Chefe da diplomacia francês, Jean-Nöel Barrot, com o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, no encontro a 6 de abril, em Argel.
Chefe da diplomacia francês, Jean-Nöel Barrot, com o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, no encontro a 6 de abril, em Argel.DR/X/JNBarrot

Argélia expulsa 12 agentes da embaixada francesa e reata crise diplomática

Chefe da diplomacia de França foi a Argel a 6 de abril para “virar a página” na relação. Caso de rapto de opositor reacendeu tensão.
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Uma semana depois de o chefe da diplomacia francesa, Jean-Nöel Barrot, ter falado do “virar da página de tensões” e em “reconstruir uma parceria de iguais para iguais” entre França e Argélia, a crise diplomática entre os dois países tem um novo episódio. Os argelinos deram este domingo 48 horas para que 12 agentes da Embaixada de França na Argélia deixem o território, com Barrot a apelar a que a medida seja repensada sob ameaça de retaliação.

A crise diplomática tem a sua génese na decisão de Paris de apoiar o plano marroquino para o Saara Ocidental, sendo que a Argélia apoia a Frente Polisário e os rebeldes sarauís que querem a independência do território. E agravou-se em torno da detenção por parte de Argel do escritor franco-argelino Boualem Sansal, condenado a cinco anos de prisão no mês passado por “pôr em causa a união nacional”.

A visita de Barrot parecia significar que a página tinha sido virada, mas um novo episódio veio reagravar a tensão. Em causa está o influencer Amir Boukhours, conhecido como Amir DZ, opositor do regime argelino que tem mais de um milhão de seguidores no TikTok. A viver em França desde 2016, obteve asilo político em 2023. Argel acusa-o de fraude e crimes terroristas, tendo emitido nove mandados de captura internacionais. Em 2022 os tribunais franceses rejeitaram a sua extradição.

Em abril de 2024, Amir DZ, de 41 anos, foi sequestrado durante pouco mais de 24 horas, depois de ter sido levado de casa, em Val-de-Marne por alegados polícias. Os raptores acabaram por libertá-lo, mostrando-se “surpreendidos” ao descobrir a sua identidade e garantido que pensavam “que tinha desviado um camião de droga”, contou numa entrevista à France2 no fim de semana, falando de uma tentativa de intimidação da parte do regime.

Chefe da diplomacia francês, Jean-Nöel Barrot, com o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, no encontro a 6 de abril, em Argel.
TikTokers, a última arma da guerra diplomática entre Argélia e França

Na sexta-feira, cinco dias depois do aperto de mão em Argel entre Barrot e o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, que visava o “retomar da cooperação em todos os domínios”, a Justiça francesa deteve e acusou três cidadãos argelinos (um deles funcionário de um consulado) pelo rapto. Argel chamou o embaixador de França, Stephane Romatet, no sábado para “protestar vivamente” contra a detenção, considerando a decisão “inadmissível”.

Finalmente, na noite de domingo, a Argélia resolveu dar 48 horas para a saída dos 12 agentes da embaixada. Barrot qualificou como “injustificada” a resposta de Argel à situação e “pediu” ao governo argelino que “renuncie a estas medidas de expulsão sem ligação com o procedimento em curso”. Se isso não acontecer, avisou, a França “não terá outra escolha a não ser responder imediatamente”.

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