Quarentena da surfista Brisa é numa ilha de sonho com muito atum e um cavaquinho
Brisa Hennessy, de 20 anos, natural da Costa Rica, é uma das melhores surfistas do mundo. Como a grande maioria da população mundial, está confinada nestes tempos de pandemia covid-19. Mas no seu caso a quarentena não está a ser cumprida num apartamento modesto ou numa casa de grandes dimensões com piscina e jardim. Brisa está provavelmente a cumprir uma das melhores quarentenas do mundo, numa pequena ilha paradisíaca do Pacífico Sul (Namotu), junto dos pais, com comida para vários meses e com ondas. Muitas ondas para surfar à vontade.
A história é simples. Os pais de Brisa Hennessy, atual líder do ranking feminino de surf (WQS), que terminou no ano passado o campeonato mundial na 11.ª posição, são donos de um pequeno resort na ilha de Namotu, perto das Fiji, em pleno Pacífico Sul. Quando o surto do novo coronavírus começou a atingir proporções de pandemia, ponderaram o que deviam fazer. Se regressar ao Havai, onde têm casa, ou permanecer isolados na ilha. Vingou a segunda ideia. Fecharam o hotel, dispensaram quase todos os funcionários (ficaram apenas cinco), encheram a despensa e ali ficaram. Isolados de tudo e de todos. Mas num pequeno paraíso.
"Sim, talvez este seja o confinamento perfeito. Tenho de facto muita sorte. Apesar de não podermos ter contacto com ninguém, e de estarmos proibidos de deixar a ilha, porque todos os portos foram fechados, estamos todos em segurança. Para mim é como se estivesse a viver uma pré-temporada. Pratico muito surf, faço muito exercício físico, ioga, vou à pesca, cozinho e toco ukelele (como os havaianos chamam ao cavaquinho)", contou citada pelo jornal espanhol AS.
"Esta situação permitiu-me estar muito mais ligada à natureza, algo que a maioria das pessoas perderam. Há tantas dificuldades no mundo, e este momento é tão louco e emocionante ao mesmo tempo... mas julgo que é uma oportunidade única para percebermos que não devemos tomar tudo por garantido. É como se fosse o universo a querer dizer-nos para voltarmos a ter um equilíbrio. Acredito que vamos sair desta situação mais conscientes e agradecidos", acrescentou.
O único receio de Brisa e da família prende-se com um eventual cenário de emergência médica. "Mas mesmo num caso desses podemos deixar a ilha se tivermos autorização", diz. A comida não é problema. "Temos a despensa cheia para já. Mas mesmo que falte não será problema. Pescamos quase todos os dias, não falta peixe, sobretudo atum. Aliás, não sei durante mais quanto tempo vou conseguir comer atum. É atum e cocos, que também não faltam por aqui. Se tivermos saúde não há nenhuma razão para querermos sair daqui", garante Brisa, que está apurada pata os Jogos Olímpicos que se vão realizar em Tóquio em 2021, e à partida está em vantagem face às duas rivais, pois mesmo sem competição pode treinar à vontade diariamente.
"Posso considerar-me uma mulher com sorte, mas esta vantagem que tenho em relação às outras surfistas, pelo facto de poder continuar a surfar no mar, não é algo que me satisfaça. Na realidade gostava de as ter aqui comigo", admite Brisa, que todos os dias lida com uma temperatura de cerca de 30 graus e ondas perfeitas para a prática do surf.
Além do surf, Brisa já arranjou outras ocupações. Faz caminhadas pela ilha e, sobretudo, tenta aprender a tocar cavaquinho, algo que, diz, "queria há muito tempo", apesar de confessar ter "pouco jeito para a música". Depois está também a fazer um curso de nutrição. "Adoro cozinhar. Costumo dizer que é muito fácil encontrarem-me. Se não estou na água, estou na cozinha."
Tal como a grande maioria das competições, todas as provas de surf foram canceladas. "A WSL vai certamente tomar as decisões certas. Espero que até ao final do ano possamos ter algumas competições. Estou muito orgulhosa da forma como planearam esta suspensão, pois pensaram na saúde de atletas, famílias, adeptos, de todos. Precisamos de pensar de forma positiva. Isto vai passar. Agora vou aproveitar para aperfeiçoar o meu surf. Acredito que depois desta pandemia vamos todos voltar melhores."
Apesar de ainda estar no início da temporada, Brisa Hennessy estava na liderança do ranking WQS antes de as provas serem suspensas e com a qualificação para o WWT 2021 bem encaminhada, pois já tinha 15 200 pontos assegurados fruto do triunfo no QS 5000 da China, dos terceiros lugares no QS 10000 de Sydney e no QS 3000 de Avoca Beach e do 9.º lugar no QS 5000 de Newcastle.
Brisa Hennessy nasceu na Costa Rica porque os seus pais, professores de surf, geriam um hotel naquele país da América Central. Depois acabaram por se mudar todos para o Havai. Mas Brisa diz que na realidade não tem casa, pois está sempre a viajar pelo mundo. Nos próximos meses, porém, a sua casa vai ser na pequena ilha de Namotu. Um sítio paradisíaco que os seus pais descobriram há cerca de dois anos, durante umas férias, na costa oeste de Fiji. Depois foi só convencer o proprietário do resort a vendê-lo. E assim fixaram-se por ali. Fizeram várias remodelações no local, conseguiram chegar às 11 habitações, construíram um restaurante e um bar e tornaram a unidade hoteleira num autêntico paraíso para surfistas.