772 da UTA, em 1989. Centenas de passageiros morreram nos atentados.

Para a acusação, o pacto começou em 2005, quando Kadhafi e Sarkozy, então ministro do Interior, se encontraram em Tripoli para uma reunião alegadamente dedicada à luta contra a migração ilegal. A defesa de Sarkozy, contudo, afirma que nunca foi encontrado qualquer vestígio de financiamento ilegal.

O escândalo rebentou em abril de 2012, durante a campanha para a reeleição de Sarkozy - eleição que acabaria por perder para François Hollande -, quando o site Mediapart publicou um artigo baseado num documento de dezembro de 2006, com um antigo funcionário líbio a mencionar um acordo sobre o financiamento da campanha. Desde então que Sarkozy afirma que o documento em causa não é genuíno. Além disso, Sarkozy esteve na primeira linha de ação militar contra Kadhafi, em 2011, pelo que o ex-presidente diz que as alegações de ex-membros do círculo de Kadhafi são motivadas por vingança.

Sarkozy pode ser condenado até 10 anos de prisão num julgamento que deverá estar concluído até 10 de abril. Entre os 12 arguidos contam-se três antigos ministros (Brice Hortefeux, Claude Guéant e Eric Woerth) e dois intermediários líbios.

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