Basquetebol

Luka Doncic. O wonderkid esloveno que bate recordes na NBA

Tem 20 anos e joga nos Mavericks. Filho de um basquetebolista e de uma bailarina, começou a jogar com 8 anos em Ljubljana (Eslovémia). Com 13 anos mudou-se para o Real Madrid, onde se estreou pela equipa principal aos 16 anos. Foi a terceira escolha do draft da NBA em 2018 e já igualou e bateu recordes de lendas como Michael Jordan, LeBron James e Magic Johnson...
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"Doncic bate recorde de Michael Jordan." "Doncic supera números de LeBron." "Doncic iguala marca de Magic Johnson." Estes são alguns dos títulos de jornais que mostram como o wonderkid esloveno conquistou a NBA. Um ano e meio depois de se estrear, Luka Doncic tem marcas que fazem lembrar os melhores da história.

Para uns ele faz lembrar Harden (Houston Rockets), para outros ele tem o perfume de Larry Bird (a antiga estrela dos Boston Celtics). Seja como for, os famosos step-backs que já atormentavam os defesas europeus, quando ele jogava no Real Madrid, têm dado que falar no campeonato norte-americano de basquetebol ao serviço dos Mavericks. O fenómeno é de tal ordem que os produtores do siteThe Ringer fizeram uma versão da célebre música Hallelujah, de Leonard Cohen, para ele: HalleLuka.

Duplo campeão europeu e terceiro no draft

Aos 20 anos, Luka Doncic é uma promessa transformada em certeza. Depois de carregar o Real Madrid às costas rumo ao título da Euroliga, viu as porta da NBA abrirem-se para ele entrar em 2018. Mas não como era esperado. Quando todos apostavam que ele ia ser a primeira escolha do draft (onde são distribuídos pelas equipas da liga norte-americana os jogadores vindos das universidades ou de campeonatos exteriores), já que os Phoenix Suns era os primeiros a escolher e tinham acabado de contratar o sérvio Igor Kokoskov, o selecionador que levou a Eslovénia à conquista do título europeu de seleções, a equipa de Phoenix escolheu Deandre Ayton e deixou Doncic livre.

O prodígio esloveno com ar desajeitado e olhar ingénuo foi selecionado pelo Atlanta Hawks na terceira posição (5.º jogador estrangeiro da história a ser escolhido no top 3) e imediatamente trocado para o Dallas Mavericks, onde tem justificado a aposta e colocado em causa a competência dos Suns e dos Hawks nas escolhas do drafts. Para ter Doncic, a equipa do Texas teve de ceder aos Hawks a sua quinta escolha (Trae Young), assim como uma futura primeira escolha. Nada que o tenha afetado.

Com 2,01 metros, a sua grande especialidade é o arremesso de três pontos, aliada a uma grande visão de jogo. Habilidoso com a bola nas mãos, Doncic não é o principal criador de jogadas dos Mavericks por acaso. O jogador consegue manter a bola muito próxima ao corpo mesmo em situações de velocidade, quase nunca dando oportunidade a roubos adversários. A facilidade para mudar de velocidade e direção também contribui para seu arsenal ofensivo.

Usa o step-back para criar espaço para o arremesso num período de tempo muito curto, dificultando bastante o trabalho da defesa. O movimento é fluido, equilibrado e pausado. Tudo sem precipitações. O arremesso nunca acontece de forma apressada e esse é um dos seus grandes trunfos. Muito perigoso no arremesso e na infiltração (imprevisível), não é por acaso que Doncic é o segundo jogador da NBA em média de assistências, com 9.6 por partida. O floater (arremesso com uma mão) é seguro e muito difícil de ser bloqueado.

Capaz de jogar tanto como base como ala, o prodígio esloveno reúne assim características como criatividade ofensiva, QI basquetebolista acima da média, brilhante jogo de pick-and-roll e maturidade a jogar sob pressão. Ganhou destaque precisamente por aparecer nos minutos decisivos das partidas no meio dos veteranos de Dallas, onde teve o apoio de Dirk Nowitzki, o veterano alemão e melhor europeu de sempre na NBA. Aos poucos, aquele de quem todos esperavam ser uma versão moderna do lendário Drazen Petrovic, base jugoslavo que morreu há 25 anos, foi-se mostrando maior do que a lenda... tão grande como os grandes com a sua idade.

