Grupo nacionalista reivindica ataque à sede da Porta dos Fundos

A polícia do Rio de Janeiro está a investigar a participação de um grupo que se autodenomina de integralista e nacionalista no ataque à sede da produtora do grupo de humoristas brasileiros.
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De rosto tapado, três elementos de um grupo que se autodenomina de Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira gravou um vídeo, publicado quarta-feira no YouTube, no qual reivindicam o ataque à sede da produtora da Porta dos Fundos.

Com pouco mais de dois minutos, o vídeo mostra um dos intervenientes a ler, com recurso a voz distorcida, um manifesto enquanto é possível ver as supostas imagens do momento do ataque. Um indivíduo está a filmar e há três que lançam cocktails molotov contra a fachada da sede da produtora do grupo de humoristas brasileiros.

De acordo com o jornal Estado de S. Paulo, a polícia do Rio de Janeiro está a analisar estas e outras imagens de câmaras de videovigilância que registaram o momento do ataque, que ocorreu no bairro Humaitá, na zona sul da cidade carioca.

Num dos vídeos captados por uma das câmaras de segurança é possível identificar a matricula do veículo usado por alguns dos autores do ataque à sede da produtora Porta dos Fundos, escreve o Globo. Seriam três indivíduos e um deles estaria com o rosto descoberto. Há um dos suspeitos que terá fugido do local numa moto. Imagens que vão ser disponibilizadas à polícia, escreve o jornal.

"Não vão calar-nos", reagiu humorista Fábio Porchat

O ataque aconteceu durante a madrugada de 24 de dezembro, véspera de Natal, não tendo provocado vítimas, informou a produtora, que, em comunicado, condenou "todos os atos de violência" e disse esperar que os responsáveis "sejam encontrados e punidos".

"Não vão nos calar! Nunca! É preciso estar atento e forte...", escreveu o humorista Fábio Porchat no Twitter, partilhando uma notícia sobre o ataque à sede da produtora do coletivo de humor que fundou em 2012 com António Pedro Tabet, Gregório Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF.

O ataque acontece depois do polémico especial de Natal que a Porta dos Fundos lançou a 3 de dezembro na plataforma de streaming da Netflix. Em A Primeira Tentação de Cristo, Jesus é representado como um jovem que terá tido uma experiência homossexual e também insinua que o casal bíblico Maria e José viveu um triângulo amoroso com Deus.

A sátira, de 46 minutos, protagonizado por Gregorio Duvivier e Fábio Porchat, não agradou a grupos religiosos, que criticaram a temática abordada. Foi lançada uma petição contra o filme, com mais de dois milhões de assinaturas de pessoas que consideram que o especial de Natal"ofende gravemente os cristãos".

Evangélicos pedem indemnização

A 18 de dezembro, o deputado federal (membro da câmara baixa do Congresso) Júlio Cessar Ribeiro anunciou nas redes sociais que encaminhou um ofício ao ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, solicitando a "apuração e representação criminal" contra os humoristas da Porta dos Fundos.

O parlamentar alegou que os humoristas violaram o artigo 208 do Código Penal brasileiro ao "vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso".

Na Assembleia Legislativa do estado brasileiro de São Paulo o caso gerou um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), um instrumento legal que dá aos parlamentares o direito de investigar um facto que seja muito importante para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, económica ou social do país. Seguiram-se vários apelos ao boicote ao serviço de streaming da Netflix.

Aliás, um grupo ligado a igrejas evangélicas, no qual se inclui o presidente da câmara municipal de S. Paulo, Eduardo Tuma, avançou com uma ação contra a plataforma de streaming. É pedida uma indemnização por dano moral coletivo de um milhão de reais (cerca de 220 mil euros). A ação pede ainda indemnizações individuais em valor "não inferior a 1000 reais" (cerca de 220 euros) para os todos os cristãos que se sentam lesados com o especial de Natal da Porta dos Fundos.

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