Armas biológicas. Rússia acusada de mentir e de convocar Conselho de Segurança para propaganda

Moscovo convocou o Conselho de Segurança da ONU sobre a alegação de que a Ucrânia possui dezenas de laboratórios biológicos experimentais perigosos para criar patógenos como a cólera, financiados pelo Governo norte-americano.
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A Rússia foi esta sexta-feira acusada por vários diplomatas de divulgar mentiras e desinformação acerca de alegados programas de armas biológicas na Ucrânia e de convocar o Conselho de Segurança da ONU para difundir propaganda favorável ao Kremlin.

Em causa está uma sessão extraordinária do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), convocada para hoje por Moscovo, sobre a alegação de que a Ucrânia possui dezenas de laboratórios biológicos experimentais perigosos para criar patógenos como a cólera, financiados pelo Governo norte-americano.

Na sua declaração na sessão extraordinária, o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, afirmou ter na sua posse documentos que mostram exemplos chocantes de estudos para criar bactérias letais a partir de aves e morcegos.

Contudo, o posicionamento de Nebenzya foi condenado por vários embaixadores presentes na reunião, que acusaram o homólogo russo de mentir e de usar o seu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU para espalhar desinformação e "alterar o propósito" do próprio Conselho de Segurança.

"A Rússia pediu esta reunião apenas com o intuito de divulgar falsas informações e enganar as pessoas para justificar a guerra de escolha do Presidente Putin contra a Ucrânia e o povo ucraniano. (...) É a Rússia que tem uma história bem documentada de usar armas químicas", indicou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield.

​​​​​​Também a embaixadora do Reino Unido da ONU, Barbara Woodward, condenou as acusações de Vasily Nebenzya, classificando-as como "sem sentido nenhum".

"A Rússia trouxe hoje ao Conselho de Segurança uma série de teorias de conspiração graves, completamente infundadas e irresponsáveis. Deixe-me dizer isto diplomaticamente: sem sentido nenhum. Não há um pingo de evidência confiável de que a Ucrânia tenha um programa de armas biológicas", avaliou a diplomata.

Barbara Woodward enumerou então o "grande conjunto de mentiras" que a Rússia tem alegadamente apresentado ao mundo nas últimas semanas.

"A Rússia disse que não invadiria a Ucrânia. Invadiram. O ministro das Relações Exteriores russo, Lavrov, disse que não invadiram, e ele repetiu esse absurdo ontem. Um grande conjunto de mentiras. Os russos disseram que a Ucrânia estava a preparar uma 'bomba suja'. Isso também era mentira. A Rússia disse ontem que uma mulher grávida encenou os seus ferimentos no atentado ao hospital Mariupol. Isso foi uma mentira grotesca", assinalou.

"A Rússia está hoje a afundar-se a novas profundidades, mas este Conselho não deve ser arrastado por ela. (...) Não nos sentamos nesta Câmara para ser uma audiência para a propaganda interna da Rússia. E não devemos permitir que a Rússia abuse do seu assento permanente para espalhar desinformação e mentiras e perverter o propósito do Conselho de Segurança", frisou a diplomata do Reino Unido.

O representante permanente da Albânia, o embaixador Ferit Hoxa, chamou as alegações russas de "guerra de informação" e observou que a Rússia já usou armas químicas contra os seus próprios cidadãos, como Alexei Navalny, o líder da oposição.

Já o representante permanente do Brasil na ONU, embaixador João Genésio de Almeida Filho, apelou a que as acusações sobre uso de armas biológicas feitas pela Rússia sejam "fundamentadas".

A guerra na Ucrânia entrou hoje no 16.º dia, sem que se conheça o número exato de baixas civis e militares.

A ONU contabilizou 564 mortos e 982 feridos civis, até quinta-feira, incluindo 41 crianças mortas e 52 feridas.

Também segundo dados da ONU, a guerra forçou 4,5 milhões de pessoas a fugir de casa, das quais 2,5 milhões procuraram refúgio nos países vizinhos, na pior crise do género na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão da Ucrânia foi condenada pela generalidade da comunidade internacional e levou à imposição de sanções à Rússia em praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

Notícia atualizada às 19:21

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