Esquerda fala em governo “mais à direita” desde 1958 e acena com moção de censura
O recém-nomeado governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, tem sido alvo de pressão dos mais variados quadrantes desde o seu primeiro dia, à medida que se multiplicam as ameaças de uma moção de censura na Assembleia Nacional.
A longa espera por um governo em plenas funções, depois de o presidente, Emmanuel Macron, ter convocado eleições gerais antecipadas, terminou na noite de sábado, após 11 semanas, com a nomeação de um gabinete marcando uma clara mudança para a direita.
Vários políticos da oposição de esquerda já disseram que desafiarão o governo de Barnier com uma moção de censura já no próximo mês, ao mesmo tempo que políticos de extrema-direita têm criticado a sua composição.
O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, classificou ontem este Executivo como sendo o governo “mais à direita da V República”, numa referência ao regime em vigor em França desde 1958, dizendo ainda que não lhe devia “ser confiada a gestão do país”.
Também o líder da força da esquerda radical França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, considerou que se trata de “um governo dos perdedores das eleições gerais”, dizendo que a França deveria “livrar-se” dele “o mais depressa possível”. Tanto o PSF como a LFI fazem parte da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que conquistou o maior número de deputados nas eleições de julho. No entanto, Macron recorreu a Barnier para liderar um governo com o apoio parlamentar dos seus aliados, conservadores e grupos centristas.
Faure confirmou ainda que os socialistas apresentarão a 1 de outubro uma moção de censura, que será um “texto provavelmente comum” da NFP, mas “defendido pelos socialistas”. Reconheceu que estará “provavelmente destinado ao fracasso” sem os votos da Reunião Nacional, de extrema-direita, que disse que esperará antes de tomar qualquer medida contra o governo. No entanto, o líder da RN, Jordan Bardella, também já afirmou que o novo governo “não tem futuro algum”.
O primeiro grande teste de Barnier será apresentar um Orçamento para 2025 que aborde a situação financeira da França, que ele chamou esta semana de “muito grave”.
ana.meireles@dn.pt