Horas depois de ser eleito para a liderança de Os Republicanos (LR, na sigla em francês), Bruno Retailleau confessava ontem de manhã que “nem nos meus sonhos mais loucos podia imaginar” bater o rival, Laurent Wauquiez por uma diferença tão grande. O atual ministro do Interior conseguiu 74% dos votos dos militantes do partido da direita tradicional, esmagando o líder parlamentar do LR. Um resultado que vem dar um balão de oxigénio ao governo do centrista François Bayrou, uma vez que, se Wauquiez era um defensor da rutura total com o macronismo, Retailleau é partidário da manutenção da aliança apoiada pelo presidente Emmanuel Macron.Mal foram conhecidos os resultados da corrida à liderança do LR, Bayrou apressou-se a dar os parabéns ao seu ministro, saudando uma vitória “magnífica”. Palavras que terão, com certeza, sido acompanhadas de um suspiro de alívio por parte do primeiro-ministro que vê assim garantida a sobrevivência do governo que junta o seu Modem, o Horizontes do antigo chefe do executivo Édouard Philippe e o Renascimento do presidente Macron. Uma saída do LR teria vindo fragilizar ainda mais o governo minoritário de Bayrou, no poder desde dezembro, levando quase inevitavelmente à sua queda. Um cenário que viria agravar ainda mais a instabilidade política em França, onde os dois últimos executivos duraram oito meses (o de Gabriel Attal) e três meses (o de Michel Barnier).Apesar de Retailleau ter sido felicitado pela sua vitória tanto por Macron como por Attal, agora líder do Renascimento, ou pelo ministro da Justiça, Gérald Darmanin, nos últimos dias o agora líder do LR esteve no centro da troca de acusações entre os membros da aliança de governo.Para o futuro, Retailleau quer deixar as divisões para trás. Em entrevista à rádio Europe 1, o líder do partido herdeiro do gaullismo prometeu unir a sua família política porque “os franceses querem uma direita de ação”. E aos que o acusaram de encarnar uma “direita afogada no macronismo”, Retailleau respondeu: “Continuo gaullista, não sou macronista.”Apesar de estarmos a dois anos da data prevista para as presidenciais em França, o novo líder do LR já começou a olhar para o futuro. Na mesma entrevista garantiu que, “se quisermos ganhar as presidenciais, vamos precisar de toda a gente”, admitindo haver lugar para Wauquiez no partido. E prometeu começar já a trabalhar num projeto de “rutura” que “defenda a França das pessoas honestas”.Quanto à sua própria candidatura à presidência, Retailleau não a desmentiu, pelo contrário. “Serei o primeiro arquiteto da nossa vitória em 2027”, garantiu, acrescentando: “Mas temos muito trabalho pela frente, e o mais difícil começa agora.”Convite de Ciotti para se juntar às direitasApesar da posição de Retailleau em relação a manter o LR no governo, tal não impediu que Éric Ciotti - o antigo líder do partido, que foi afastado por se ter aliado ao Reunião Nacional (RN), de extrema-direita, durante as legislativas do ano passado - de lhe lançar um desafio. “Apelo-lhe a que tenha coragem. Espero que me siga na união das direitas, única forma de restaurar a França para que não permaneça prisioneiro do macronismo moribundo que arruinou o país”, escreveu no X o fundador da UDR (União das Direitas), saudando o vencedor, “apesar das diferenças”..O escândalo com mais de 30 anos que ameaça o governo de Bayrou