Alasca. A "Última Fronteira" que a América comprou ao czar por cinco cêntimos por hectare
Alejandro Peña / Alaska National Guard

Alasca. A "Última Fronteira" que a América comprou ao czar por cinco cêntimos por hectare

Em 1867, Alexandre II vendeu o Alasca aos EUA por 7,2 milhões de dólares. Hoje, o estado americano onde Trump e Putin se vão encontrar, é um ponto estratégico num Ártico em mudança.
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Alasca vem de Alakshak, que em língua aleúte significa "grande terra" ou "grande península". Mas o cognome oficial daquele que em 1959 se tornou no 49.º estado dos EUA, "A Última Fronteira", diz muito tanto sobre o quão é remoto o território que esta sexta-feira, 15 de agosto, vai receber o encontro entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, como sobre a importância estratégica que adquiriu, graças à sua posição no Ártico, na encruzilhada entre a Ásia e a América.

Habitado por povos indígenas, que ocuparam aquele território durante milhares de anos antes da chegada dos europeus, só perto do final do século XVIII os russos terão estabelecido a primeira colónia permanente no Alasca. Antes disso, em 1741, o explorador dinamarquês Vitus Bering, ao serviço do czar russo Pedro, O Grande, atravessou o estreito a que daria nome e chegou às ilhas Aleutas, na costa do Alasca, regressando com peles de lontra, o que despertou o interesse dos caçadores deste animal que começaram a viajar para aquela zona.

Nos anos seguintes, a Rússia foi reivindicando territórios no norte da Costa do Pacífico da América do Norte, estabelecendo o que ficou conhecido com a América Russa. Mas em 1867, confrontado com as dívidas deixadas pela Guerra da Crimeia, o czar Alexandre II aceita a oferta do secretário de Estado dos EUA, William Henry Seward, e vende o território do Alasca aos americanos por 7,2 milhões de dólares. Os que na altura denunciaram a "loucura de Seward" por insistir em adquirir um território na altura visto como desprovido de interesse, tiveram de engolir as suas palavras. Afinal, os cinco centavos que pagou por cada hectare do Alasca revelaram-se um excelente negócio quando nas décadas de 1880 e 1890 foram encontradas grandes reservas de ouro no território, atraindo milhares de pessoas para a região. Este afluxo de população obrigaram os EUA a desenvolver o território, construído estradas, caminhos de ferro e pontes e apostando nas ligações por ferry entre as comunidades mais isoladas e as cidades portuárias de maior dimensão.

Instalações militares e posição estratégica

Durante a II Guerra Mundial, a posição estratégica do Alasca levou os EUA a construírem várias instalações militares naquele território. Uma delas, logo em 1940, ainda antes de a América entrar no conflito, foi a base militar de Elmendorf-Richardson, perto de Anchorage, onde esta sexta-feira vai decorrer o encontro entre os presidentes dos EUA e da Rússia para debaterem uma solução para o fim do conflito na Ucrânia, iniciado com a invasão russa de 24 de janeiro de 2022.

Finda a II Guerra, a população do Alasca pressionou cada vez mais o governo federal para fazer do território um estado dos EUA. O que viria a acontecer em 1959, durante a presidência de Dwight Eisenhower.

No final da década seguinte, em 1968, a descoberta da maior reserva de petróleo do continente americano no extremo norte do Alasca veio dar novo peso ao estado, trazendo prosperidade económica e novo fluxo de população.

Hoje, o estado possui reservas estimadas em 3,4 mil milhões de barris de petróleo bruto e 125 biliões (os trillions americanos) de pés cúbicos de gás natural e está entre os principais estados produtores de petróleo dos EUA. Esses recursos são essenciais para a segurança energética da América, uma vez que o desenvolvimento do petróleo, gás e minerais críticos do Alasca reduz a dependência do exterior. O estado é também rico em zinco, chumbo e carvão.

Chamado "A Última Fronteira", o Alasca, situado a apenas 90 quilómetros da Rússia, mas com algumas ilhas no Estreito de Bering a ficarem a menos de cinco quilómetros de ilhas russas, foi de importância vital para os EUA durante a Guerra Fria. Chamado de "Cortina de Gelo" pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o Alasca não só acolhia importantes instalações da Força Aérea e do Exército dos EUA, que funcionavam como centros de comando, centros logísticos e bases para caças interceptadores em alerta rápido, mas também vários sistemas de controlo de tráfego aéreo e radares de alerta precoce.

Hoje, o Alasca acolhe estações do Sistema de Alerta do Norte, um sistema de radar conjunto dos EUA e do Canadá para a defesa aérea atmosférica da região. Este fornece vigilância do espaço aéreo contra possíveis incursões ou ataques vindos de toda a região polar da América do Norte.

Num mundo cada vez mais competitivo, o Alasca está na encruzilhada de um Ártico em rápida mudança. O Estreito de Bering é a única passagem marítima direta entre os oceanos Pacífico e Ártico e, à medida que o gelo recua devido às alterações climáticas, o valor dessa rota para o transporte marítimo global está a aumentar.

A Rota Marítima do Norte, ao longo da costa ártica da Rússia, está a tornar-se mais navegável, oferecendo um caminho mais curto entre a Ásia e a Europa, o que explica as discussões recentes sobre o valor estratégico da Gronelândia, que Trump tem insistido em querer anexar.

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