O Ministério Público (MP) abriu um inquérito-crime contra a procuradora Cândida Vilar, "que teve origem numa certidão extraída do processo de Tancos". Segundo o DN apurou, vão ser averiguadas suspeitas de a magistrada ter intercedido no caso de Tancos, no qual não tinha nenhuma responsabilidade. Terá aconselhado um oficial da Polícia Judiciária Militar (PJM), o major Vasco Brazão, a não fornecer informação ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e à Polícia Judiciária (PJ) no processo, prejudicando assim a investigação ao assalto, que estava em curso..Em causa podem estar, além da violação de deveres funcionais - que constam no estatuto dos magistrados do MP -, vários crimes contra a realização da justiça, como denegação de justiça, prevaricação e favorecimento pessoal..Esta informação foi confirmada ao DN pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O processo está a ser dirigido pelo Ministério Público (MP) do Tribunal da Relação de Lisboa, organismo competente para investigar magistrados judiciais. E ainda "não tem arguidos constituídos"..Contactada pelo DN, a magistrada Cândida Vilar, que é procuradora da República há 20 anos e já esteve à frente de vários casos mediáticos, como o das mortes nos Comandos e a invasão da Academia do Sporting, em Alcochete, alega desconhecer o processo e não quis fazer comentários. "Não fui notificada de nada", afirmou..Conforme o DN apurou, junto à certidão remetida ao Tribunal da Relação, foi enviada a transcrição de uma escuta telefónica entre a procuradora e o major Vasco Brazão, que chefiou a investigação da PJM a Tancos. O MP entende que esta conversa indicia que Cândida Vilar incentivou o oficial a sonegar informação que lhe tinha sido solicitada pelo DCIAP e pela PJ. Brazão estava nesta altura sob escuta, no âmbito da Operação Húbris - que investigou o reaparecimento estranho do material na Chamusca..Questionada também pelo DN sobre se tinha memória deste telefonema, a procuradora negou. "Não tenho ideia nenhuma dessa conversa", defendeu-se. Na sua audição da comissão parlamentar de inquérito (CPI), Vasco Brazão assumiu que a PJM fez uma "investigação paralela" ao assalto, à margem das orientações do MP - iniciativa que assumiu ter sido um "erro" - e que levou à recuperação do material, em conivência com um dos autores do furto. Esta operação clandestina foi alvo de investigação do DCIAP - a já referida Operação Húbris - e resultou na detenção de sete militares da GNR e da PJM, entre os quais o próprio diretor desta polícia, coronel Luís Vieira, a 25 de setembro de 2018..As perturbações na investigação por parte de elementos da PJM já tinham sido denunciadas pelo diretor nacional da PJ, na sua audição na CPI. Luís Neves, que classificou de "absolutamente catastrófica" a intervenção dos militares, acusou ainda os oficiais da PJM envolvidos de, com a sua ação, à margem do inquérito oficial, terem "destruído e esventrado a investigação"..Três processos disciplinares.Cândida Vilar e Vasco Brazão trabalharam juntos num processo anterior, na investigação à morte dos dois recrutas dos Comandos e virá daí a proximidade entre ambos. Vilar foi a procuradora titular desse inquérito-crime e deduziu a acusação contra os 19 militares que estão a ser julgados, por abuso de autoridade e ofensas à integridade física. O major foi quem liderou a investigação da parte da PJM..Em Tancos, Brazão é defendido pelo advogado Ricardo Sá Fernandes, que também representou a família de Hugo Abreu, um dos jovens que morreram nos treinos..Processos e polémicas.Cândida Vilar, de 62 anos, coordenou a Unidade de Combate ao Crime Especialmente Violento, no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Ganhou mediatismo em processos como o dos skinheads, que levou à detenção de Mário Machado, o dos Comandos e, mais recentemente, o da invasão da Academia do Sporting - o áudio do seu interrogatório ao ex-líder da Juve Leo Fernando Mendes valeu-lhe muitas críticas..Além deste inquérito na investigação ao furto de Tancos, a procuradora é arguida num outro processo-crime, ligado ao caso dos Comandos. A queixa, apresentada junto do Tribunal da Relação de Lisboa, foi enviada por um dos militares que estão a ser julgados, que acusa Vilar de ter ordenado detenções ilegais e de "prevaricação". Neste caso, a sua constituição como arguida é um pró-forma. A queixa tinha sido arquivada pelo MP, mas a defesa do militar pediu a abertura de instrução e isso implica legalmente que passe a ser arguida..De acordo com a PGR, Cândida Vilar foi alvo de um total de três processos disciplinares no último ano. O