Está tudo em jogo? Sim, está. A vida e a morte. A forma como nos protegemos e como o Estado nos protege e garante cuidados de saúde. A forma como está organizado o sistema político hoje e de que modo se está a fragilizar para o amanhã..O epidemiologista Manuel Carmo Gomes previu ontem que Portugal poderá registar 14 mil casos de covid no domingo e que rapidamente podemos atingir 200 mortos por dia - e ontem mesmo o país contabilizou 218 óbitos e 10 455 novos casos. Num país tão pequeno, e na análise por milhão de habitantes, estamos entre os piores a gerir a covid-19. O primeiro em infetados na União Europeia e o segundo em mortalidade. Factos são factos. Já não é uma questão de opinião, de dúvida ou de silêncio - muito menos num jornal..Factos são factos e levaram a Ordem dos Médicos a emitir um grito, em carta aberta. "Há muito que está ultrapassada a linha vermelha", avisam. No dia 7, o DN escreveu na primeira página "SNS perto da linha vermelha". Já o lembrei aqui nos últimos dias, mas nunca é de mais recordar os avisos dos médicos, enfermeiros e especialistas quando a situação piora de dia para dia..Os portugueses vivem com o coração nas mãos. Receosos pelos idosos, por si mesmos e agora pelos mais jovens. Dos 12 aos 24 anos soam os alarmes. A ideia de que os mais novos estavam a salvo há muito caiu por terra. Todos os dias nos chegam relatos de estudantes, sobretudo do ensino secundário e universitário, que testaram positivo e têm sintomas. Nenhuma faixa etária está a salvo..Por isso, confinar é determinante e, por muito que nos custe, nesta fase é preciso cumprir regras. Mas não calar. Não calar perante a fragilidade do país na gestão da pandemia. Não calar em termos de políticas públicas insuficientes ou medidas tardias. Não calar quanto à decisão de manter eleições em pleno pico da terceira vaga, que os médicos previam desde meados de dezembro..A pandemia tem impacto na vida de todos, mas também na saúde da democracia. E a democracia não pode ficar doente. Manter as eleições é fragilizar o sistema. Basta ler alguns fóruns online e redes sociais para ver os desabafos de alguns portugueses. Oiça-se o Fórum TSF, cujos ouvintes e convidados mostraram, ontem, forte preocupação e sensação de "impotência" perante o que está a acontecer. Leia-se a carta aberta da União dos Restaurantes do Minho a incitar a não ir votar..Também na rádio, no último debate com todos os candidatos, na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que "todos os cenários estão em cima da mesa", incluindo a realização de uma segunda volta nas presidenciais. Muitos apostam numa vitória à primeira volta, mas em face do estado da nação está tudo em jogo.