Primavera socialista deixa PSD a 16 pontos de distância

PS está em alta e sociais-democratas em baixa na mais recente sondagem da Aximage. Bloco mantém terceiro lugar, mas Chega fica a uma décima. CDS no limiar da sobrevivência.
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O PS está perto do seu máximo (39,7%) e o PSD bate no fundo (23,6%). O que faz com que os dois principais partidos estejam agora separados por um fosso de 16 pontos percentuais, de acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, o JN e a TSF. À Esquerda, o BE (8,6%) e a CDU (6%) estão um pouco melhor. À Direita, o Chega dá um salto significativo e aproxima-se do terceiro lugar (8,5%), enquanto o Iniciativa Liberal perde um pouco de gás (4,8%) e o CDS se mantém no limiar da sobrevivência (1,1%). O PAN vai mudar de líder e está em queda (3,2%).

Um mês bastou para que os socialistas recuperassem do pequeno castigo que resultou do descontrolo da pandemia em janeiro e fevereiro. Ultrapassado o choque e dissipada a memória dos dias em que se batiam recordes mundiais de novos casos e de mortes, com o país a desconfinar (mais uma etapa será cumprida esta segunda-feira), o PS renasce neste início de Primavera e obtém uma liderança folgada, a escassas décimas do melhor resultado desta série de barómetros (40,4% em julho do ano passado). Se houvesse hoje eleições, ficaria três pontos acima das legislativas de 2019.

Um dos efeitos desta subida do PS (mais 2,1 pontos do que em fevereiro), conjugada com a descida do PSD (menos 2,9 pontos) é que se abre um inédito fosso de cerca de 16 pontos entre os dois maiores partidos - o dobro da distância que os separava nas últimas eleições.

Outra das consequências destas subidas e descidas é que os socialistas voltam a valer mais do que a soma dos quatro partidos à Direita - valem agora 38%. Mas esta é uma Direita virtual com uma relação de forças substancialmente diferente da que está representada no Parlamento.

É importante destacar, no entanto, que a sondagem não mede os eventuais efeitos do conflito em torno dos apoios sociais (que uma "coligação negativa" aprovou no Parlamento, que o presidente promulgou, e que o Governo socialista contestará no Tribunal Constitucional), uma vez que o trabalho de campo decorreu antes de rebentar a tempestade (24 a 27 de março).

O descalabro do PSD em março (o mês em que Rui Rio se desdobrou em anúncios de candidatos autárquicos) faz com que a Direita clássica some uns escassos 24%, a oito pontos das eleições de 2019. Isto porque o CDS, apesar de ganhar umas décimas, continua no limiar da sobrevivência.

Ao contrário, a nova Direita continua a dar sinais de pujança, ainda que seja um processo por terminar, como demonstram os sucessivos altos e baixos que os dois partidos vão atravessando. Desta vez, é o Chega que ganha fôlego (mais dois pontos), ficando a uma escassa décima do terceiro lugar dos bloquistas, enquanto a Iniciativa Liberal desperdiça cerca de um ponto, depois do enorme salto de fevereiro.

A relação de forças vai-se ajustando, mas a verdade é que, quer os radicais, quer os liberais, dão mostras de resiliência e de crescimento gradual. O Chega é o partido que mais ganha nesta altura, quando se compara com outubro de 2019 (tem mais sete pontos), mas o Iniciativa Liberal também sobe três pontos e meio. E juntos somam agora cerca de 13% (mais dez pontos do que nas legislativas).

A geringonça estará morta e enterrada - como se percebeu pela acrimónia na negociação do último Orçamento do Estado, ou quando se assiste a "coligações negativas" que juntam os antigos parceiros parlamentares dos socialistas ao conjunto da direita -, mas a Esquerda no seu conjunto está bem e recomenda-se: vale agora mais de 54%, dois pontos acima das últimas legislativas (e mais 16 pontos do que a Direita). É certo que a preponderância do PS é maior, mas bloquistas e comunistas revelam alguma capacidade de recuperação.