primeiro, também relacionado com os Comandos, "em razão de algumas expressões usadas em peças processuais no âmbito do referido inquérito", valeu-lhe uma "pena de advertência", em março de 2018, pelo Conselho Superior do Ministério Público..O inquérito de Alcochete já lhe valeu, pelo menos, dois processos: um inquérito (a decorrer) "para averiguação de eventual responsabilidade disciplinar da magistrada" relativamente "ao modo como procedeu a interrogatórios" - designadamente o que foi publicamente divulgado, a Fernando Mendes. O outro processo a decorrer, de acordo ainda com a PGR, trata-se de uma "averiguação de eventual responsabilidade disciplinar relacionada com referências feitas pela magistrada num despacho prévio à acusação do designado caso de Alcochete". Referências essas, acrescenta a PGR, "a informação que teria sido solicitada e que não lhe teria sido facultada no prazo que pretendia"..Em causa está uma passagem do seu despacho - que não corresponderá à verdade - na qual escreve que a investigação às agressões aos jogadores e a elementos da equipa técnica não tinha sido "totalmente concluída" porque a PJ não tinha facultado "quaisquer informações sobre as interceções telefónicas ao alvo André Geraldes" - na altura team manager do Sporting e sobre o qual Cândida Vilar tinha registos da sua participação em reuniões onde Bruno de Carvalho e Nuno Mendes (Mustafá), terão começado a planear o ataque à Academia.."A PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens, sendo certo que alguns deles poderão nem estar transcritos no processo de inquérito de que é titular o magistrado do MP. Acresce o facto de não ter sido possível extrair conteúdos supostamente apagados do telemóvel do arguido Bruno Jacinto, dado que, segundo informação do senhor coordenador da PJ, o programa não o permitiu", declarou..Vilar disse estar convencida de que "estando o telefone móvel intercetado poderão existir conversas e mensagens que seriam relevantes para a prova", até porque, sublinha, "o arguido Bruno Jacinto declarou que tinha avisado por mensagem André Geraldes de que elementos da claque Juve Leo iam à Academia do SCP". No entanto, critica a procuradora, "nada disto foi confirmado, porquanto a PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens" transcritos.
O Ministério Público (MP) abriu um inquérito-crime contra a procuradora Cândida Vilar, "que teve origem numa certidão extraída do processo de Tancos". Segundo o DN apurou, vão ser averiguadas suspeitas de a magistrada ter intercedido no caso de Tancos, no qual não tinha nenhuma responsabilidade. Terá aconselhado um oficial da Polícia Judiciária Militar (PJM), o major Vasco Brazão, a não fornecer informação ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e à Polícia Judiciária (PJ) no processo, prejudicando assim a investigação ao assalto, que estava em curso..Em causa podem estar, além da violação de deveres funcionais - que constam no estatuto dos magistrados do MP -, vários crimes contra a realização da justiça, como denegação de justiça, prevaricação e favorecimento pessoal..Esta informação foi confirmada ao DN pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O processo está a ser dirigido pelo Ministério Público (MP) do Tribunal da Relação de Lisboa, organismo competente para investigar magistrados judiciais. E ainda "não tem arguidos constituídos"..Contactada pelo DN, a magistrada Cândida Vilar, que é procuradora da República há 20 anos e já esteve à frente de vários casos mediáticos, como o das mortes nos Comandos e a invasão da Academia do Sporting, em Alcochete, alega desconhecer o processo e não quis fazer comentários. "Não fui notificada de nada", afirmou..Conforme o DN apurou, junto à certidão remetida ao Tribunal da Relação, foi enviada a transcrição de uma escuta telefónica entre a procuradora e o major Vasco Brazão, que chefiou a investigação da PJM a Tancos. O MP entende que esta conversa indicia que Cândida Vilar incentivou o oficial a sonegar informação que lhe tinha sido solicitada pelo DCIAP e pela PJ. Brazão estava nesta altura sob escuta, no âmbito da Operação Húbris - que investigou o reaparecimento estranho do material na Chamusca..Questionada também pelo DN sobre se tinha memória deste telefonema, a procuradora negou. "Não tenho ideia nenhuma dessa conversa", defendeu-se. Na sua audição da comissão parlamentar de inquérito (CPI), Vasco Brazão assumiu que a PJM fez uma "investigação paralela" ao assalto, à margem das orientações do MP - iniciativa que assumiu ter sido um "erro" - e que levou à recuperação do material, em conivência com um dos