A posição colaborante assumida por Rui Rio na liderança da oposição, durante as últimas semanas, tem granjeado ao líder do PSD uma longa lista de elogios, que vão do El País ao The New York Times, mas parece não ter eco nas intenções de voto dos portugueses..Realizada entre 15 e 26 de abril, com o país em estado de emergência, a sondagem da Pitagórica para a TSF e o Jornal de Notícias deixa os sociais-democratas quase a 19 pontos do PS, que surge agora com uma intenção de voto de 41,9%, enquanto o PSD cai para os 23,1%, uma quebra de dois pontos percentuais em relação a março. Ao mesmo tempo, a taxa de aprovação do Governo bate recordes, subindo dos 60% para os 74%, um aumento de 14 pontos percentuais..Sinal de um erro de estratégia do PSD? Não necessariamente - é, pelo menos, o que acreditam os sociais-democratas, que apostam que, a médio/longo prazo, Rui Rio virá a capitalizar a posição que assumiu agora. Se não é o que dizem os inquéritos de opinião, no PSD há uma resposta para isso - os inquéritos de opinião "tendem a estar errados.".Estes números não motivam "nenhuma preocupação especial", diz ao DN fonte social-democrata. "Estamos em território desconhecido, ainda haverá muitas vicissitudes pela frente. É tudo muito volátil", acrescenta, sublinhando que Rui Rio foi "coerente com o seu discurso de sempre, de diálogo e construção de alternativas", granjeando um reconhecimento público "que mais tarde poderá traduzir-se em votos".."Isto é um processo. Até agora tivemos a questão sanitária, procurámos corrigir o Governo sem criar instabilidade", daqui para a frente "ninguém sabe como isto vai evoluir" - "Vamos ver que resposta à crise o Governo é capaz de construir"..Mas no PSD também há quem mostre muitas reservas à posição política assumida por Rui Rio - porque "abdicou de fazer política: não é politiquice, é política", refere um crítico do presidente social-democrata..A opinião não é isolada - embora ninguém queira assumir uma postura pública crítica nesta altura - e um exemplo que vem sempre à colação, apontado como uma "colagem" excessiva e desnecessária ao Governo, é a carta que Rui Rio escreveu aos militantes do partido, justificando a solidariedade com o executivo. "Dada a gravidade da situação - seja na vertente da saúde pública, da economia ou nos aspetos de ordem social que dentro em breve irão agravar-se -, temos todos de estar unidos e solidários", referia a missiva. Atacar o Governo "não é, neste momento, uma postura eticamente correta. E não é, acima de tudo, uma posição patriótica", defendeu Rio..Só os próximos meses dirão se o PSD é alternativa.Também o politólogo António Costa Pinto corrobora que não se deve tirar grandes ilações das projeções atuais, dado o facto de as eleições legislativas terem sido "há pouquíssimos meses" e a absoluta excecionalidade dos tempos atuais. O mesmo é dizer que não serão estas últimas semanas a ditar a sorte dos sociais-democratas no confronto direto com António Costa.."A incerteza é tão grande, no que toca à eventual dinâmica de crise económica, que creio que só nos próximos meses é que poderemos observar melhor até que ponto o PSD consegue, eventualmente, corporizar uma alternativa de Governo", defende o docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa..António Costa Pinto sublinha que o ambiente político relativamente consensual das últimas semanas beneficiou o Governo: "O PS, ao ter conseguido um compromisso interpartidário grande, no que toca à crise sanitária que atravessamos e às medidas de contenção, evidentemente que capitaliza do ponto de vista político." Mas o que vem aí é uma história que está por escrever e que dependerá em muito da dimensão que a crise económica vier a tomar e da capacidade do Governo para lhe dar resposta. E esta depende, em grande medida, do que for decidido a nível europeu: "A incerteza é grande e o ponto fundamental é exterior." E é aí que pode estar o cerne para o maior partido da oposição: "Em caso de descida abrupta das intenções de voto no PS - o que remeterá fundamentalmente para a gestão da crise económica -, aí é que poderemos ver se o PSD é uma alternativa ou não."