O turismo na área da Grande Lisboa começou a dar sinais de retração com as taxas de ocupação e os preços médios nos hotéis a entrar num ciclo de estagnação. Os constrangimentos no aeroporto da Portela, agora aliados aos desafios no novo sistema de controlo europeu de fronteiras, e o crescimento da oferta de alojamento turístico na cidade são apontados pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) como os principais fatores para a desaceleração da atividade na capital portuguesa.“Lisboa cresceu muitíssimo nos últimos anos, ocupou o lugar da frente a bater-se com as grandes capitais europeias, mas, claramente, o espaço para crescer está limitado, em primeiro lugar por causa da capacidade do aeroporto. Em segundo lugar, no próximo ano haverá 2400 novas unidades de alojamento a serem descarregadas no mercado”, explicou esta quarta-feira, 15 de outubro, a vice-presidente executiva da associação que representa os hoteleiros.Cristina Siza Vieira, que falava num encontro online com jornalistas a propósito da apresentação do inquérito realizado pela AHP ‘’Balanço Verão & Perspetivas Outono 2025’’, salvaguardou que, também do lado da oferta, o cenário está a refrear. “Esperamos agora um abrandamento na oferta que irá crescer cerca de 2%, é uma grande queda face aos 6% do ano anterior. A oferta estava a crescer no último ano a um ritmo superior e está a existir uma quebra porque não é possível crescer muito mais. Sky is not the limit”, disse.A responsável relembrou que a taxa de ocupação dos hotéis “tinha crescido muito”, tendo caído ligeiramente este ano. “As restrições do aeroporto, agora com o agravamento do novo sistema de controlo de fronteiras e esta situação de nova oferta a entrar no mercado, indicam que os saltos de crescimento que temos vindo a dar se vão estabilizar”, perspetiva. Ainda assim, garante que a hotelaria da cidade não irá responder com uma baixa de preços. “Não me parece que a tendência da hotelaria seja a de baixar preços. Pode haver pequenos acertos, mas o preço é muito elástico e varia muito. É normal que possa haver flutuação, mas não com queda de preços”, assegurou.No inquérito realizado pela AHP, que passa em revista o desempenho das várias regiões do país durante os meses de verão, a região da Grande Lisboa registou a quebra mais acentuada nos preços no mês de junho. "Foi a região que mais se destacou pela negativa face ao ano passado", enquadrou a vice-presidente executiva.No cômputo geral da época alta, as conclusões do estudo apontam para um crescimento moderado no mapa nacional. "Houve uma desaceleração na maioria do país com algumas estagnações em Lisboa e Setúbal e quebras nos Açores e no Centro", enquadrou Cristina Siza Vieira. O Algarve e a Madeira foram as estrelas da época alta, apresentando a melhor performance nos indicadores-chave. Entre junho e setembro, a Madeira registou uma taxa de ocupação de 91% com um preço médio de 173 euros, um crescimento de 7% face ao ano passado. Já no Algarve, a taxa de ocupação fixou-se nos 88% com um preço médio no período de 206 euros, um avanço homólogo de 6%. ."Novo sistema de controlo de fronteiras é uma dor de cabeça".Cristina Siza Vieira deixou ainda críticas ao novo sistema europeu de controlo de fronteiras. “É um desafio e uma dor de cabeça, as coisas não estão a correr nada bem. Temos tido dias críticos e com uma pressão gigantesca que se reflete na hotelaria”, lamentou. Recorde-se que este novo sistema de controlo de fronteiras para cidadãos extracomunitários entrou em funcionamento em Portugal e nos restantes países do espaço Schengen no passado domingo. As entradas e saídas dos passageiros passam agora a ser registadas por via eletrónica em substituição do antigo sistema de carimbo de passaportes.A implementação do sistema tem originado longas filas com elevados tempos de espera, tanto nas partidas como nas chegadas. "É uma péssima notícia e está a colocar risco para os passageiros; a experiência é fortemente negativa e coloca em risco o hub da TAP porque se perdem ligações", alertou. A ANA, gestora dos aeroportos nacionais, disse ontem que o novo sistema de controlo RAPID tem apresentado problemas no seu funcionamento, defendendo a necessidade de definir um tempo máximo de espera. Em declarações à agência Lusa garantiu ainda estar a colaborar com as autoridades a apoiar os passageiros.Já esta quarta-feira, a Comissão Europeia sugeriu o recurso ao antigo sistema de controlo de fronteiras, com verificação e carimbos nos passaportes, perante notícias de problemas no novo registo eletrónico para nacionais de países terceiros..Privatização faz subir valorização da marca TAP para 214 milhões de euros.Novo sistema europeu de controlo de fronteiras entra em funcionamento em Portugal