Desportos
12 dezembro 2019 às 19h33

Miguel Oliveira declara a ambição de ser campeão do mundo em três anos

Piloto do Moto GP foi ao Palácio de Belém contar a sua história ao Presidente da República. Tudo começou quando tinha três anos anos e recebeu uma moto 4 de presente. Estreia na prova rainha do motociclismo aconteceu este ano.

A ambição é desmedida. Miguel quer ser campeão do mundo de Moto GP em três anos e vai trabalhar para isso. Para isso e para honrar a bandeira de Portugal e fazer ecoar a A Portuguesa nos holofotes do mundial de motociclismo. Foi essa a mensagem que o piloto português foi passar ao Palácio de Belém, onde o presidente Marcelo e os alunos da Escola Básica Carlos Ribeiro (Seixal) e da Escola Básica e Secundária de Idães (Felgueiras) o ouviram atentamente e a quem incentivou a estudar.

Tudo começou quando tinha três/quatro anos quando o pai lhe ofereceu uma moto 4. "Cresci num ambiente de motos e acabei em cima de uma", começou por explicar o jovem piloto de Almada, que aos oito anos decidiu experimentar outras velocidades: "Durante um ano competi nos karts e consegui um troféu numa corrida em Palmela e tudo, mas isso deu-me a ideia de que os karts tinham rodas a mais (risos)."

Foi então que o Natal de 2003 lhe começou a moldar o destino. "O meu pai e um amigo compraram uma moto a meias e colocaram-na no meio da minha sala em cima de uma palete. Fiquei radiante, era uma criança, mas o meu pai disse-me que para a moto sair da palete eu tinha de continuar a ser bom aluno. Percebi a mensagem. Entendi que para ter o queria tinha de estudar e ser bom aluno", contou o piloto, explicando a importância de acabar a escola mesmo que tenham um futuro no desporto.

Nesta altura Miguel era apenas um miúdo e "havia pouca informação sobre o que um miúdo de nove anos pode fazer com uma moto". Por isso tiveram de trilhar um caminho que se revelou "com muitas curvas". O "esforço financeiro" que era exigido para que ele se mantivesse nas pistas "era tremendo" e só com a ajuda e apoio de alguns "padrinhos" foi possível "olhar para o motociclismo mais a sério" e "deixar de o ver como algo que fazia com o pai e por diversão".

Isso exigia mais entrega por parte dele. Tinha 14 anos e estava numa fase crucial da escola. Teve de "dizer que não a algumas idas ao cinema e ao futebol com os amigos para treinar a sério". Muitas vezes levantava-se às seis da manhã para ir para o ginásio treinar a parte física e conseguir despachar-se a tempo de ir para a escola às 8.00. Passou de piloto amador a profissional e a exigência foi aumentando. Chegou a uma altura em que era "difícil concentrar-se nas aulas", pois tinha a cabeça na pista, mas não desistiu dos estudos e chegou à Universidade. Está no segundo ano de medicina dentária: "Temos de acreditar no nosso valor e na nossa capacidade de trabalho."

Mais de 100 quedas e vários ossos partidos

Na adolescência percebeu que o sonho que tinha aos 10 anos - ser piloto de Moto GP - era cada vez mais possível. Mesmo que as quedas ameacem acabar com o sonho. "Já caí várias vezes e parti vários ossos (risos). Teve um ano em que caí mais de 100 vezes e algumas quedas feias que meteram ambulância tudo. Um delas foi em Fátima e vi o meu pai muito assustado. Perguntei-lhe se queria que eu desistisse e ele respondeu que se me continuava a divertir não tinha porquê parar", confessou o piloto que em 2015 ouviu-se pela primeira vez A Portuguesa num mundial de motociclismo.

Nesse ano, Miguel ainda ouviu o hino mais seis vezes, antes de carimbar a subida ao Moto2, a antecâmara do MotoGP, onde voltou a fazer tocar o hino mais meia dúzia de vezes, ganhando o desejado bilhete para a maior competição do automobilismo mundial. Foi lá que encontrou o ídolo, Valentino Rossi e parou de o idolatrar: "Para mim ele nem era de carne e osso, mas a partir do momento em que eu chego lá, onde ele já está há anos, ele passa a ser mais uma pessoa, um piloto que se estiver à minha frente eu quero ultrapassar. Para mim qualquer piloto à minha frente é rival, é para ultrapassar. "

Perante Marcelo, Miguel fez questão de manifestar o quanto o orgulha correr por um País."O hino é viciante, é aquilo que verdadeiramente dá sentido à corrida. Ter várias nacionalidades a lutar por uma vitória e só um faz tocar o hino. Faz-nos sentir que estamos ali a representar alguma coisa e eu estou ali a representar o meu país. Para mim, tem um sentido especial porque a letra do nosso hino é forte, também representa um momento de luta e conquista e é isso que eu sinto quando estou lá em cima no pódio", confessou o atleta.

E como é o único português a correr na prova rainha do motociclismo não tem de "dividir a atenção dos portugueses". "Sei que quando corro, os portugueses estão todos a torcer por mim e nada se compara a corresponder a esse carinho", afirmou, antes de revelar que nunca sentiu necessidade de esfregar as suas vitórias na cara de ninguém - isto em resposta a uma pergunta de um miúdo.

"Ser campeão do Mundo em três anos"

Miguel Oliveira acabou a época lesionado. "A época que parecia ser de sonho quase foi de pesadelo", confessou o piloto que foi operado há um mês e ainda está a recuperar. Marcelo Rebelo de Sousa quis saber "se é de borracha" e como lida com as lesões e ganha ânimo para regressar. O piloto explicou que quando cai "só pensa em se levantar" e quando o médico lhe diz que leva x tempo a recuperar ele tenta "reduzir esse tempo a metade".

Agora há que pensar em 2020, ano em que "surgirá a melhor versão do Miguel Oliveira". A pré-época começa a 2 de fevereiro e ele quer estar pronto porque o objetivo é muito claro: Ser campeão do mundo. "Acho que em três anos é possível. Como o vou fazer? Vai ser obviamente muito trabalho e com a dedicação que me é conhecida por todos. Sei que tenho a capacidade para lutar por vitórias e pódios. Para já, tenho de continuar focado naquilo que é o meu trabalho na KTM e tirar o maior partido possível da mota e, passo a passo, pensar naquilo que são os meus objetivos daqui a uns anos", avançou o piloto português da equipa Tech3 KTM, à margem da iniciativa Desportistas no Palácio, promovida pelo Presidente da República e que já levou a Belém atletas como Rosa Mota, Jorge Fonseca, João Sousa, Frederico Morais, Patrícia Mamona, Telma Monteiro, Nélson Évora, Ticha Penicheiro, Elisabete Jacinto e Joana Pratas, por exemplo,

A finalizar, e já em conversa com os jornalistas, Miguel Oliveira desvalorizou o recente "desentendimento" com a sua equipa, por não ter sido promovido à equipa principal. A moto pesa 160 Kg e dá 347 km por hora por isso tem de ser tratada com "carinho".