Este seu livro sobre monumentos ao emigrante tem exemplos de Norte a Sul, ilhas incluídas?O livro Monumentos ao Emigrante - Uma Homenagem à História da Emigração Portuguesa evidencia a existência em todos os distritos de Portugal continental, e também nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, de mais de uma centena de monumentos de homenagem ao emigrante.De que tipo de monumentos falamos? Nascidos da iniciativa de quem?Estamos a falar de monumentos, como bustos, estátuas ou memoriais, transformadores do emigrante em herói, e que se constituem como legados à memória coletiva e à história associada à emigração. Nos vários projetos de construção de monumentos de homenagem ao emigrante, essencialmente erigidos ao longo do último meio século, encontra-se invariavelmente, na linha da frente, o poder local democrático. No esforço de expor na praça pública as mundividências dos portugueses que honram e dignificam as suas terras e gentes além-fronteiras, sobressai igualmente a ação de comités de geminação, motivados pela forte presença de emigrantes e associações lusas no estrangeiro. Noutros casos, são iniciativas individuais de antigos emigrantes, que a expensas próprias, perpetuam através da edificação destas estruturas a ligação afetiva às suas raízes e o sucesso alcançado além-fronteiras..É uma obra sua e do fotógrafo Luís Carvalhido. Foi exaustiva a pesquisa? Existe algum risco de um monumento importante ter ficado por identificar?Trata-se de uma obra realizada em parceria com o fotógrafo Luís Carvalhido, valorizada com a tradução para inglês de Paulo Teixeira, prefácio do filósofo e escritor Onésimo Teotónio Almeida, e posfácio da socióloga das migrações Maria Beatriz Rocha-Trindade. Este trabalho pioneiro, cuja edição deveu-se em grande parte ao mecenato de empresas da diáspora que partilham uma visão de responsabilidade social e um papel de apoio à cultura, e que foi realizado com o apoio institucional da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, e da Sociedade de Geografia de Lisboa, assentou no levantamento sistemático, atualizado e tendencialmente exaustivo dos monumentos de homenagem ao emigrante estabelecidos no território nacional. No caso dos arquipélagos, a materialização fotográfica do projeto contou com a colaboração preciosa do Professor Auxiliar na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, Bernardo de Vasconcelos, e da Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores. Não temos a veleidade de afirmar que não ficou nenhuma estrutura por identificar, dado que o livro abarca todo o território de Norte a Sul, ilhas incluídas. Estamos convictos que concebemos uma obra que contribui para a dignificação da diáspora, porventura, capaz de impulsionar novas estruturas comemorativas, nas localidades onde ainda não existem padrões de homenagem aos emigrantes. É nesse sentido, um livro inacabado, disponível para em edições vindouras assinalar novos monumentos, ou alguns, que possam ter ficado por identificar.Pessoalmente, algum ou alguns monumentos o impressionaram mais?Pessoalmente impressionou-me a existência de várias estátuas e bustos que reconhecem ainda em vida o contributo empreendedor e benemérito de emigrantes portugueses em prol das suas terras de origem. É o caso, por exemplo, da estátua do comendador Manuel Eduardo Vieira, na ilha do Pico, que a partir da Califórnia, se tornou o maior produtor de batata-doce biológica do mundo, e tem apoiado generosamente ao longo dos anos várias associações desta ilha açoriana. Na mesma linha encontra-se o busto do comendador luso-californiano Batista Sequeira Vieira, na ilha de São Jorge; do arquiteto luso-americano João Negreiro Guedes, benemérito dos Bombeiros de Vidago; do empresário luso-francês João Pina, benemérito da região da Guarda; ou o grupo escultórico do empreendedor luso-venezuelano Anaclet Teixeira de Freitas, que no concelho de Santana fundou o Museu da Família Teixeira, que perpetua o legado da emigração madeirense na Venezuela. .O livro foi lançado no Canadá. Acredita que vai ser um sucesso junto das nossas comunidades no Canadá, Estados Unidos e outras mundo fora?O livro foi apresentado no final de junho junto da comunidade luso-canadiana numa sessão na Peach