O Bloco de Esquerda, desde logo, que já vai no segundo mês a subir, depois de outros três em queda, precisamente os que foram dominados pelas questões orçamentais. Em março segura o terceiro lugar por uma unha negra (o Chega está a uma décima), mas já só está a um ponto do valor eleitoral de 2019. Na CDU, a estabilidade tem sido evidente, ainda que sempre abaixo do seu valor nas urnas. Este mês, no entanto, chega aos seis%, ou seja, quase ao mesmo resultado que obteve nas legislativas.
O outro parceiro eventual dos socialistas é o PAN. No mês em que o seu líder, André Silva, anunciou a retirada da política, volta a cair quase um ponto e regressa por isso à casa de partida, ou seja, ao resultado das últimas eleições (mas bastante longe dos 6,5% que marcava no barómetro de novembro do ano passado). Quanto ao Livre, volta a cair para baixo do limiar do ponto percentual.

Num tempo em que tanto se especula sobre a sobrevivência do Governo minoritário de António Costa (incluindo os avisos desta semana de Marcelo), há dois partidos à Direita que não enjeitariam a possibilidade de legislativas antecipadas: Chega e Iniciativa Liberal revelam, desde o arranque dos barómetros da Aximage para o DN, JN e TSF, uma trajetória de subida e prometem uma mudança significativa na distribuição de forças à Direita.

Quando se analisam os diferentes segmentos regionais (que não correspondem aos círculos eleitorais) é possível perceber que o tempo do deputado único ficaria para trás, em ambos os casos, se tivéssemos hoje eleições. No caso da Área Metropolitana de Lisboa (que inclui parte dos círculos de Lisboa e Setúbal), os 9,5% dos radicais liderados por André Ventura poderiam significar, no mínimo, quatro a cinco deputados. Para os liberais de João Cotrim de Figueiredo, o resultado na região da capital rondaria os 6,1% e porventura três a quatro deputados nos dois círculos.

Tendo em conta os resultados na Área Metropolitana do Porto e na região Norte, é possível perceber que nos círculos do Porto e de Braga, Cotrim e Ventura poderiam aspirar a mais dois ou três deputados.

O Chega revela mais dificuldades (2,6%) que o Iniciativa Liberal (7,1%) na região da Invicta (como tem sido a norma em quase todos os barómetros), mas é mais forte no resto da região Norte (10,1% para os radicais; 5,5% para os liberais).

Acresce que o partido de Ventura está mais bem implantado no resto do país, em particular no Centro (11,1%), o que, sendo insuficiente para obter deputados em círculos como Viseu, Guarda, Castelo Branco ou Coimbra, é animador no caso dos círculos de Aveiro, Leiria ou Santarém, onde poderia eleger pelo menos um deputado por círculo.

Popularidade de Costa: Como já foi referido nos últimos dias, a popularidade de António Costa está desta vez a bater recordes. Continua a ser o líder partidário mais popular (60% de avaliações positivas) e o único com saldo positivo (mais avaliações positivas do que negativas).

Impopularidade de Ventura: O líder do Chega é o que suscita, como sempre, maior rejeição por parte dos portugueses - 62% dão-lhe nota negativa (menos sete pontos do que em fevereiro). O radical de Direita também melhora nas avaliações positivas, mas fica-se pelos 18%.

Catarina e Rio a subir: Num mês generoso para a generalidade dos líderes partidários, Catarina Martins e Rui Rio são, depois de Costa e Ventura, os que recuperam mais terreno. Mas o presidente do PSD é o que está mais próximo de chegar a terreno positivo (tem um saldo negativo de apenas um ponto).

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, JN e TSF, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 24 e 27 de março de 2021 e foram recolhidas 830 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, com sexo, idade e região, a partir do universo conhecido, reequilibrada por sexo, idade, escolaridade e região. À amostra de 830 entrevistas corresponde um grau de confiança de 95% com uma margem de erro de 3,4%.

A responsabilidade do estudo é da Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de José Almeida Ribeiro.

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