Será difícil imaginar que o novo filme centrado na personagem mítica de Drácula — Drácula: Uma História de Amor, escrito e dirigido pelo francês Luc Besson (estreia esta quinta-feira, 21 de agosto) — venha a ocupar um lugar de destaque na longa filmografia dos vampiros. Seja como for, a sua simples existência reflete um fenómeno de popularidade que atravessa as modas das mais diversas épocas da história do cinema, incluindo o período mudo — Nosferatu (1922), de F. W. Murnau bastará como exemplo modelar.Curiosamente, a primeira inspiração dos filmes do género — o romance Drácula, uma pérola do gótico literário, escrito pelo irlandês Bram Stoker — surgiu em paralelo com o nascimento do próprio cinema: o livro foi lançado em maio de 1897, cerca de um ano e meio depois da primeira projeção pública de filmes organizada pelos irmãos Lumière (no dia 28 de dezembro de 1895). Se quisermos explorar algum paralelismo simbólico, diremos, talvez, que a vida para além da morte do rei dos vampiros encontrou uma expressão cúmplice na vocação fundadora do cinema. A saber: uma arte capaz de conservar para a eternidade as ações dos seres humanos..Luc Besson no país dos vampiros. Enfim, com um detalhe que baralha a possibilidade de tal paralelismo. Afinal de contas, mesmo quando a sua figura permanece próxima dos traços humanos (descontando as singularidades dos seus caninos...), Drácula encarna a liberdade radical da ficção, combatendo o silêncio irreversível da própria morte. O que, bem entendido, foi gerando muitas variações que estão para lá das componentes do romance de Stoker. Por vezes, tal como aconteceu em Vampyr (1932), de Carl Th. Dreyer, o cinema tratou tudo isso como uma tragédia visceral do género humano; outras vezes, o terror rimou com o humor, a ponto de um filme como Por Favor, Não Me Morda o Pescoço (1967), de Roman Polanski, se transfigurar numa sempre atual parábola política. Entre as centenas de títulos de que se faz esta história, aqui fica uma breve antologia de filmes que têm Stoker como explícita inspiração. . DRÁCULA (1931)Primeiro filme sonoro com a personagem de Drácula, com ele nasce a lenda de Bela Lugosi, ator cuja carreira ficaria marcada pela “obrigação” de repetir as poses do conde vampiro. Influenciado pelo expressionismo alemão, Tod Browning, o realizador, tornar-se-ia um especialista de contos assombrados, tendo realizado no ano seguinte o incomparável Freaks, com atores cujas deformações físicas eram muito reais — em Hollywood, seria também o início simbólico da Universal Pictures como estúdio do fantástico. . O HORROR DE DRÁCULA (1958)Inaugurava-se aqui aquele que, durante várias décadas, foi o modelo mais popular do “filme de vampiros”. De facto, a produção com chancela dos estúdios britânicos Hammer Films definiu um modelo de abordagem da personagem criada por Bram Stoker que se encarnou na figura de Christopher Lee, por certo o ator mais conhecido (e reconhecido) como intérprete de Drácula. Terence Fisher, o realizador, tornar-se-ia uma referência de culto no género de terror, ele que em 1957 já dirigira A Máscara de Frankenstein. . SANGUE VIRGEM PARA DRÁCULA (1974)Blood for Dracula no original, eis um indescritível delírio barroco que é um dos momentos emblemáticos da colaboração de Andy Warhol com o realizador Paul Morrissey. Para lá de uma célebre trilogia — Flesh (1968), Trash (1970) e Heat (1972) —, essa colaboração tinha já gerado Carne para Frankenstein (1973). No papel do vampiro, o alemão Udo Kier (então figura regular da obra de Rainer Werner Fassbinder) compõe um Drácula de poética solidão, verdadeiro fantasma de uma utopia romântica que se desvaneceu. . AMOR À PRIMEIRA DENTADA (1979)Stan Dragoti, autor de Dirty Little Billy (1972), magnífico exemplo do western crítico dos anos 60/70, assina uma comédia em que Drácula encontra uma mulher que parece reencarnar a sua paixão perdida (um pouco à maneira do novo filme de Luc Besson...). O efeito irónico começa logo na escolha de George Hamilton para o papel do conde: a pose cavalheiresca e narcisista típica do ator gera um Drácula bizarro, a tentar encontrar nos labirintos de Nova Iorque a ensanguentada melancolia da sua Transilvânia. . DRÁCULA DE BRAM STOKER (1992)Com assinatura de Francis Ford Coppola e Gary Oldman como vampiro — o título explicita a origem literária deste vampiro “fora de tempo”, já que se vivia uma época de euforia dos super-heróis (Batman Regressa, de Tim Burton, é do mesmo ano). Embora executado com os meios sofisticados que a Sony colocou ao dispor de Coppola, este insistiu em aplicar, sempre que possível, efeitos especiais muito físicos, à maneira do cinema mudo — o resultado envolve a nostalgia de uma ingenuidade formal que se perdeu. . HOTEL TRANSYLVANIA (2012)Aqui começou aquela que poderá ser considerada uma das mais inesperadas “franchises” da produção de Hollywood neste século. Com assinatura de um requintado desenhador, o americano Genndy Tartakovsky, nascido em Moscovo, este seria o primeiro capítulo de um universo de desenhos animados centrado num conde Drácula bem diferente da tradição, apostado na indústria hoteleira, sempre hiper-protector da sua filha Mavis — Adam Sandler e Selena Gomez, respetivamente, dão voz a essas duas personagens centrais. . DRÁCULA 3D (2012)Um pouco com os filmes de vampiros, a moda das três dimensões vai e vem, procurando mobilizar novos espetadores. Neste caso, a aliança entre o género de vampiros e a técnica do 3D tem a inconfundível assinatura do italiano Dario Argento, autor do célebre Suspiria (1977). Não será uma das grandes proezas da sua filmografia, mas reflete as singularidades de um universo em que o delírio cromático se confunde com o próprio fantástico — destaque, por isso, para a direção fotográfica de Luciano Tovoli..'Três Amigas'. Romantismo “à la française” .'Fixed – O Dia da Castração'. Desenhos animados para adultos?