O Kremlin afirmou esta sexta-feira de manhã que o lançamento do seu novo míssil hipersónico demonstra que a Rússia pode responder às armas ocidentais de longo alcance e que está certa de que os Estados Unidos compreenderam a mensagem. Vladimir Putin, horas mais tarde, anunciou que Moscovo vai continuar a testar o Oreshnik e iniciará a produção em série do novo sistema. A Polónia, um dos principais defensores de Kiev, admite que “o conflito está a assumir proporções dramáticas”, enquanto a Ucrânia pediu uma reunião de emergência com a NATO, que se realizará na terça-feira. Mas a Aliança Atlântica já garantiu que a mais recente ação de Moscovo não vai alterar o nível de apoio dos aliados. .“O lado russo demonstrou claramente as suas capacidades”, disse esta sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sublinhando que as ações de apoio do Ocidente à Ucrânia, que classificou como insensatas, “não podem passar em branco na Rússia”..Peskov afirmou ainda estar certo de que os Estados Unidos, o maior apoiante de Kiev, compreenderam a mensagem do presidente Putin, que na quinta-feira anunciou o disparo de um novo tipo de míssil, o Oreshnik, contra a Ucrânia e ameaçou o Ocidente. .Num discurso transmitido pela televisão na quinta-feira, Putin avisou que os sistemas de defesa aérea dos EUA serão impotentes para deter o novo míssil, especificando que o Oreshnik voa a uma velocidade 10 vezes superior à do som e poderá ser usado para atacar qualquer aliado ucraniano cujos mísseis sejam usados contra território russo. .“Acreditamos que temos o direito de usar as nossas armas contra as instalações militares dos países que permitem usar as suas armas contra as nossas instalações”, disse Putin, na sua primeira declaração desde os dois ataques da Ucrânia contra território russo dos últimos dias com mísseis americanos ATACMS e britânicos Storm Shadow, armas com um alcance de cerca de 300 quilómetros. “A partir deste momento, como sublinhámos repetidamente, o conflito na Ucrânia, anteriormente provocado pelo Ocidente, adquiriu elementos de caráter global”, concluiu o líder russo. Esta sexta-feira, Putin acrescentou que “vamos continuar com estes testes, especialmente em situações de combate, dependendo da situação e da natureza das ameaças à segurança da Rússia”, sublinhando ser “necessário estabelecer a produção em série”..A Ucrânia - cujo Parlamento cancelou a sessão desta sexta-feira devido ao risco acrescido de um ataque russo - pediu uma reunião de emergência com a NATO, que terá lugar na terça-feira, tendo o líder da diplomacia de Kiev, Andrii Sybiga, dito esperar deste encontro decisões concretas contra Moscovo, acrescentando que irão levantar “a questão de como limitar a capacidade da Rússia para produzir este tipo de armas”..A Aliança Atlântica, através da sua porta-voz Farah Dakhlallah, garantiu esta sexta-feira à Lusa que a ação de Moscovo “não vai alterar as circunstâncias do conflito e também não vai dissuadir os países da NATO de apoiarem a Ucrânia”. Da parte dos aliados, países como a Polónia ou a Alemanha, o maior defensor de Kiev e o seu maior apoiante europeu em termos militares respetivamente, mostraram preocupação com o que significa para esta guerra a entrada em cena do Oreshnik. O primeiro-ministro Donald Tusk considerou que a guerra “está a assumir proporções dramáticas” e corre o risco de se tornar num conflito global. .Já o chanceler Olaf Scholz declarou que o disparo de um míssil balístico hipersónico pela Rússia constitui “uma terrível escalada” no conflito, e voltou a recomendar prudência no apoio militar a Kiev, argumento que tem usado para justificar o não fornecimento dos mísseis de longo alcance Taurus a Kiev. “Não queremos fornecer à Ucrânia mísseis de cruzeiro capazes de penetrar em território russo”, reiterou o alemão, sublinhando que “a prudência e o apoio claro à Ucrânia são indissociáveis”. .A Suécia, que aderiu à NATO este ano devido à invasão russa da Ucrânia, garantiu que vai continuar a apoiar Kiev sem se intimidar com as “provocações e ameaças” de Putin ao Ocidente. “As recentes escaladas e provocações russas são uma tentativa de nos assustar para que não apoiemos a Ucrânia, e vão falhar”, disse o ministro da Defesa sueco, Pal Jonson, em Estocolmo, tendo ao lado o homólogo ucraniano, Rustem Umerov. E anunciou que a Suécia vai financiar a compra de mísseis de longo alcance e drones para a Ucrânia, que disse ter o direito de se defender “dentro e fora do seu território”.