Bruxelas vai rever relações comerciais com Israel
A União Europeia decidiu esta terça-feira rever as suas relações comerciais com Israel por Telavive estar a bloquear há mais de dois meses a entrada de comida e ajuda humanitária na Faixa de Gaza e pelos bombardeamentos no enclave, foi anunciado pela líder da diplomacia comunitária depois de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do bloco.
“Há uma maioria a favor de fazer uma revisão do artigo [sobre o respeito pelos direitos humanos] do nosso acordo de associação com Israel”, explicou Kaja Kallas, considerando que este é o momento de “avançar para esse exercício”, depois de os Países Baixos terem apresentado uma proposta nesse sentido na reunião. “O que isto diz é que os países veem que a situação em Gaza é insustentável, e o que nós queremos é realmente ajudar as pessoas, e o que nós queremos é desbloquear a ajuda humanitária para que ela chegue às pessoas”, prosseguiu.
“A ajuda que Israel permitiu é, obviamente, bem-vinda, mas é uma gota no oceano. A ajuda deve fluir imediatamente, sem obstruções e em grande escala, porque é disso que precisamos”, referiu ainda Kallas. Este acordo de associação, assinado em 2000, teve como objetivo estreitar os laços e promover o comércio entre o bloco dos 27 e Telavive.
Numa carta enviada a Kaja Kallas no início do mês, o líder da diplomacia neerlandesa, Caspar Veldkamp, questionava os esforços de Israel para distribuir ajuda humanitária aos palestinianos em Gaza, recordando que o desrespeito pelo direito internacional poderia violar o artigo 2.º do acordo de associação entre Bruxelas e Telavive.
Não é conhecida a lista de países que apoiaram esta decisão, mas Veldkamp havia explicado ao Politico que se 14 capitais apoiarem as pretensões neerlandesas “a Comissão tem de reagir, seja para realmente rever, seja para explicar à maioria porque é que não o está a fazer”. Soube-se agora que Bruxelas decidiu avançar com a revisão do acordo.
De recordar que há cerca de 15 meses, os líderes de Espanha e da Irlanda já tinham pedido à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para rever o acordo de associação com Israel, mas sem sucesso. “Desde então, a situação agravou-se incomensuravelmente, com consequências catastróficas para a população civil e um risco real de fome. Hoje, uma clara maioria dos Estados-membros concordou com a necessidade de enviar um sinal forte a Israel para inverter a situação, interromper as suas operações militares e suspender o bloqueio à ajuda humanitária”, afirmou esta terça-feira ao The Guardian o vice-primeiro-ministro irlandês, Simon Harris.
Esta decisão histórica de Bruxelas foi tomada no dia em que o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Lammy, anunciou no parlamento que Londres suspendeu as negociações comerciais com Israel devido ao bloqueio de Gaza.
“Não podemos ficar parados perante esta nova deterioração. É incompatível com os princípios que sustentam a nossa relação bilateral”, afirmou Lammy aos deputados. “Francamente, é uma afronta aos valores do povo britânico. Por isso, hoje, anuncio que suspendemos as negociações com o governo israelita sobre um novo acordo de comércio livre”.
Já sobre as licenças de exportação de armas para Israel, os media britânicos questionaram o gabinete do primeiro-ministro Keir Starmer sobre se o Reino Unido poderia proibir o envio de mais armas para Telavive. Penso que a nossa resposta de longa data a isto é que mantemos sempre estes acordos sob revisão”, respondeu Downing Street.