Os históricos triplos-duplos

A primeira grande atuação de Luka na NBA foi frente aos Minnesota Timberwolves. Anotou 26 pontos e seis ressaltos no duelo vencido pelo Mavericks. Desde então, foi somando pontos e boas exibições. Rapidamente se tornou o principal jogador da equipa. No primeiro grande teste - confronto contra o Houston Rockets, da estrela James Harden -, não falhou. Dallas tinha oito pontos de desvantagem para Houston e, com apenas três minutos para o fim do jogo, o esloveno anotou 11 pontos consecutivos, acertando três arremessos de três pontos que deram a vitórias aos Mavs.

E não tardou a bater recordes. Em março de 2019, igualou uma marca de Magic Johnson. Com 28 pontos, 12 assistências e 12 ressaltos no jogo com o Sacramento Kings, anotou o seu sétimo triplo-duplo - registo acumulado por um jogador, numa só partida, de marcas de dois dígitos em três de cinco categorias estatísticas (assistências, bloqueios de lançamento, pontos, ressaltos e roubos de bola) -, igualando a marca do lendário jogador do Lakers e tornando-se ainda o segundo rookie da história (atrás de Ben Simmons, com 12) a conseguir sete triplos-duplos.

Em novembro fez história nos Mavs. Fez 41 pontos num jogo e tornou-se o primeiro jogador da história de Dallas a registar um triplo-duplo com 40 pontos. Tornou-se ainda o segundo mais jovem de sempre (com 20 anos e 263 dias) a alcançar um triplo-duplo com mais de 40 pontos. Melhor só LeBron James, em 2005, com 20 anos e cem dias. O próprio LeBron James enalteceu o feito com uma declaração curiosa: "Ele é um malvado filho da p... Eu bem vos disse."

Doncic já tinha sido o primeiro adolescente a fazer um triplo-duplo de 30 pontos - o feito foi conseguido na derrota (123-120) com os Toronto Raptors -, superando um dos muitos ídolos. O novo menino-prodígio da NBA conseguiu o feito a pouco mais de um mês de completar 20 anos. LeBron James, por sua vez, tinha 20 anos e cem dias quando alcançou a marca, contra o Milwaukee Bucks.

Os feitos não se ficam por aqui. O esloveno foi apenas o quarto rookie na história da NBA a completar um triplo-duplo com pelo menos 35 pontos. Os outros foram Stephen Curry (2010), Jason Kidd (1995) e Michael Jordan (1985). Já em dezembro, na vitória do Dallas Mavericks sobre o New Orleans Pelicans (130-84), igualou a marca de Michael Jordan de 1989, de 18 jogos consecutivos na NBA com pelo menos 20 pontos, cinco ressaltos e cinco assistências. Marca a que juntou um outro recorde da competição, o de mais triplos-duplos antes dos 21 anos, num total de 15.

"Há muitas estatísticas, quase todos os dias bato um novo recorde, mas ainda tenho muito mais para fazer", desabafou o jovem, que atribui ao "trabalho" o segredo do seu sucesso.

Os números de Doncic apaixonam os amantes da modalidade. Ainda na madrugada de quinta-feira deslumbrou o mundo com um passe fabuloso, no triunfo frente ao Kings - um jogo em que fez 25 pontos, 15 ressaltos e 17 assistências (recorde pessoal), alcançando o 20.º triplo-duplo da carreira (o décimo segundo nesta temporada) em apenas 109 jogos na NBA. Os adeptos adoram o esloveno, que tem uma popularidade acima da média para um europeu na NBA. Luka lidera mesmo a lista de escolhas dos adeptos de todo o mundo para o All Star Game, que se joga a 16 de fevereiro em Chicago. No ano passado, apesar de ter sido o terceiro mais votado pelo público e de brilhar pelo Dallas Mavericks, foi rejeitado por atletas e treinadores. Neste ano, o filme deve ser outro e ninguém deverá ter coragem para o vetar de novo.

Da parte dele, já avisou que "o melhor ainda está para vir". Uma declaração que gerou várias interpretações. Para uns, o esloveno já revela alguma falta de humildade, outros elogiam-lhe a confiança daquele que já promete ser o melhor europeu de sempre na NBA... pelo menos estatisticamente falando. Certo é que a Doncicmanía está aí para durar. O jogador dos Mavs já é o sexto jogador que mais camisolas vende, atrás de LeBron James, Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, Jayson Tatum e James Harden.

Os 54 pontos aos 13 anos que levaram o Real Madrid a comprá-lo

Luka cresceu no pavilhão, entre lances livres, triplos. Filho do ex-basquetebolista e atual treinador Saša Dončić, foi apadrinhado desde cedo pelo ex-NBA Rasho Nesterovic (campeão pelo San Antonio Spurs, em 2005). "O Luka nasceu para ser basquetebolista. Quando tinha 1 ano e começou a caminhar, já andava sempre com uma bola nas mãos. Também tinha muito jeito para o futebol. Mas, como sempre foi muito alto, optou pelo basquetebol", revelou a mãe, Mirjam Poterbin (antiga modelo e ex-campeã mundial de dança) na cerimónia do draft em 2018.

Assim que lhe colocaram a bola nas mãos, ele soube logo o que fazer com ela e a ascensão foi tão meteórica quanto possível. Tinha 8 anos quando foi jogar para o Union Olimpija Ljubljana, principal equipa da Eslovénia. Após 16 minutos de treino, foi colocado na equipa sub-11. Chegado lá, destacou-se tanto, que o promoveram aos sub-14. Habituado a jogar entre os mais velhos, ganhou uma maturidade que ainda hoje lhe é reconhecida.

Com 13 anos, deixou Ljubljana para perseguir o sonho no Real Madrid, por empréstimo. E foi ao serviço dos merengues que ele mostrou que podia ser alguém no mundo do basquetebol. Quando participou num torneio europeu sub-13 em Roma, Luka alcançou um triplo-duplo incrível: 54 pontos, 11 ressaltos e dez assistências. Uma exibição magistral que obrigou o Real a contratá-lo em definitivo. Assinou por cinco épocas e cresceu nos sub-16 e sub-18... Até o talento ser maior de mais para os campeonatos amadores.

O clube espanhol detetou que poderia estar ali o próximo grande fenómeno do basquetebol europeu e a estreia na equipa principal merengue não tardou. Em abril de 2015, com apenas 16 anos, dois meses e dois dias, o esloveno tornou-se o atleta mais jovem a atuar pelo Real Madrid na Liga ACB (campeonato espanhol). Na temporada seguinte, integrou o plantel e começou a conquistar o seu lugar no quinteto blanco. Antes dos 17, já estava a jogar a Euroliga. Aos 18 anos, tornou-se o mais jovem jogador a ser eleito MVP da prova, levando o Real Madrid ao título europeu e a mais um título espanhol (onde também foi o MVP). Pelo meio, carregou a Eslovénia para um inédito título europeu de seleções. E, assim, no mesmo ano foi campeão europeu por duas vezes. Depois rumou à NBA.

O cão, a namorada, o passatempo e a camisola 7(7)

Tirando o facto de já ser um dos melhores basquetebolistas da atualidade e um ídolo para muitos jovens, Luka é um jovem como outro qualquer de 20 anos. Jogar Fortnite (jogo de estratégia jogado online) é o seu passatempo preferido durante duas ou três horas por dia. Alguns fãs, inclusive, já jogaram com Luka e chegam a postar vídeos no YouTube mostrando a atuação do astro do Mavs.

Namora com Anamaria Goltes, uma compatriota que é modelo de lingerie, e tem um cão chamado Hugo que é uma verdadeira estrela das redes sociais. Sempre gostou do número 7, por ser o de Vassilis Spanoulis, o grego que dominou a sua geração na Europa e passou pela NBA em 2006-07 (Houston Rockets), que admirava na adolescência. A admiração é mútua. Para Spanoulis, "Doncic é o tipo de jogador que aparece uma vez a cada 50 anos". Nos Mavs, como a camisola já estava ocupada quando chegou, optou pelo 77, número que também usa na camisola da seleção nacional.

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