Autoridades militares de Kiev dizem que, na altura do ataque, estavam 627 crianças no hospital.
Autoridades militares de Kiev dizem que, na altura do ataque, estavam 627 crianças no hospital.Roman PILIPEY / AFP

“Crime de guerra”. Rússia criticada na ONU por ataques na Ucrânia

Um dia depois de um hospital pediátrico em Kiev ter sido atingido, Modi aproveitou encontro com Putin no Kremlin para mostrar a sua preocupação com a morte de crianças.
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A Rússia foi criticada esta terça-feira numa reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas por conduzir “ataques sistémicos” às instalações médicas da Ucrânia, após uma onda de ataques mortais em todo o país. Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pelo menos 38 pessoas em toda a Ucrânia foram mortas, incluindo quatro crianças, e 190 ficaram feridas na onda de quase 40 mísseis que atingiu várias cidades na segunda-feira, danificando, entre outras infraestruturas, um hospital pediátrico em Kiev, o maior do país. O Ministério do Interior disse ter concluído esta terça-feira a busca por sobreviventes no hospital, acrescentando que duas pessoas morreram, 32 ficaram feridas e oito crianças foram hospitalizadas. “No momento do ataque, 627 crianças estavam no hospital”, acrescentaram as autoridades militares de Kiev.

“Dirigir ataques intencionalmente contra um hospital protegido é um crime de guerra e os perpetradores devem ser responsabilizados”, afirmou Joyce Msuya, subsecretária interina para assuntos humanitários da ONU, na reunião de emergência, sublinhando que “estes incidentes fazem parte de um padrão profundamente preocupante de ataques sistémicos que prejudicam os cuidados de saúde e outras infraestruturas civis em toda a Ucrânia”. As equipas de socorro encontraram crianças em tratamento oncológico deitadas em camas de hospital instaladas às pressas em parques e calçadas depois de terem sido retiradas das instalações, referiu Msuya.

De acordo com as autoridades ucranianas, o hospital pediátrico foi atingido por um míssil de cruzeiro russo com componentes produzidos em países membros da NATO. Na reunião de ontem, o enviado de Kiev à ONU, Sergiy Kyslytsya, referiu que Moscovo “alvejou deliberadamente talvez o grupo mais vulnerável e indefeso de qualquer sociedade”, mostrando aos membros do conselho o que ele disse ser uma prova de que um míssil de cruzeiro russo teve como alvo o hospital pediátrico. 

A representante dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield classificou os ataques como “arrepiantes”, dizendo ainda que o ataque de segunda-feira “deixa bem claro que Putin não está interessado na paz. Ele está empenhado em causar morte e destruição na prossecução da sua guerra de agressão”. Já a embaixadora britânica junto da ONU, Barbara Woodward, chamou os ataques da Rússia de “depravação cobarde”, enquanto o enviado francês, Nicolas de Riviere, declarou que “a Rússia atingiu deliberadamente em bairros residenciais e infraestruturas de saúde”.

A China, que há muito pede um acordo negociado entre a Rússia e a Ucrânia, defendeu que os dois lados deveriam “demonstrar vontade política, encontrar-se no meio do caminho e iniciar conversações de paz o mais cedo possível”, com o representante de Pequim, Fu Cong, a referir que irão continuar a “promover ativamente as conversações de paz”.

A Rússia - que ocupa atualmente a presidência rotativa do Conselho de Segurança - insistiu que os danos no hospital foram causados pelas defesas aéreas ucranianas, com o embaixador de Moscovo na ONU, Vasily Nebenzya, a classificar a questão dos ataques à Ucrânia como “um tema não muito gratificante”. “Se este tivesse sido um ataque russo, não teria sobrado nada do edifício e todas as crianças e a maioria dos adultos teriam sido mortos e não feridos”, afirmou Nebenzya, dizendo lamentar que “o Conselho tenha sido atraído para esta campanha de propaganda suja de Kiev”. Danielle Bell, líder da Missão de Monitorização dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, já tinha dito na segunda-feira haver uma “alta probabilidade” de que o hospital pediátrico em Kiev tenha sofrido “um impacto direto” de um míssil lançado pela Rússia.

O recado de Modi para Putin

Narendra Modi foi recebido em Moscovo por Vladimir Putin. Alexander NEMENOV / AFP

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse esta terça-feira ao presidente Vladimir Putin que “a guerra não pode resolver problemas”, apelando à paz na Ucrânia. 
“Quando crianças inocentes são assassinadas, quando as vemos morrer, o coração dói e essa dor é insuportável”, disse o líder indiano dirigindo-se ao presidente russo, na sua primeira visita ao Kremlin desde a invasão da Ucrânia. “Sei que a guerra não pode resolver problemas, as soluções e as negociações de paz não podem ter sucesso entre bombas, armas e balas”, acrescentou Modi, dizendo que “precisamos encontrar um caminho para a paz através do diálogo”.

Putin agradeceu a Modi pela “atenção que dá aos problemas mais urgentes”, dizendo que o primeiro-ministro indiano “está a tentar encontrar maneiras de resolver a crise ucraniana, é claro, principalmente por meios pacíficos”.

O presidente russo elogiou também a “amizade de longa data” entre os dois países, sublinhando que agora desfrutam de uma “parceria estratégica especialmente privilegiada” - a Rússia é um fornecedor vital de petróleo e armas a preços reduzidos para a Índia, mas o isolamento de Moscovo em relação ao Ocidente e os laços crescentes com Pequim tiveram impacto na sua parceria com Nova Deli. 

Modi tem vindo a tentar estabelecer laços de segurança mais estreitos com o Ocidente, enquanto as potências ocidentais também têm vindo a cultivar relações mais fortes com a Índia como uma proteção contra a China e a sua influência crescente na Ásia-Pacífico, ao mesmo tempo que pressionam Nova Deli a distanciar-se da Rússia. De tal forma que Modi, há menos de um mês, esteve em Itália para a cimeira do G7. 

ana.meireles@dn.pt

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