No novo filme de Luc Besson, Drácula: Uma História de Amor (a partir desta quinta-feira nas salas), as imponentes torres do castelo do conde Drácula têm gárgulas. Muitas, dir-se-ia à maneira da catedral de Notre-Dame de Paris, associação que poderemos ligar ao facto de, depois de 400 anos de exílio, o vampiro se preparar para visitar a capital francesa durante a Exposição Universal de 1889... Acontece que, a certa altura, por ordem do conde, as gárgulas saltam dos seus pilares e transformam-se em monstrinhos alados que, além de garantirem as tarefas quotidianas de manutenção do castelo, funcionam como uma espécie de batalhão de mercenários que, com grande energia e ainda mais ruído, protegem o seu amo...Digamos que o trabalho de Besson nunca se distinguiu pela subtileza. Mesmo nos seus momentos mais felizes (penso no exemplo de Lucy, uma aventura de ficção científica lançada em 2014, com Scarlett Johansson no papel central), os seus filmes têm dificuldade em encontrar o justo equilíbrio entre as potencialidades das suas histórias e a respetiva concretização. As suas gárgulas, além de nascerem de efeitos visuais tecnicamente pouco elaborados, surgem como um dos elementos exóticos (?) de um filme que nem sempre sabe sustentar as curiosas variações que tenta introduzir no universo cinematográfico de Drácula. . De alguma maneira rejeitando a construção dramática do romance de Bram Stoker em que, para todos os efeitos, se inspira, Drácula: Uma História de Amor quer colocar-se do lado de um romantismo exacerbado, formalmente delirante. Assim nos avisam as peripécias sexuais em que descobrimos o conde e a sua amada Elisabeta, num enlace amoroso que vai ser destruído pela guerra, projectando o conde numa espera de vários séculos, aguardando o possível reencontro com Elisabeta ou uma mulher que a “duplique”....Drácula continua a estar na moda. Parece confuso — e convenhamos que está longe de ser um primor de clareza narrativa. Mas é também um facto que o trabalho de Besson não se pode medir pela eventual racionalidade do seu dispositivo. Drácula: Uma História de Amor é mesmo um filme que, nos seus momentos de mais cuidada elaboração (por exemplo, na morte de Elisabeta ou na cena de entrada da personagem de Jonathan Harker no castelo do vampiro) possui uma energia típica de Grand Guignol — e não será preciso sublinhar que o Théâtre du Grand Guignol, que funcionou entre 1897 e 1962, faz parte do património cultural da cidade de Paris.Um final inesperadoEm defesa de Besson, fará sentido destacar o facto de, na construção da personagem de Drácula, o seu filme propor uma solução de casting tão peculiar quanto desconcertante. Na verdade, o ator Caleb Landry Jones está longe de ser uma escolha convencional para interpretar o rei dos vampiros.Besson, que não se cansa de elogiar as suas qualidades (tinha-o dirigido em 2023, no seu Dogman), consegue “inventar” um vampiro que não depende da teatralidade clássica de Bela Lugosi nem da pose hierática à maneira de Christopher Lee. Este Drácula composto por Landry Jones surge mesmo como uma figura de inesperada ambivalência cristã, o que, pelo menos, garante a Drácula: Uma História de Amor um final realmente inesperado..'The Naked Gun': quem salva a comédia?.'Superman'. Tempos difíceis para os super-heróis