autores do furto. Esta operação clandestina foi alvo de investigação do DCIAP - a já referida Operação Húbris - e resultou na detenção de sete militares da GNR e da PJM, entre os quais o próprio diretor desta polícia, coronel Luís Vieira, a 25 de setembro de 2018..As perturbações na investigação por parte de elementos da PJM já tinham sido denunciadas pelo diretor nacional da PJ, na sua audição na CPI. Luís Neves, que classificou de "absolutamente catastrófica" a intervenção dos militares, acusou ainda os oficiais da PJM envolvidos de, com a sua ação, à margem do inquérito oficial, terem "destruído e esventrado a investigação"..Três processos disciplinares.Cândida Vilar e Vasco Brazão trabalharam juntos num processo anterior, na investigação à morte dos dois recrutas dos Comandos e virá daí a proximidade entre ambos. Vilar foi a procuradora titular desse inquérito-crime e deduziu a acusação contra os 19 militares que estão a ser julgados, por abuso de autoridade e ofensas à integridade física. O major foi quem liderou a investigação da parte da PJM..Em Tancos, Brazão é defendido pelo advogado Ricardo Sá Fernandes, que também representou a família de Hugo Abreu, um dos jovens que morreram nos treinos..Processos e polémicas.Cândida Vilar, de 62 anos, coordenou a Unidade de Combate ao Crime Especialmente Violento, no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Ganhou mediatismo em processos como o dos skinheads, que levou à detenção de Mário Machado, o dos Comandos e, mais recentemente, o da invasão da Academia do Sporting - o áudio do seu interrogatório ao ex-líder da Juve Leo Fernando Mendes valeu-lhe muitas críticas..Além deste inquérito na investigação ao furto de Tancos, a procuradora é arguida num outro processo-crime, ligado ao caso dos Comandos. A queixa, apresentada junto do Tribunal da Relação de Lisboa, foi enviada por um dos militares que estão a ser julgados, que acusa Vilar de ter ordenado detenções ilegais e de "prevaricação". Neste caso, a sua constituição como arguida é um pró-forma. A queixa tinha sido arquivada pelo MP, mas a defesa do militar pediu a abertura de instrução e isso implica legalmente que passe a ser arguida..De acordo com a PGR, Cândida Vilar foi alvo de um total de três processos disciplinares no último ano. O primeiro, também relacionado com os Comandos, "em razão de algumas expressões usadas em peças processuais no âmbito do referido inquérito", valeu-lhe uma "pena de advertência", em março de 2018, pelo Conselho Superior do Ministério Público..O inquérito de Alcochete já lhe valeu, pelo menos, dois processos: um inquérito (a decorrer) "para averiguação de eventual responsabilidade disciplinar da magistrada" relativamente "ao modo como procedeu a interrogatórios" - designadamente o que foi publicamente divulgado, a Fernando Mendes. O outro processo a decorrer, de acordo ainda com a PGR, trata-se de uma "averiguação de eventual responsabilidade disciplinar relacionada com referências feitas pela magistrada num despacho prévio à acusação do designado caso de Alcochete". Referências essas, acrescenta a PGR, "a informação que teria sido solicitada e que não lhe teria sido facultada no prazo que pretendia"..Em causa está uma passagem do seu despacho - que não corresponderá à verdade - na qual escreve que a investigação às agressões aos jogadores e a elementos da equipa técnica não tinha sido "totalmente concluída" porque a PJ não tinha facultado "quaisquer informações sobre as interceções telefónicas ao alvo André Geraldes" - na altura team manager do Sporting e sobre o qual Cândida Vilar tinha registos da sua participação em reuniões onde Bruno de Carvalho e Nuno Mendes (Mustafá), terão começado a planear o ataque à Academia.."A PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens, sendo certo que alguns deles poderão nem estar transcritos no processo de inquérito de que é titular o magistrado do MP. Acresce o facto de não ter sido possível extrair conteúdos supostamente apagados do telemóvel do arguido Bruno Jacinto, dado que, segundo informação do senhor coordenador da PJ, o programa não o permitiu", declarou..Vilar disse estar convencida de que "estando o telefone móvel intercetado poderão existir conversas e mensagens que seriam relevantes para a prova", até porque, sublinha, "o arguido Bruno Jacinto declarou que tinha avisado por mensagem André Geraldes de que elementos da claque Juve Leo iam à Academia do SCP". No entanto, critica a procuradora, "nada disto foi confirmado, porquanto a PJ não transmitiu qualquer informação sobre o conteúdo dos telefonemas e mensagens" transcritos.