Ryanair pede reforços nas fronteiras e intervenção do Governo. “A reputação de Portugal está a ser afetada”
Adelino Meireles / Global Imagens

Ryanair pede reforços nas fronteiras e intervenção do Governo. “A reputação de Portugal está a ser afetada”

A companhia irlandesa low cost diz que atrasos na Portela são "inaceitáveis" e imputa responsabilidades ao Governo e à ANA.
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A última semana ficou marcada pelo caos no aeroporto de Lisboa e pelas longas filas na fronteira com os passageiros retidos durante várias horas. Em causa está o novo sistema  europeu de controlo automatizado de fronteiras externas, o Entry/Exit System (EES), que entrou em vigor no passado dia 12 de outubro, e que tem adensado os constrangimentos nas entradas e saídas de passageiros extracomunitários na capital portuguesa.

A Ryanair considera que o quadro atual na principal infraestrutura aeroportuária nacional é “inaceitável” e pede ao Governo que atue através do reforço de recursos humanos.

“Se a ANA não está disposta a fazer o que tem de ser feito em termos de pessoal para o controlo de fronteiras, então o Governo tem de intervir e garantir que está devidamente equipado. Basta decidirem abrir as e-gates permanentemente, pô-las a funcionar totalmente e contratar mais pessoal para os balcões manuais. Isto aliviaria a pressão, especialmente enquanto o novo sistema não estiver completamente implementado. Os passageiros estão a sair do avião e a ter de esperar duas horas e meia, quase o mesmo tempo que durou o voo em muitos casos, só para poderem sair da zona restrita e apanhar um táxi”, diz ao DN Jade Kirwan, diretora de comunicação da Ryanair.

Apesar de o cenário na Portela ter piorado nos últimos dias, a porta-voz da companhia de baixo-custo alerta que o problema não é novo e acusa as autoridades responsáveis de estarem a culpar o EES pelos atrasos recorrentes na infraestrutura. 

“Os atrasos não são novidade e é preciso ter cuidado na análise. O novo sistema de controlo de fronteiras só entrou em vigor há uma semana. É verdade que a PSP veio a público dizer que o sistema causou caos, e sim, agravou a situação, mas é importante salientar que esta situação já se arrasta há bastante tempo. Já no verão tínhamos alertado para os problemas e nada foi feito. Querem culpar o novo sistema, mas o grande problema é a falta de pessoal”, afiança.

Recorde-se que este novo sistema de controlo de fronteiras para cidadãos extracomunitários entrou em funcionamento não só em Portugal, mas nos  restantes países do espaço Schengen. As entradas e saídas dos passageiros passam agora a ser registadas por via eletrónica em substituição do antigo sistema de carimbo de passaportes.

Para a responsável da low cost irlandesa, a leitura comparativa com os restantes destinos europeus onde a Ryanair opera dá força à argumentação. “O grande problema na nossa atividade está a acontecer em Portugal e é por isso que me custa a acreditar que tudo é culpa do EES. A Suécia, a Estónia,  a Chéquia e a Letónia também o implementaram e não estão a enfrentar estes desafios. Custa-me pensar noutro lugar onde se verifique algo comparável. Em Dublin, com 36 milhões de passageiros, tal como em Lisboa, os passageiros demoram menos de cinco minutos a passar pelo controlo. Em Madrid, com cerca de 35 milhões de passageiros por ano, o tempo médio é de 3 minutos e 54 segundos”, exemplifica. 

A Ryanair reuniu, na passada semana, com a gestora dos aeroportos nacionais e diz esperar agora que sejam tomadas “medidas e ações concretas”, alertando para o período de fim de ano que se avizinha, com o habitual aumento do tráfego de passageiros bem como para a próxima época alta. “Precisamos que a ANA e o Governo atuem urgentemente antes que a situação piore, especialmente antes do verão de 2026. É imperativo antecipar os cenários com antecedência”, reitera em entrevista ao DN.

Jade Kirwan lamenta ainda que a reputação da companhia acabe por ser impactada devido às perturbações atuais no Humberto Delgado. “No final do dia, os nossos clientes estão a voar com a Ryanair e esperam um serviço decente. Não percebem, muitas vezes, que operamos o voo, mas não somos responsáveis pelo controlo de fronteiras. Assim que entram no aeroporto o resto já não depende de nós”, nota.

Reputação de Portugal fica afetada com "má publicidade"

A juntar aos impactos imediatos para os milhares de passageiros que todos os dias têm de enfrentar o sistema de controlo de passageiros em Lisboa, há ainda outras consequências que, para a empresa de aviação, afetam a imagem do país e a atividade turística, desde logo a "má publicidade" proveniente das notícias sobre a Portela.

“Esta manhã pesquisei notícias online sobre o aeroporto de Lisboa e eram todas referentes a atrasos, o mesmo acontece nas redes sociais. O turismo em Portugal será afetado por danos reputacionais e, em última análise, esta é uma responsabilidade do Governo”, assegura.

A porta-voz da empresa liderada por Michael O'Leary alerta para as repercussões mediáticas que o atual panorama poderá provocar junto dos turistas internacionais.

“Se me perguntassem neste momento se quero ir passar o fim de semana a Lisboa e esperar quase três horas para ir do avião até ao parque de estacionamento, ou se prefiro ir para Madrid, onde demoro menos de cinco minutos a passar pelo controlo de fronteiras, a resposta seria óbvia. Esta situação está a tornar Lisboa pouco competitiva comparada com outros aeroportos europeus de dimensão semelhante”, assegura.

“É inaceitável existirem atrasos de duas horas e meia. Operamos em 240 aeroportos e não vemos estes problemas noutros locais. Não é uma boa imagem para o aeroporto e, inevitavelmente, vai impactar o turismo em Portugal a longo prazo”, acrescenta ainda.

Recorde-se que na semana passada, a Comissão Europeia sugeriu o recurso ao antigo sistema de controlo de fronteiras, com verificação e carimbos nos passaportes face aos problemas reportados na infraestrutura aeroportuária de Lisboa.

Também a Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) já veio apontar o dedo aos obstáculos na implementação do EES, alertando para os impactos que as longas filas no aeroporto estão a ter na experiência dos turistas.

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