A entrada de 19 drones russos em espaço aéreo polaco abriu debate entre especialistas e responsáveis políticos portugueses, ouvidos pelo DN. As posições convergem na ideia de que o incidente com drones russos em espaço aéreo polaco representa uma violação grave que não pode ser ignorada. Divergem, contudo, na interpretação das causas - entre a intencionalidade e efeitos de guerra eletrónica - e na forma de reagir: para uns, é necessário um reforço imediato da postura militar da NATO; para outros, o essencial é calibrar a resposta sem precipitar uma escalada, assegurando simultaneamente a solidariedade entre aliados.O presidente da Assembleia Parlamentar da NATO, Marcos Perestrello, sublinhou a gravidade da situação. Numa declaração publicada na sua página de LinkedIn, escreveu que “as violações do espaço aéreo polaco por drones da Rússia são um lembrete crítico da ameaça russa à segurança dos Aliados”. . Destacou a resposta “rápida, decisiva e bem-sucedida” da NATO, mas defendeu que os Aliados e a OTAN devem reforçar-se”. Entre as prioridades, apontou o cumprimento dos compromissos de Haia sobre investimento em defesa, a melhoria da postura de dissuasão no flanco leste e o apoio inabalável à Ucrânia, aumentando simultaneamente a pressão sobre Moscovo.Já o eurodeputado Hélder Sousa Silva (PSD), membro da subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, entende que não foi uma ação deliberada, mas um erro de percurso no quadro dos ataques massivos contra a Ucrânia. “Ainda assim, não podemos relativizar. Repudiamos esta violação, que não é a primeira, e exigimos uma reprimenda firme a Moscovo.” .Para o eurodeputado, o incidente demonstra “que a vulnerabilidade é real” e confirma a urgência de preparar a Europa, reforçando as defesas comuns e a cooperação entre NATO e União Europeia, tal como defendeu Ursula von der Leyen no discurso sobre o Estado da União.O professor Francisco Proença Garcia, diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e professor de Estratégia , afasta a hipótese de acidente. “Um drone entrar é engano, 19 é intencional”, sustenta. .Para o especialista, trata-se de um “teste à capacidade de defesa e reação, para saber como estão os sistemas, como é a reação, os meios envolvidos, que países reagem e como, saber o que a NATO faz quando é posta à prova ou se é só bluff”.Para o general Marco Serronha, antigo comandante do Comando Conjunto de Operações Militares, o incidente insere-se numa estratégia russa já testada nos últimos meses..Recorda que Moscovo vinha a experimentar drones equipados com cartões SIM da Polónia e da Lituânia, de modo a não serem detetados no espaço aéreo. “Hoje é um drone, amanhã será um míssil”, alertou. Serronha considera que “a única reação eficaz é o pré-posicionamento de dispositivos mais avançados”, incluindo sistemas de defesa aérea robustos nos países da linha da frente, como a Polónia e a Lituânia.O general Agostinho Costa, especialista em geopolítica e segurança internacional, apresenta outra hipótese. Na sua leitura, a entrada dos drones pode resultar de efeitos de guerra eletrónica ucraniana, que teriam desviado os aparelhos. . Atribui 30% de probabilidade a uma ação intencional de Moscovo e 70% à guerra eletrónica. Sublinha, contudo, que Moscovo “não tem interesse numa guerra com a NATO”, pois um confronto direto arriscaria “danos profundos e escalada nuclear”. Para Portugal, considera que a prioridade não passa pelo envio de tropas para a frente, mas por consolidar o papel nacional como “zona de comunicações”, assegurando rotas logísticas e infraestruturas estratégicas no Atlântico.Na mesma linha, o coronel Pereira da Silva, do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES, considera que “trata-se do episódio mais grave de uma série de intrusões recentes”, recorda.. “Se se tratou de um teste russo à coesão da NATO e da UE, não teve sucesso: a resposta foi rápida e eficaz”.Para Portugal, defende, o interesse nacional passa por manter o destacamento no Báltico e reforçar o flanco leste com uma presença na Polónia, “garantindo a defesa coletiva e os seus próprios interesses estratégicos”.."Guerra eletrónica da Ucrânia pode explicar drones russos na Polónia", defende o general Agostinho Costa.“Não foi um incidente ocasional. Hoje é um drone, amanhã será um míssil”