Mais 11 mulheres acusam Plácido Domingo de abuso sexual e conduta indevida

Da nova denúncia fazem parte também empregados dos bastidores, que explicaram existir um esforço para proteger as jovens cantoras do cantor de ópera.
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Relatam "apalpões indesejados, pedidos persistentes de reuniões privadas, telefonemas noturnos e tentativas repentinas de beijos nos lábios". Há mais onze mulheres que se juntam às nove que acusam o tenor espanhol Plácido Domingo de abuso sexual e conduta indevida durante produções de ópera, noticiou esta quinta-feira a agência Associated Press (AP).

Em agosto, as denúncias de oito cantoras e uma bailarina, de assédio sexual por parte do cantor de 78 anos, ao longo de mais de três décadas, abriram uma investigação por parte da Ópera de Los Angeles, onde Plácido Domingo é diretor-geral. Das nove pessoas que o acusam, apenas a meio soprano Patricia Wulf aceitou divulgar o seu nome, tendo as restantes pedido anonimato por temer represálias profissionais e pessoais. Sete das nove mulheres disseram acreditar que as carreiras sofreram por terem rejeitado os avanços sexuais do tenor.

A lista de acusações aumenta agora com um novo grupo de 11 mulheres. Mas também apenas uma autorizou ser identificada: Angela Turner Wilson, colega de Domingo quando este dirigia a Ópera de Washington, na ópera "Le Cid" da temporada 1999/2000. De acordo com a artista, o tenor espanhol entrou no seu camarim antes de uma atuação e tocou-a de forma imprópria, o que a fez sentir-se "humilhada".

Adicionalmente, seis outras mulheres relataram à AP atitudes que lhes causaram desconforto, em particular uma cantora que Plácido Domingo repetidamente convidou para sair, depois de a ter contratado para uma série de concertos na década de 1990.

Mas a denúncia vai além das vozes destas mulheres. Quase 30 outras pessoas ligadas à indústria musical, desde cantoras a músicos de orquestra, passando por professores de canto e administradores, confirmaram ter testemunhado comportamentos impróprios de índole sexual por parte do cantor. Vários empregados dos bastidores explicam que existia um esforço para proteger as jovens cantoras do tenor, evitando que ficassem sozinhas em algum espaço com o tenor.

Mas a investigação inicial da AP, em agosto, contava com cerca de 50 pessoas entrevistadas que confirmavam comportamentos impróprios.

Espetáculos cancelados

Desde a publicação da investigação, a Orquestra de Filadélfia e a Ópera de São Francisco anunciaram os cancelamentos das atuações programadas de Domingo, enquanto outros assumem acompanhar o caso, como o comité organizativo dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

A Ópera Nacional em Washington, onde foi diretor durante 15 anos, afirmou em comunicado ter políticas de "zero tolerância" relativamente a escândalos deste género.

Por outro lado, o Festival de Salzburgo, na Áustria, decidiu manter os concertos previstos, ao lado de outros eventos e entidades

Contactado pela AP, Plácido Domingo não respondeu às questões específicas sobre as acusações, declarando que "as alegações destas pessoas, cujo nome não é divulgado e que remontam até há 30 anos, são profundamente perturbadoras e - da forma como são apresentadas - imprecisas".

"Ainda assim, é doloroso ouvir que posso ter incomodado alguém ou causado desconforto, não importa há quanto tempo e apesar das minhas melhores intenções. Acreditei que todas as minhas interações e relações foram sempre bem-vindas e consensuais. Quem me conhece ou trabalhou comigo sabe que não sou alguém que intencionalmente magoasse, ofendesse ou embaraçasse outra pessoa", acrescentou o cantor, que diz que "as regras e padrões" de hoje são "muito diferentes do que foram no passado".

Ao longo das suas seis décadas de carreira, o tenor interpretou 150 personagens, fez mais de quatro mil atuações e já atuou mais vezes do que qualquer outro cantor lírico no mundo.

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