Ataques contra alvos terrestres e marítimos, operações antissubmarinos e exercícios para garantir a “superioridade aérea regional”. São estas as prioridades das manobras militares que a China lançou ontem em torno de Taiwan. Uns jogos de guerra que servem de “aviso sério” às forças independentistas da ilha que Pequim considera como uma província rebelde, não excluindo o uso da força para garantir a reunificação, e às “forças externas” que procurem interferir, alertaram as autoridades chinesas.Chamado Missão Justiça 2025, este exercício envolveu caças, bombardeiros e drones, em coordenação com artilharia de longo alcance, para simular ataques contra “alvos móveis em terra” em zonas centrais do Estreito de Taiwan, explicou o Comando do Teatro Oriental de Operações do Exército de Libertação Popular.O mesmo Comando, responsável pelas operações militares em torno da ilha, indicou que “o treino centrou-se na deteção e neutralização de alvos em águas e espaço aéreo, ataques simulados contra alvos terrestres e fogo real contra alvos marítimos”, referiu na rede social Weibo.Estes jogos de guerra surgem dias depois de os EUA terem anunciado a venda de armas a Taiwan no valor de 8,6 mil milhões de euros, provocando a ira da China, que retaliou impondo sanções contra 20 empresas americanas relacionadas com a defesa e dez executivos dessas empresas. Parte deste acordo deverá ser paga no âmbito de um orçamento especial de 40 mil milhões de dólares para a defesa, proposto pelo presidente taiwanês, Lai Ching-te, no final de novembro. O acordo - que prevê a construção do Taiwan Dome, um sistema de defesa aérea com capacidades de deteção e interceção de alto nível, tem enfrentado dificuldades para ser aprovado no Parlamento, controlado pela oposição.As últimas semanas também ficaram marcadas pela escalada de tensão entre China e Japão, depois de a nova primeira-ministra nipónica, Sanae Takaichi, ter admitido no Parlamento uma retaliação por parte das forças armadas do Japão em caso de um ataque chinês contra Taiwan. O Japão - que anexou Taiwan entre 1895 e 1945 - mantém relações com Taipé a um nível não oficial e alimenta uma ambiguidade estratégica, a exemplo dos EUA - embora, ao invés destes, não tenha qualquer acordo com Taiwan sobre assistência militar.Denunciando as “forças externas” que “utilizam Taiwan para conter a China”, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jean, acusou as autoridades do Partido Democrático Progressista (PDP), no poder em Taipé, de “persistirem obstinadamente” na sua posição pró-independência e de procurarem o apoio dos EUA “para alcançar a secessão”, investindo avultados recursos para transformar a ilha num “barril de pólvora”.“As forças externas que usam Taiwan para conter a China e que armam Taiwan apenas irão alimentar a arrogância do ‘independentismo taiwanês’ e empurrar o Estreito de Taiwan para uma situação de grave risco de guerra”, alertou o porta-voz, sublinhando que a questão de Taiwan é o “cerne dos interesses fundamentais da China”.Taipé denuncia “intimidação”O governo de Taiwan condenou os exercícios, acusando a China de “intimidação militar”, enquanto o seu Ministério da Defesa afirmou estar “em alerta total” e que “tomaria medidas concretas para defender os valores da democracia e da liberdade”. Taiwan, onde os nacionalistas de Chiang Kai-shek se refugiaram em 1949, depois da derrota na guerra civil chinesa frente aos comunistas de Mao Tse-tung, é governada autonomamente desde então, destacando-se atualmente como uma das democracias mais avançadas da Ásia.Pequim, no entanto, sempre considerou Taiwan como uma “parte inalienável” do seu território e tem intensificado, nos últimos anos, a pressão para alcançar a “reunificação nacional”, um objetivo central da estratégia de longo prazo do presidente Xi Jinping para alcançar o “rejuvenescimento” da nação chinesa.