E se fosse possível mudar o passado? Na peça Nariz de Cleópatra, pois claro! é o que acontece quando um grupo viaja para a altura da Guerra de Troia na procura da felicidade e riqueza. Esta peça dirigida por Cristina Carvalhal vai estrear esta sexta-feira, dia 12, no Teatro Variedades, em Lisboa, onde estará até dia 5 de outubro. Nariz de Cleópatra, pois claro! baseia-se na obra teatral surrealista portuguesa de 1962, de Augusto Abelaira intitulada Nariz de Cleópatra. Cristina Carvalhal propôs esta produção ao Teatro Nacional D. Maria II. “No movimento de ler autores portugueses, li esta peça. E fiquei muito entusiasmada, porque é todo um absurdo”, explicou em conversa com o DN. Um grupo de cinco pessoas do século XXIII viajam no tempo numa nave para a época da Grécia Antiga e alteram a História para que os Gregos percam a Guerra de Troia. O objetivo é serem ricos e felizes. Ao voltar ao século XXIII, todos os papéis estão trocados. . O texto de Augusto Abelaira foi escrito durante a ditadura e a guerra colonial com uma crítica ao sistema. “A ascensão do fascismo está a acontecer em todo o mundo. Portanto, é sobre isto que estamos a falar, sobre a falta de liberdade, a desigualdade, privilégios... Uma sociedade cada vez mais desigual”, refere Cristina Carvalhal sobre a peça. “Tudo continua a ser sobre pessoas privilegiadas explorarem outras pessoas para serem felizes”, acrescenta.O título original Nariz de Cleópatra surge da frase de Blaise Pascal - “Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno, toda a face da terra teria mudado”. A esta frase e ao título de Augusto Abelaira, Cristina Carvalhal acrescenta “pois claro!”. Ao contrário do que acontece no original, nesta peça existem várias personagens femininas em vez de apenas uma. “O comandante e o professor viraram a comandante e a professora. Isso levou a que tivesse que alterar um bocadinho ali a trama”, sublinha a encenadora. A partir do segundo ato da peça surge um coro que vai citando excertos da Ilíada, que fazem parte do texto original e são ditos tanto por personagens como vozes exteriores. Ao longo da peça, Cristina Carvalhal introduziu no diálogo expressões atuais como, por exemplo, “masculinidade tóxica”, “armário”, o privilégio do “macho hétero” ou “cisbranco”. “Acho que não estou a trair o espírito de Abelaira. É só trazê-lo para os dias de hoje com os conceitos que hoje nos informam”. . Durante o espetáculo são mostradas imagens de diferentes guerras, desde a II Guerra Mundial até à Faixa de Gaza. “A ideia era mais uma vez chamar a atenção para o que é a guerra, não puxando pelo sentimento e pela desgraça pessoal, mas pela sua imagem gráfica. É uma das coisas que hoje me perturba imenso é estarmos a assistir a um genocídio à hora de jantar, enquanto comemos, mas nada fazermos. E ainda temos dúvidas sobre chamar aquilo um genocídio”.Esta peça critica a sociedade, o privilégio e também as relações. Outra crítica que Cristina menciona é a “branquitude”. “A presença de um Ulysses negro aqui, a lembrar-nos também que esse privilégio é essencialmente branco. E essa é uma realidade com que nós ainda não conseguimos lidar, porque não temos o mínimo consciência do que é isso”, sublinha.As personagens desta peça contam com a interpretação de Alberto Magassela, Ana Sampaio e Maia, Carla Maciel, Heitor Lourenço, João Grosso, José Neves, Manuela Couto, Nuno Nunes e Sílvia Filipe. TTrata-se do último de seis projetos da programação do Teatro Nacional D. Maria II a apresentar-se no Teatro Variedades . Durante o seu tempo em cena, o espetáculo conta com sessões com audiodescrição, nos dias 26 e 28 de setembro, e uma sessão com interpretação em Língua Gestual Portuguesa a 28 de setembro. O preço dos bilhetes variam entre 14 e 17 euros. .“Temos de ser imaginativos e encontrar formas de atrair a São Carlos jovens e famílias”.Ian Anderson: “Não sou muito fã de música. Em 1974, praticamente deixei de ouvir música”