Neste momento, as conservadoras-restauradoras estão a “retificar as massas, que são massas de preenchimento que foram colocadas em zonas de lacuna, portanto, onde não existe camada pictórica e pinturas, onde há falta de material”.
Neste momento, as conservadoras-restauradoras estão a “retificar as massas, que são massas de preenchimento que foram colocadas em zonas de lacuna, portanto, onde não existe camada pictórica e pinturas, onde há falta de material”. Foto: Paulo Spranger

Painéis de São Vicente ganham nova vida no silêncio de um museu vazio

Equipa de conservação e restauro continua a trabalhar na obra atribuída a Nuno Gonçalves, durante encerramento do museu para obras. Objetivo é estarem prontos para reabertura, na 2.ª metade de 2026
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Num piso vazio e silencioso do Museu Nacional de Arte Antiga, as luzes e a movimentação por detrás do vidro, ao fundo, chamam a atenção. Debruçadas sobre um enorme painel, as duas conservadoras-restauradoras trabalham. Encostadas à parede estão as das seis pinturas atribuídas a Nuno Gonçalves e que formam os Painéis de São Vicente, uma das obras mais icónicas da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, que se encontra fechado para obras ligadas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) desde 29 de setembro.

“Estou a retificar estas massas, que são massas de preenchimento que foram colocadas em zonas de lacuna, portanto, onde não existe camada pictórica e pinturas, onde há falta de material”, explica Glória Nascimento. Apontando para o painel, a conservadora-restauradora explica que numa intervenção passada, colocaram uma massa e “houve a necessidade de nivelar. É o que estou a fazer agora. Em simultâneo com outros trabalhos, como, por exemplo, a aplicação de novas massas e de bases de cor”. “Como vê, aqui é uma cor amarela”, diz Glória Nascimento enquanto aponta para a pintura em cima da mesa.

Foto: Paulo Spranger

Encostado à parede está o Painel do Infante onde uma massa no nariz do Infante D. Henrique chama a atenção. “Neste caso específico, havia uma massa que foi aplicada numa intervenção anterior que estava degradada. Foi retirada e foi colocada uma nova massa de preenchimento. A fase seguinte será aplicar uma camada de verniz e começar a fazer a integração cromática”, continua Glória Nascimento.

Restauro decorre sob supervisão  de Joaquim Caetano, anterior diretor do MNAA  e atual conservador  da Área  da Pintura.
Restauro decorre sob supervisão de Joaquim Caetano, anterior diretor do MNAA e atual conservador da Área da Pintura. Foto: Paulo Spranger

O restauro decorre sob supervisão de Joaquim Caetano, anterior diretor do MNAA e atual conservador da Área da Pintura, que vai conversando com a sua sucessora, Maria de Jesus Monge, enquanto Glória vai dando as explicações e Rita Oliveira continua a trabalhar.

O objetivo, garantem, é ter o trabalho terminado a tempo da reabertura do MNAA, que Maria de Jesus Monge coloca algures no segundo semestre de 2026.

Desde a sua descoberta em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, em Lisboa, que esta obra está envolta em mistério. Sem assinatura nem datação inequívocas, é atribuída ao pintor régio Nuno Gonçalves e estima-se que tenha sido pintada na segunda metade do século XV. “Agrupamento de 58 personagens em torno da dupla figuração de São Vicente, representativos da Corte e de vários estratos da sociedade portuguesa da época, em ato de veneração ao patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe”, como se lê no site do MNAA, a obra é um dos tesouros da pintura nacional.

E como é restaurar uma pintura tão icónica? “A responsabilidade do restaurador-conservador é igual para todas as peças”, diz Glória Nascimento. Rita Oliveira concorda, mas garante: “Temos consciência da importância dos Painéis. Mas a nossa postura perante a obra é igual”, antes de acrescentar que “este é um tesouro nacional, é de todos nós. Portanto, estamos a intervir numa coisa que é nossa.”

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