O dia em que Fernando Santos pediu a CR7 para deixar os truques de circo
No dia em que reencontrou Cristiano Ronaldo em Lisboa, Rio Ferdinand lembrou o primeiro encontro, em 2003, na inauguração do Estádio José Alvalade. "Eu estava no banco e vi o que Cristiano fez a John O"Shea, coitado. Ao intervalo perguntei-lhe [a O"Shea] porque estava a ter tantas dificuldades e ele virou-se para mim e disse: "Entra lá tu e verás." Fiquei sem palavras. E disse ao chefe [Ferguson] para se certificar que ele viajava connosco para Manchester", contou, ontem, o antigo central do Manchester United, recordando: "Tínhamos falhado a contratação de Ronaldinho e quando vimos Ronaldo pensámos que ele podia ser melhor."
Ferdinand foi o mestre-de-cerimónias escolhido pela Nike para o evento de apresentação mundial das novas chuteiras de CR7, inspiradas no início da carreira do extremo no Sporting. E por isso também estavam lá, na Cidade do Futebol, Aurélio Pereira, Fernando Santos, Quaresma e Miguel Paixão. Todos eles tiveram um papel importante no crescimento do "fraquinho".
Fernando Santos recordou até que um dia se virou para ele e lhe disse: "Comigo vais jogar sempre, mas tens de deixar de fazer esses truques de circo. E tens coisas a melhorar: saltas muito, mas de cabeça não dás uma. No dia seguinte, quando cheguei ele já lá estava a treinar, com os amigos a meter-lhe bolas para ele cabecear, e aí pensei: "A trabalhar assim, com este talento e esta atitude, vai ser o melhor do mundo"", contou o atual selecionador, antes de confessar que se arrependeu de o pôr a jogar num certo jogo: "Pu-lo a jogar uma hora com o Manchester e arrependo-me: na semana antes tinha perdido o Quaresma para o Barcelona, dois dias depois foi ele para Manchester. E eu que estava à espera de ser campeão nesse ano... Não esperava era de 13 anos depois vir a ser campeão da Europa com eles os dois."
[artigo:5479762]
Nos tempos da formação, no Sporting, Ronaldo era inseparável de Miguel Paixão. "Íamos ter com as nossas namoradas, ao cinema e ao teatro", respondeu o amigo e atual responsável pelo museu do capitão, para gargalhada geral, antes de contar o que CR7 gostava mesmo de fazer: "Ir ao salão de jogos, jogar nas máquinas, matraquilhos ou pingue-pongue... e detestava perder. Quando estávamos para ir embora e ele estava a perder, metia a mão no bolso, tirava uma moeda, e dizia "é a última". Era se ele ganhasse! Se não..."
Como Ferdinand "picava" Ronaldo
Rio Ferdinand nunca tinha visto ninguém como CR7. "A técnica, a velocidade, a explosão, a coragem para levar a bola. Mas também a determinação e o profissionalismo, sendo tão jovem. Era incrível. Toda a gente em Manchester dizia então que ele ia ganhar a Bola de Ouro. E ganhou... e este ano merece outra vez", disse o inglês, sem esconder a admiração pelo português: "Adorava o Maradona, o Ronaldo [brasileiro] era brilhante, tivemos jogadores como Pelé ou Cruyff... mas não fizeram o que ele está a fazer. Isto é um nível diferente, é elite, algo para aproveitarmos."
Em Manchester, o defesa costumava "provocar" CR7. "Eu dizia: "o Ronaldo é um grande jogador, bom tipo." Depois virava-me para o Cristiano e dizia: "Não és tu, é o verdadeiro Ronaldo." Sabia que isso estimulava. E lembrava-lhe a responsabilidade da camisola 7: "Best. Cantona. Robson. Beckham... Cristiano?! Ainda vais ter de trabalhar mais." Ele ria-se, participava sempre nas brincadeiras, mas por dentro..."
[artigo:5487311]
E hoje, se tivesse de dizer a José Mourinho para levar alguém para o Man. United, como o fez com Ferguson em 2003, quem seria? "(Renato) Sanches. Se eu fosse olheiro do Manchester ele já estava lá. Levava-o pelos cabelos. Agarrava-o e "vamos embora". É o jogador moderno: agressivo, forte, poderoso, com técnica, com passe, com remate. Gosto mesmo dele", respondeu Rio Ferdinand.