Portugueses divididos quanto a intervenção da NATO na Ucrânia

Os mais novos defendem um envolvimento direto, os mais velhos rejeitam. Mulheres preocupadas com eventual ataque da Rússia a Portugal.
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Os portugueses estão divididos quanto à hipótese de uma intervenção direta da NATO na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É certo que são mais os que estão contra (42%) do que os que estão a favor (38%), mas a sondagem da Aximage para DN, JN e TSF também mostra que há um cisma geracional: os que têm até 49 anos respondem maioritariamente que "sim"; os que têm 50 ou mais anos dizem que "não". Quase um terço dos inquiridos admite, inclusive, que as tropas portuguesas participem no conflito (30%).

Se não há dúvidas quanto ao principal responsável pela guerra (88% apontam a Rússia), o mesmo não se pode dizer quanto ao rumo a seguir. A divisão é a norma, seja quanto a uma intervenção direta da NATO no conflito seja quanto ao apoio da União Europeia: 51% respondem que esta tem feito o suficiente, 49% respondem que é preciso ir mais longe.

O trabalho de campo da Aximage decorreu entre 10 e 14 de março. Ainda antes das notícias sobre os bombardeamentos sistemáticos a zonas residenciais de Kiev, mas também antes de tornar claro que a Ucrânia está disposta a abraçar um estatuto de neutralidade, ao encontro de uma das exigências de Vladimir Putin, e dando um passo no sentido da paz.

É entre os habitantes da Área Metropolitana do Porto que o apoio a uma intervenção direta da NATO no conflito tem mais adeptos (46%) e também é a região onde é maior a insatisfação com o que já fez aUnião Europeia.

Mas onde a divisão da sociedade se torna mais visível é nos resultados dos diferentes escalões etários. Os dois grupos de portugueses mais novos são claramente a favor de algum tipo de intervenção armada em socorro dos ucranianos (em particular os que têm 35 a 49 anos, com 49%). Os dois grupos mais velhos estão solidários com a posição atual assumida pela aliança militar ocidental (em particular os que têm 65 ou mais anos, com 59%).

Mas que tipo de intervenção preferem os que pedem ação à NATO? Talvez sensibilizados pelos apelos constantes do presidente Zelensky, o maior número de respostas vai pela imposição de uma zona de exclusão aérea (42%), mesmo que isso implique abater aviões russos. Mas é significativa também a percentagem dos que apontam para o envio de tropas americanas e europeias para o terreno para combater ao lado dos ucranianos (36%).

Aos 38% que defendem uma intervenção direta da NATO perguntou-se, ainda, se Portugal deve enviar tropas para a Ucrânia. E a percentagem de respostas não deixa margem para dúvidas: 78% responde que sim. É importante clarificar, no entanto, que representam apenas 30% do total da amostra.

Também entre os 49% que acham que a União Europeia deve fazer mais para ajudar a Ucrânia, há uma fatia considerável que aponta para a intervenção de militares europeus (37%), de novo com destaque para quem tem 35 a 49 anos (45%). Menos dois pontos do que os que preferem um endurecimento das sanções à Rússia (39%), sobretudo os que têm 65 ou mais anos (55%). Mais 13 pontos do que os que dão prioridade ao reforço do apoio aos refugiados (24%), com ênfase entre quem tem 18 a 34 anos (34%).

Se a maioria da população tende a rejeitar a intervenção da NATO, isso deve-se aos homens. Porque entre as mulheres, são mais as que querem um recurso à força militar (38%) do que aquelas que o rejeitam (37%). Embora seja importante notar que um quarto das inquiridas não manifestam opinião.
Aliás, as mulheres não se diferenciam dos homens apenas pela referência no envolvimento direto da aliança. Quando se pergunta pelo tipo de intervenção, enquanto os homens escolhem preferencialmente a zona de exclusão aérea, elas apontam para o envio de tropas e armamento ao lado dos ucranianos.

Talvez a explicação para as respostas anteriores resida numa outra. Se a maioria da população "não" está preocupada com um ataque da Rússia a Portugal (54%), no caso das mulheres a posição inversa é a maioritária: 51% admitem que estão preocupadas com essa eventualidade.

A discussão sobre a constituição de um exército comum na União Europeia dura há anos. Mas nunca gerou o consenso suficiente para se materializar. A invasão da Ucrânia pela Rússia poderá ajudar a ampliar a recetividade dos europeus. No caso da opinião pública portuguesa isso fica bem evidente: 68% estão de acordo com esse caminho (16% contra). Os homens revelam mais entusiasmo (74%) do que as mulheres (64%). Tal como os que têm 50 a 64 anos (72%). Os menos interessados, ainda que se mantenha a maioria, são os mais jovens (65%).

Guerra vai durar meses. Os portugueses estão relativamente pessimistas quanto à duração da guerra. Quase um terço acha que vai durar entre três e seis meses (30%). Outro tanto que será ainda mais (29%). Apenas uma minoria de 13% admite que tudo se resolva num mês.

71%. O pessimismo é ainda maior quando se pergunta sobre a evolução do conflito: 71% afirmam que vai piorar e 18% que o atual nível de violência vai manter-se. Uns escassos 11% acreditam que a situação vai melhorar.

O império soviético. Dois terços dos inquiridos convergem na explicação para a invasão russa: a principal motivação do regime de Putin foi a vontade de recuperar controlo e influência nos territórios da antiga União Soviética (65%).

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre a guerra Rússia/Ucrânia. O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 14 de março de 2022 e foram recolhidas 756 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 756 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,018 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,56%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio


rafael@jn.pt

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