A economia chinesa, que por vezes disputa com os Estados Unidos (EUA) o lugar de maior do mundo, registou um ligeiro abrandamento no terceiro trimestre, mas os analistas consideram que a atividade geral até está a correr melhor que o esperado e que a China está a conseguir, ao nível do seu gigantesco sector exportador, "mais do que compensar" os efeitos destrutivos da guerra comercial decretada pelo Presidente dos EUA em março deste ano porque, diz um novo estudo, está a vender muito mais para outras regiões do globo, designadamente para os vizinhos asiáticos, África e Europa.A taxa de variação homóloga da economia chinesa "caiu ligeiramente para 4,8% (vs. 5,2% no trimestre anterior), o valor mais baixo do último ano", no entanto, "a economia chinesa continua a mostrar robustez e conseguiu manter uma taxa de crescimento anualizada de 4,5% nos primeiros três trimestres do ano", sendo que o crescimento registado neste trimestre (os referidos 4,8%) até ficou "ligeiramente acima das expectativas do consenso dos analistas", que apontavam para 4,7%, indica um estudo do Banco BPI, divulgado esta segunda-feira.O BPI Research refere que se assiste a "uma reaceleração das exportações chinesas, que registaram um crescimento homólogo de 8,3% em setembro (vs. 4,3% em agosto), constituindo o ritmo de crescimento mais acelerado desde março, quando a economia global antecipava as tarifas americanas"."Embora as exportações para os EUA continuem a cair de forma significativa (-27% em setembro; -16,9% no acumulado do ano), o impacto é mais do que compensado por aumentos significativos nos fluxos de exportação para outros destinos."A lista de mercados externos em forte expansão é grande. Segundo o gabinete de estudos do BPI, "entre janeiro e setembro, as exportações para o Vietname (um dos principais parceiros comerciais da China e uma plataforma fundamental para redirecionar os fluxos comerciais) cresceram 22,3% (vs. 17,6% em 2024)".A par disso, as exportações para os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, composta por Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname) "cresceram 14,7% (vs. 12% em 2024), tendo ainda crescido 12,9% para a Índia (vs. 2,4% em 2024)".As importações chinesas "também recuperaram em setembro (7,5% em termos homólogos vs. 1,3% anteriormente), aumento esse explicado, em parte, pela acumulação de stocks, com acelerações substanciais nas importações de chips e de diversas matérias-primas", refere a mesma análise.Recorde-se que estes dados mais recentes da prestação da economia chinesa surgem num momento decisivo do planeamento económico do país.As autoridades de topo da China – o plenário do Comité Central do Partido Comunista Chinês decorre entre 20 e 23 de outubro, em Pequim – devem anunciar na quarta-feira as diretrizes e metas para a economia e o país no novo plano quinquenal para o período 2026-2030, do qual será revelado um primeiro sumário.Arrefecimento interno generalizadoComo referido, o sucesso do sector exportador também está a compensar o arrefecimento da economia interna chinesa, um fenómeno que já vem de alguns anos a esta parte, mesmo antes da batalha das tarifas.Os economistas do BPI referem que "os indicadores de atividade revelam uma desaceleração no terceiro trimestre, embora com nuances".No consumo das famílias, "observou-se uma desaceleração do crescimento", confirmando "o impacto do consumo interno no crescimento do PIB chinês na segunda metade do ano, explicado pelo esgotamento progressivo do ímpeto do programa de incentivos fiscais à aquisição de bens de consumo duradouros".No investimento, há um abrandamento que chega a ser "significativo" nas áreas urbanas. Os problemas manifestam-se tanto no sector residencial como no industrial, "refletindo uma crise imobiliária perene e um excesso de capacidade persistente no setor da indústria transformadora", diz o BPI.Voltando às exportações, o gabinete de estudos considera que "apesar da trégua comercial negociada até novembro, as tarifas impostas pelos EUA às importações provenientes da China mantêm-se em níveis historicamente elevados, com uma tarifa média efetiva próxima dos 40% (vs. cerca de 15% no final de 2024), considerando as isenções e taxas setoriais"."Desacoplamento rígido""Após uma escalada que começou sob o pretexto da crise do fentanil e que culminou na sequência de contramedidas tarifárias anunciadas após o Dia da Libertação [nome de batismo dado por Trump], as negociações empreendidas entre os dois países parecem ter evitado um cenário de desacoplamento rígido, embora os últimos episódios de ameaças mútuas e novas restrições confirmem que os riscos de uma nova escalada protecionista continuam a ser consideráveis", indica o estudo.Segundo os mesmos analistas, "embora os últimos meses tenham sido profícuos em reuniões bilaterais (em Genebra, Londres, Estocolmo e Madrid), a missão de estabilizar as relações entre as duas potências continua complicada"."O progresso tem sido limitado (em Madrid, as negociações parecem ter-se limitado à venda da filial americana da aplicação TikTok), e ambos os países continuam a testar os pontos fracos do seu rival."A China continua na ofensiva mediante "o controlo dos fluxos globais de matérias-primas críticas (por exemplo, as terras raras) e à sua capacidade de restringir os fluxos de importação (no caso da soja)".Já os EUA, exercem poder sobre os chineses com "o seu domínio em tecnologias-chave, particularmente software, e à sua capacidade de mobilizar terceiros países na contenção da China (mais recentemente no caso do México, ou os controlos de exportação impostos às cadeias de valor de chips avançados, em 2022-2023)", observa a mesma análise.