Gallery, um espaço de referência da portugalidade em Toronto, concebido pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses no Canadá, e que se encheu de emigrantes, lusodescendentes, líderes comunitários, dirigentes associativos e órgãos de comunicação social da diáspora. Inclusive, no decurso da sessão, o deputado federal Peter Fonseca distinguiu a obra com um certificado da Câmara dos Comuns do Canadá. Este contexto, e o facto de termos já sessões de apresentação marcadas, este ano, na cidade espanhola de Vigo, e em Paris, capital francesa com forte presença da comunidade portuguesa, e outras que seguramente vão surgir, transmite-nos a ideia de sucesso do livro no seio da dispersa geografia da diáspora lusa. Tem outras obras publicadas sobre a emigração e colabora em jornais da diáspora. Como nasceu esta paixão pela emigração portuguesa?É uma paixão que nasceu e se consolidou ao longo da última década, através do percurso pessoal e literário que tenho trilhado no seio da diáspora, e que me tem possibilitado, desde logo, conhecer in loco inúmeros compatriotas que demandam no estrangeiro o direito a uma vida melhor. É um sentimento de profundo respeito e de assumida empatia “com os filhos dos grandes descobridores”, na esteira da designação humanista e militante do saudoso fotógrafo da emigração portuguesa Gérald Bloncourt, uma das figuras mais marcantes neste caminho alicerçado na diáspora. .A ligação a Portugal dos nossos emigrantes continua forte?Continua uma ligação muito forte, como seja pela tradicional importância das remessas que os emigrantes continuam a enviar regularmente para as suas famílias, e que têm uma influência decisiva na economia nacional, sendo inclusivamente equivalentes aos fundos europeus. Mas também pelo inegável empreendedorismo, a riqueza do movimento associativo e a constante solidariedade das nossas comunidades em prol do torrão natal. No entanto, é preciso realçar que a emigração não corresponde somente a uma imagem de sucesso, existem infelizmente, várias trajetórias de concidadãos envoltos em dificuldades, e confrontados com situações de precariedade, doença, desemprego, abandono ou solidão.E em Portugal, sente que há consciência da importância da emigração para o desenvolvimento do país, não só pelas remessas de divisas, mas também pelas ideias de fora trazidas?Há cada vez mais a consciência da importância dos emigrantes, genuínos embaixadores do país, para a afirmação de Portugal no concerto das nações. Mas essa consciência deve ser acompanhada de uma maior revalorização da participação das comunidades lusas, por exemplo, nas tomadas de decisão política em Portugal. Como seja, o modo de voto dos portugueses no estrangeiro, que poderá passar pela implementação do voto eletrónico. E o aumento do número de deputados eleitos pelos círculos da emigração, dado que os quatro mandatos dos dois círculos da emigração, o círculo da Europa e o círculo de Fora da Europa, constituem uma flagrante sub-representação dos mais de cinco milhões de portugueses emigrantes e lusodescendentes espalhados no mundo, e que correspondem praticamente a metade da população residente em Portugal..Há alguma região de Portugal em que a influência da emigração tenha especialmente moldado o modo de ser da terra e das populações? A existência em todos os distritos de Portugal continental, e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, de mais de uma centena de monumentos de homenagem ao emigrante é revelador da influência da emigração nas várias localidades do país. No entanto, destacaria as regiões arquipelágicas, onde a emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense e açoriana, marcando desde o povoamento dos territórios até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. Alguma vez se imaginou a emigrar?Até à data ainda não me imaginei a emigrar. Mas, como se costuma dizer, a vida dá muitas voltas, e se um dia tiver de emigrar, espero ter o arrojo, coragem e a dignidade dos nossos inúmeros compatriotas que demandam no estrangeiro o direito a uma vida melhor. .“Vitória em Aljubarrota não é graças ao quadrado, que não existe nem seria necessário” ."Em Portugal há a ideia de que a Índia é um mercado imenso e inacessível. É preciso lá ir e aprender"