Federica Rosellini e Elio Germano: segredos que geram medo.
Federica Rosellini e Elio Germano: segredos que geram medo.

'Confidência'. Um drama com música de Thom Yorke

O novo filme do italiano Daniele Luchetti, Confidência, retrata um par amoroso assombrado pela possibilidade de uma violenta traição afetiva — com mais uma excelente interpretação de Elio Germano.
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Daniele Luchetti é um dos veteranos do atual cinema italiano (nasceu em Roma, em 1960) que tem sabido manter uma relação subtil com matrizes clássicas do drama familiar. Títulos como O Meu Irmão É Filho Único (2007) e, sobretudo, o brilhante A Nossa Vida (2010) são exemplos de um universo de convulsões emocionais, ora transparentes, ora enigmáticas, que se prolonga, agora, em Confidência. E com uma presença que se repete: o ator Elio Germano (premiado em Cannes por A Nossa Vida), por certo um legítimo herdeiro de uma tradição que passa por nomes como Alberto Sordi, Ugo Tognazzi ou Vittorio Gassman. Este é também um reencontro de Luchetti com a escrita de Domenico Starnone, já que Confidência, tal como a sua anterior longa-metragem de ficção, Laços de Família (2020), tem como ponto de partida um dos seus romances. 

O menos que se pode dizer de Confidência é que possui uma premissa insólita, à beira do absurdo, mas com um peso muito real na vida das personagens principais, Pietro e Teresa, um professor (Germano, precisamente) e uma sua ex-aluna (Federica Rosellini). Quando iniciam uma relação amorosa, dir-se-ia que essa relação está ameaçada pela própria fragilidade que pressentem no amor. De tal modo que, numa espécie de fuga para a frente, estabelecem um pacto bizarro: cada um deles vai dizer ao outro um segredo que nunca partilharam com ninguém... 

Que segredos são esses? Embora evitando explicitar o desenlace do filme, importa dizer que Luchetti encena a cena vital da confissão (ou melhor, da confidência a que o título se refere) como um momento paradoxal: a relação de Pietro e Teresa fica assombrada pela possibilidade de uma traição afetiva que se transforme numa incómoda exposição pública... Pietro é o protagonista desse assombramento, já que, mesmo depois de se ter separado de Teresa, a sua existência vai sendo ciclicamente pontuada pelo medo de revelação do segredo que o pode comprometer aos olhos dos outros — até porque Teresa explora esse medo como uma forma cruel de afirmar aquilo que diz ser a sua eterna paixão por Pietro. 

Digamos que o filme é tão sugestivo, e também tão limitado, quanto as manifestações passionais de Teresa. Mais do que um estudo psicológico, Luchetti opta por encenar um jogo do gato e do rato em que conta menos a complexidade oculta das personagens, valorizando mais o “suspense” que decorre da possibilidade do segredo se tornar coisa pública. Elemento dominante acaba por ser a admirável banda sonora original composta por Thom Yorke, em mais uma das suas aventuras à margem dos Radiohead — se Confidência resulta de uma realização consistente, valorizando em particular as qualidades dos atores, a música de Yorke impõe-se como uma proeza que vai resistir para lá da sua utilização no interior do próprio filme. 

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