Idosos de lares esgotaram capacidade de internamento do hospital militar do Porto
Chegam de vários pontos do norte do país apelos desesperados de autarcas que pedem ajuda para tratar e internar idosos que estão em lares. As Forças Armadas têm estado na linha da frente no resgate destas pessoas mais vulneráveis, mas a sua capacidade de internamento esgotou-se neste domingo.
O polo do Porto do Hospital das Forças Armadas recebeu, provenientes de lares, 29 idosos de Vila Nova de Famalicão, 11 de Vila Real e mais 18, neste domingo, de Albergaria-a-Velha.
Estas quase seis dezenas "são o máximo dos máximos para internamentos nesta unidade, pois estes doentes não podem estar juntos com os outros internados. Neste momento, o polo do Porto do HFAR esgotou a sua capacidade. A partir daqui, só articulando com o SNS, uma vez que, para ativar outra infraestrutura, são precisos profissionais de saúde", adiantou ao DN uma alta patente militar que está a acompanhar estas operações.
"A partir de agora terão de ser os centros de saúde e os hospitais da rede pública e privada a direcionar estes casos dos lares", acrescenta ainda a mesma fonte.
Enquanto não terminarem as obras no antigo hospital militar de Belém, que, para já, só poderá receber doentes com covid-19 em situação menos grave, as infraestruturas militares deixam de poder receber mais doentes civis. O polo de Lisboa do HFAR está reservado militares e seus familiares, da GNR e da PSP, bem como para outros elementos das forças se segurança, como a PSP.
Nesta tarde, foi a vez de um lar de Albergaria-a-Velha, onde havia 32 infetados entre utentes e colaboradores. Dezoito deles foram transferidos para o hospital militar do Porto. Segundo o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), "todos estes idosos, acamados, em cadeiras de rodas e autónomos com mobilidade, foram transportados para o Hospital das Forças Armadas através de seis ambulâncias de diferentes municípios da região".
Apesar de ter esgotado, de momento, a sua capacidade de internamento nesta infraestrutura do Porto, as Forças Armadas, caso sejam solicitadas pelas autoridades de saúde, podem manter as operações para transferir idosos dos lares para outros hospitais. Este polo está ainda a receber 16 doentes civis, para realização de sessões de hemodiálise, em apoio ao hospital de Braga. Os militares fizeram descontaminação de um lar em Resende e de outro em Vila Real, tendo um novo pedido de um lar de Braga.
Segundo António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, morreram duas das pessoas infetadas que estavam no lar, uma idosa com 89 anos e outra com 90. Até sábado, o número de pessoas infetadas pelo novo coronavírus no concelho mais do que duplicou, passando de 22 para 49.
Segundo o relatório da Direção-Geral da Saúde divulgado neste domingo, das 119 mortes registadas, 97 foram de homens e de mulheres com mais de 70 anos - e, destas, 70 tinham mais de 80 anos.
O presidente da câmara sublinha que este aumento significativo é o resultado dos últimos testes realizados na quinta-feira aos utentes e colaboradores da casa geriátrica da Branca. O autarca criticou o poder central, considerando que "não tem estado capaz de responder às necessidades" e antevê que o número de mortos no lar possa aumentar nos próximos dias.
O presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão reclama a "urgência da criação de um laboratório para realização de testes" à covid-19 no concelho, onde considera não estar a ser assegurado o rastreio necessário, nomeadamente aos idosos.
Paulo Cunha diz que não está "a obter as respostas necessárias por parte das entidades de saúde". "As respostas das entidades de saúde locais remetem para a complexidade da operação e para a operacional ao nível do rastreio e do trabalho consequente que se impõe", refere, sustentando, contudo, que "a situação reclama uma intervenção urgente" e que "cada minuto é um minuto a mais".
O presidente da câmara recorda que, "ainda ontem [sábado], a situação no lar do Centro Social e Cultural de S. Pedro de Bairro estava em nove utentes positivos, dos 50 residentes, e para cinco resultados positivos entre os funcionários".
No passado dia 21, um outro lar de Famalicão ficou sem funcionários devido ao covid-19, depois de os 18 elementos que ali trabalham terem ficado "ou com teste positivo para coronavírus ou em quarentena", o que obrigou à transferência dos 31 utentes. Posteriormente, viria a confirmar-se a existência de um total de 32 infetados na Residência Pratinha, dos quais 22 são utentes e dez são funcionários.
Também neste domingo, a Câmara do Peso da Régua anunciou que vai realizar testes ao covid-19 a cerca de 300 idosos e funcionários dos lares do concelho, uma medida tomada depois de identificado um caso positivo numa destas instituições. Na sexta-feira, o presidente daquela autarquia, José Manuel Gonçalves, informou que um funcionário de um lar da aldeia de Sedielos testou positivo ao covid-19 e que todos os restantes 45 colaboradores e idosos desta instituição iriam ser testados.
O presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, disse hoje que "lamenta profundamente" a morte de uma idosa com covid-19 transferida do Lar de Nossa Senhora das Dores para uma unidade hospitalar. Trata-se de uma septuagenária que tinha outras patologias associadas.
Rui Santos, que falava à margem da abertura de um centro de rastreio ao covid-19, em Vila Real, referiu que é preciso continuar "neste combate, nesta guerra", e vencer, a cada dia que passa, "uma batalha ao covid-19".
No Lar de Nossa Senhora das Dores, localizado no centro da cidade, foram detetados 88 utentes e funcionários com covid-19, em 99 testes realizados pelo INEM, e na madrugada de sábado concretizou-se a evacuação da instituição particular de solidariedade social.
Foram transferidos 53 idosos com covid-19 para o Trofa Saúde Hospital, localizado em Vila Real, numa operação que teve início às 20.45 de sexta-feira e mobilizou 50 operacionais e 25 viaturas entre bombeiros, PSP, Cruz Vermelha Portuguesa, Exército e Proteção Civil.
Para o hospital militar do Porto já tinham sido levados 11 idosos na quarta-feira, encontrando-se mais quatro no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD).