Pete Davidson, comediante da novíssima geração, é o coargumentista da comédia de afetos O Rei de Staten Island, o novo filme de Judd Appatow, um dos reis da comédia de Hollywood. O realizador de Virgem aos 40 Anos e Gente Gira pega na própria experiência traumática do comediante, alguém que perdeu o pai bombeiro no 11 de Setembro, para construir uma teia dramática e cómica sobre as responsabilidades de um jovem adulto em Staten Island..Um conto sobre novos Peter Pans em tempos de millennials feito com uma doçura que é mais amarga do que se poderia supor. The King of Staten Island é cinema de autor disfarçado de comédia juvenil e é sobretudo o primeiro grande cartão-de-visita de Davidson, humorista que singrou na televisão americana em programas como o SNL e o late night de Jimmy Kimmell. Mas para além de Davidson há uma mão-cheia de novos rostos da comédia de Hollywood....Awkwafina.A vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz de comédia em A Despedida está a arrasar em Hollywood. Quer no cinema indie quer junto aos estúdios, Awkwafina parece estar em todas. De origens sino-coreanas, a atriz tornou-se primeiro um fenómeno do rap de Nova Iorque, mas foi nos seus sketchs na net que se tornou global. Daí até brilhar em Crazy Rich Asians, êxito da Warner que em Portugal não fez o circuito das salas, foi um pulo. Pelo meio, tornou-se também uma voz feminina na aceleração da campanha #MeToo. Se tem piada? Em Ocean's 8 roubava piadas a Sandra Bullock e no mais recente Jumanji era a única fonte de sorrisos. Depois de estrear o novo A Pequena Sereia, da Disney, ninguém vai parar esta rapariga de voz rouca..Kumail Nangiani.À boleia da moda do multiculturalismo nos EUA, há um novo entertainer a explodir. Quem viu Amor de Improviso, de Michael Showalter, percebeu que estava a nascer uma estrela. Comédia dramática delicada, The Big Sick era a própria história de Kumail e foi nomeado para o Óscar de melhor argumento, precisamente escrito por ele e pela mulher. Kumail faz parte daqueles comediantes capazes de passar à ficção as suas neuroses e traumas de família. Neste ano, já foi protagonista de um dos lançamentos mais ambiciosos da Netflix, Os Pombinhos, e está já filmado The Eternals, novo blockbuster da Marvel. Hollywood parece venerar os artistas de comédia que mais falam deles próprios..Mindy Kaling.Outra atriz de comédia que escreve o seu material e que incorpora as suas experiências pessoais em humor. Mindy Kaling, famosa pela série O Escritório e, mais recentemente, The Mindy Project, tem como temas favoritos a aceitação da condição feminina e o orgulho racial. É o que se pode denominar comediante de "tópicos". Está neste momento na série The Morning Show, embora no cinema ainda não tenha tido um êxito a sério: Programa da Noite, veículo para Emma Thompson, não deixou grandes memórias e, azar dos azares, é uma das culpadas de Uma Viagem no Tempo, turkey da Disney onde também estavam metidas Oprah Winfrey e Reese Whiterspoon. Mas com o politicamente correto em alta, Mindy vai ter mais hipóteses do grande ecrã....Andy Samberg.Dentro do clube das revelações já é o mais consagrado, mas toda a aclamação em torno de Palm Springs, recordista de visualizações na Hulu, puseram de novo Andy Samberg nas bocas do mundo..Hollywood sempre olhou para ele como um novo Adam Sandler, ainda que o seu estilo seja bem diferente. Algures entre o tom do "bom rapaz malandro" e o trapalhão giro, Andy brilhou sobretudo no Saturday Night Live, tendo uma carreira de cinema mais pensada para o mercado americano. Aliás, tem um humor "casual" direcionado especificamente para um público liceal americano. É sobretudo perito em dar a voz para animações e apresentar galas descontraídas..Taika Waititi.Muitos conhecem-no apenas como realizador de Jojo Rabbit (com que venceria o Óscar de melhor argumento), mas o neozelandês extravagante é um ator cómico de mão cheia, como, aliás, se nota no seu ridículo Hitler desse mesmo filme. Mas já antes, na hilariante série de vampiros What We Do in the Shadows - O Que Fazemos na Sombra, tinha estado também à frente da câmara..De origens maoris, Taika é um criador de comédia capaz de misturar sátira e uma ideia de humor menos óbvio. Como ator, vai estar como alívio cómico em The Suicide Squad, o tal projeto da Warner com a portuguesa Daniela Melchior, e sente-se que é capaz de arranjar papel para si mesmo em Flash Gordon, projeto seu ainda em fase de pré-produção, tal como já o fez no seu próximo filme, Thor: Love and Thunder, no qual dá a voz a uma criatura chamada Korg. O seu humor não é para todos, mas reflete uma vontade de Hollywood em criar novos padrões alternativos de comédia. Está também na comédia surreal Free Guy, com Ryan Reynolds, supostamente ainda neste ano nas salas...