Preeti Panigrahi: ser ou não ser mulher.
Preeti Panigrahi: ser ou não ser mulher.D.R.

Um retrato feminino vindo da Índia

Após Payal Kapadia, eis mais uma revelação do cinema indiano: Schuchi Talati estreia-se na longa-metragem com Girls Will Be Girls, crónica de um amor contrariado pelas regras familiares e sociais.
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Nascida em 1984, Shuchi Talati é mais uma realizadora da Índia a motivar uma renovada atenção à produção cinematográfica do seu país. Na sequência do impacto de All We Imagine as Light, de Payal Kapadia (Grande Prémio de Cannes), Girls Will Be Girls surge como uma longa-metragem de estreia também marcada por uma atenção muito especial, temperada de carinho, pelas suas personagens femininas.

Num contexto mediático de formatação pueril do cinema, talvez seja útil lembrar que a história de Mira (Preeti Panigrahi) e sua mãe Anila (Kani Kusruti) não pode ser reduzida ao esquematismo de um banal panfleto “existencial”. Aliás, é a própria realizadora que, numa nota de apresentação do filme (divulgada no dossier de imprensa), nos alerta para as especificidades da sua visão: “Embora o filme esteja enraizado na Índia dos anos 90 e seja uma observação minuciosa sobre género, sexualidade e o patriarcado opressivo, não me interessa apresentar uma grande tese nem pregar sobre questões sociais. Para mim, é essencial que Mira e Anila não sejam definidas apenas pela sua identidade como mulheres indianas e que não tenham de representar toda a sua comunidade.”

Tudo acontece num colégio interno no sopé dos Himalaias, com Mira, estudante exemplar a quem é atribuído um cargo de “coordenação” dos colegas (raparigas e rapazes) a apaixonar-se por Sri (Kesav Binoy Kiron), desse modo suscitando a vigilância apertada de Anila. O filme é, todo ele, uma teia de acontecimentos minimalistas, carregados de nuances emocionais, muitas delas claramente sexuais. Digamos, para simplificar, que Sri já viveu experiências amorosas que suscitam a curiosidade de Anila, de tal modo que a mãe acaba por estabelecer uma relação de cumplicidade com Sri que confunde ainda mais a sua filha...Encenado através de um realismo direto e pudico (em particular nos momentos explicitamente sexuais), Girls Will Be Girls é a afirmação de um genuíno olhar de cineasta. E tanto mais quanto Schuchi Talati se revela uma talentosa diretora dos seus intérpretes. Consequência prática: as personagens não são “porta-vozes” de nenhuma ideologia, mas seres realmente vivos, complexos e contraditórios.

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