As televisões públicas de Espanha, Irlanda, Países Baixos e Eslovénia confirmaram na quinta-feira, 4 de novembro, a saída do Festival Eurovisão da Canção, depois da União Europeia de Radiodifusão (UER) ter decido manter a participação de Israel, pondo assim fim (por enquanto) a uma polémica que se arrastava há meses. Assim, estes quatro países não participação, nem irão transmitir, o certame do próximo ano, que se realizará em maio em Viena, a capital austríaca. De recordar que a edição de 2025 teve 166 milhões de telespectadores e gerou um envolvimento online significativo, com 83 milhões de visualizações únicas no seu canal oficial do YouTube e milhares de milhões de visualizações em plataformas de redes sociais como o Instagram e o TikTok. “O Conselho de Administração da RTVE acordou no passado mês de setembro que Espanha se retiraria da Eurovisão se Israel fizesse parte”, lembrou a estação espanhola. Em comunicado, o secretário-geral da RTVE, Alfonso Morales, “reconhece e valoriza” as medidas adotadas pela UER para defender os princípios e valores centrais do festival, no entanto, a televisão espanhola considera que são insuficientes. “A situação em Gaza, apesar do cessar-fogo e a aprovação do processo de paz, e a utilização do certame para objetivos políticos por parte de Israel, tornam cada vez mais difícil manter a Eurovisão como um evento cultural neutro”, acrescentou Morales.Esta é mais recente polémica nos quase 70 anos da Eurovisão (que serão celebrados em 2026), mas está longe de ser a primeira. A lista é longa e inclui vários exemplos relacionados com tensões geopolíticas, que o DN aqui recorda. Alteração da letra de Israel (2024)A letra da canção a que Israel tinha originalmente submetido, October Rain, causou controvérsia, com a UER a decidir que violava as regras, pois parecia fazer referência aos ataques de 7 de Outubro. A União Europeia de Radiodifusão, responsável pela organização do festival, defende que o concurso é apolítico, podendo desqualificar as canções que violem esta regra.Israel acabou por submeter uma versão modificada da canção com um novo título, Hurricane, que foi aceite pela UER para competir. Paralelamente, existiram protestos contra a participação de Israel em Malmö durante o concurso, e as atuações da participante israelita Eden Golan no palco foram recebidas com vaias da plateia, que terão sido suprimidas na transmissão televisiva em direto. .Bielorrússia afastada por mensagem política (2021)Apesar de se ter classificado para a edição de 2021, em Roterdão, os representes da Bielorrússia acabaram por nunca subir ao palco – a banda Galasy Zmesta foi desclassificada pela UER depois de se descobrir que a canção Ya Nauchu Tebya violava as regras que proíbem letras de cunho político, com versos como "Vou ensinar-te a seguir as regras", que se acreditava serem uma crítica aos protestos contra o presidente Alexander Lukashenko.A Bielorrúsia teve a oportunidade de modificar a letra ou submeter uma canção alternativa, como aconteceu com Israel em 2024, mas a versão alterada também foi considerada imprópria, o que levou à sua desclassificação..E o mesmo aconteceu com a Geórgia (2009)A participação da Geórgia na edição de 2009 em Moscovo causou controvérsia: após a guerra entre os dois países, Stephane e o grupo 3G foram selecionados para competir com a canção We Don't Wanna Put In, mas a UER contestou a letra, pois parecia criticar Vladimir Putin, na altura primeiro-ministro. Os pedidos da UER para que a letra da canção fosse alterada foram recusados, e a emissora georgiana GPB retirou-se do evento..Islândia defende palestinianos (2019)A banda islandesa Hatari participou na edição de 2019 em Telavive e causou polémica na altura da atribuição dos pontos, quando foram focados pelas câmaras e estavam a exibir faixas de apoio à Palestina. O grupo assumiu mais tarde que esse foi o principal motivo para participar no concurso, enquanto que a UER multou as emissoras islandesas em 5.000 euros por violarem a regra antipolítica do concurso..Rússia desiste de atuar na Ucrânia (2017)A representante russa, Julia Samoylova, foi proibida de entrar na Ucrânia, por ter infringido a lei ao atuar na Crimeia em 2015 e entrar na região diretamente a partir da Rússia. A emissora russa Channel One recusou as ofertas para que Samoylova competisse remotamente a partir de um local na Rússia, ou para que outra representante atuasse no seu lugar, acabando por desistir do concurso. A UER condenou a decisão do governo ucraniano de impor uma proibição de viagens e alertou que a UA:PBC corria o risco de ser excluída de eventos futuros. Esta edição acabou por ser ganha pelo representante de Portugal, Salvador Sobral. .Suspensão da Rússia da Eurovisão (2022)Na sequência da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, a UA:PBC apelou à suspensão das emissoras russas RTR e Channel One, membros da UER, e à exclusão da Rússia da competição desse ano. Inicialmente, a UER defendeu que tanto a Rússia como a Ucrânia teriam permissão para participar na competição, devido à sua natureza apolítica. Mas, após queixas apresentadas por outras emissoras participantes, foi anunciado que a Rússia não teria permissão para participar na competição de 2022, alegando que traria descrédito ao concurso. A Ucrânia venceu a edição de 2022 e a Rússia não voltou a participar. .Conflito entre Arménia e Azerbaijão (2016)O conflito entre a Arménia e o Azerbaijão afetou o concurso em diversas ocasiões desde que ambos os países entraram no final da década de 2000. A mais recente aconteceu em 2016, quando a representante da Arménia, Iveta Mukuchyan, foi vista a acenar na primeira semifinal a bandeira de Nagorno-Karabakh, enclave separatista internacionalmente reconhecido como parte do Azerbaijão, mas habitado em grande parte por arménios étnicos. Face à violação das regras da UER, o canal arménio ARMTV foi alvo de medidas disciplinares..Israel renega os seus representantes (2000)O quarteto pop PingPong representou Israel no festival em 2000 com a canção Sameach (“Feliz”), mas a felicidade foi de pouca dura, com a Autoridade de Radiodifusão de Israel a decidir sancionar a banda depois dos seus membros exibirem a bandeira da Síria durante o ensaio e o videoclipe da música. O quarteto recusou mudar a sua apresentação e fez o mesmo na final. De referir que a letra falava num amigo de Damasco, a capital síria, que namorava com uma israelita. .Israel autorizado a participar na Eurovisão. RTP confirma participação, mas quatro países anunciam boicote