Um thriller sobre o IRA que é, afinal, um western. Proposta de Robert Lorenz, finalmente nos nossos cinemas após uma passagem pelo Festival de Veneza do ano passado. O cineasta que é um dos produtores dos últimos Clint Eastwood e que o dirigiu em As Voltas da Vida, em 2012, faz sobretudo um objeto de puro entretenimento dentro dos moldes da variação do thriller do “bom malandro”.O “bom malandro” em questão é Liam Neeson, aqui a compor um veterano criminoso irlandês a querer regenerar-se no último capítulo da vida. Finbar, de seu nome, é viúvo, amigo do chefe da polícia local e adepto de uma comunidade pacífica. A sua tranquilidade é posta em causa quando no seu vilarejo um pelotão do IRA chega para esconder-se após um atentado terrorista que matou inocentes. Um pelotão chefiado por uma sanguinária mulher, Doirean, interpretada com firmeza pela nomeada ao Óscar Kerry Condon. E quando Finbar percebe que os seus estão a ser ameaçados já se sabe: é tempo de voltar às armas.Ou seja, uma intriga que incorpora o imaginário dos Sarilhos do IRA com um certo molde do policial ancorado no molde do herói solitário durão. Mas a dureza desta personagem de Liam Neeson é construída com régua e esquadro - tudo é feito em função do seu charme de fadiga. Liam Neeson a ser depuradamente Liam Neeson. Daqueles duros que têm coração, mas que nunca destilam pieguice, o que sai antes é um humor sequíssimo por entre a moldura da anedota irlandesa e a firmeza drástica que o sotaque chama. Sim, In the Land of Saints and Sinners tem sotaque irlandês cerrado, mas nunca em modo de bibelot..Também nada decorativas são as paisagens de Donegal que carregam consigo uma atmosfera de tranquilidade antes da tempestade. Sim, o filme fica explosivo nos momentos em que tem de ficar, mas nunca abusa de tiroteios espalhafatosos, nem de perseguições ruidosas. Dir-se-ia mesmo que há uma contenção que cria o ambiente certo para os tais duelos de “western”.É nessa honestidade de intenções que Na Terra de Santos e Pecadores assume os seus méritos como objeto de velha guarda, simples e eficaz. Sabe jogar muito bem com os silêncios e com uma violência encenada à base da precisão, sem que com isso se anule um pensamento sobre a moral da violência e a sua fatalidade (a violência é filmada com um cuidado gráfico sem nada a apontar). Ao mesmo tempo, é um veículo de ação para Liam Neeson, mas não levanta em demasia a bandeirinha dessa condição. De alguma forma, é Neeson a jogar em casa com um à vontade estonteante, mesmo quando o argumento tem alguns buracos que dão à história um lado bastante forçado.Numa altura em que quase não nos chegam thrillers adultos e comedidos, um filme como este faz figura de ave rara. Robert Lorenz soube arquitetar bem um thriller que nunca perde a unidade. O seu ar compacto parece ter um upgrade maior quando ganha contornos de estudo de personagem com o despojamento do herói de Liam Neeson.