Cultura
19 agosto 2022 às 20h50

Campo Pequeno: 130 anos a honrar a tauromaquia e uma corrida para recordar

A crónica da corrida em que a Praça de Toiros do Campo Pequeno celebrou 130 anos de tauromaquia e homenageou a Cultura, por Catarina Bexiga.

DN

18 de agosto 1892 / 18 de agosto de 2022. São 130 anos de uma longa história, escrita temporada após temporada, transversal a gerações de aficionados e marcada por acontecimentos que abrilhantaram e engrandeceram a própria história do Toureio em Portugal. A Monumental do Campo Pequeno tornou-se referência mundial, testemunho de um passado glorioso e, queremos acreditar, de um futuro com muito por contar.

Para assinalar a efeméride, a empresa Ovação e Palmas apostou num cartel misto, com a presença de Morante de la Puebla, aliciante maior para que as bancadas estivessem repletas de muito público em geral e aficionado em particular. Os quatro toiros de Canas Vigouroux resenhados para o toureio a cavalo, de trapio condizente com a Catedral, acusaram em média mais de 580 Kg de peso, de bonitas hechuras o segundo e quinto, colaboradores q.b., visto que os outros dois se revelaram mais reservados.

De Marcos Tenório recordo a forma superior como recebeu o seu primeiro toiro, montado no "Danone", um cavalo que marca a diferença na quadra de qualquer cavaleiro. No entanto, Marcos esteve sempre muito pendente do público, "encenou" o triunfo em ambos do lote, mas na verdade pouco ficou para relatar. Foi pena que não tivesse sido mais exigente consigo próprio.

Francisco Palha confirmou em Lisboa a sua "buena racha". Recebeu os seus dois toiros montado no "Jaquetón"; mas se os dois compridos em sortes de gaiola causaram sururu, francamente empolgante, com verdade, sem qualquer desvio na trajetória do "Canas Vigouroux", foi o segundo comprido no seu primeiro toiro. Pessoalmente, encontrei mais conteúdo na sua primeira atuação; mas reconheço que procurou sempre fazer tudo com seriedade e impacto. Guardo um grande curto (o 4.º) com o "Roncalito" no seu primeiro toiro e um outro curto (o 2.º) com o "Gingão" no seu último toiro.

Para os dois grupos de forcados a noite não foi propriamente afortunada. Pelos Amadores de Santarém pegaram Salvador Ribeiro de Almeida e Francisco Graciosa, ambos à terceira tentativa. Pelo Aposento da Chamusca concretizou o cabo Pedro Coelho dos Reis à quarta e João Saraiva, na pega da noite, à primeira, com uma grande ajuda do mesmo Coelho dos Reis.

Numa temporada histórica na sua trajetória, o matador de toiros Morante "de la Puebla" quis brindar os aficionados portugueses com a sua presença na Monumental do Campo Pequeno. Para si foram resenhados dois toiros de Nuñez del Cuvillo, escasso de trapío, mas nobre, o primeiro; com poucas opções o segundo. O de La Puebla rubricou duas faenas distintas, mas que confirmam o seu grande momento. A sua primeira obra teve um cunho mais pessoal, aproveitando a nobreza do "Nuñez del Cuvillo" para oferecer a cada muletazo gosto e carícia. A faena ao segundo foi construída com sentido de responsabilidade e sobrada disposição. O toiro pareceu querer, mas não poder, mas o de La Puebla entendeu-o, e com insistência e firmeza, inventou a faena.

Assim, ficou assinalado o 130º Aniversário do Campo Pequeno. Que venham muitos mais e que naquele albero dourado se continuem a escrever páginas importantes da nossa Tauromaquia.

Síntese da Corrida: Corrida de Celebração dos 130 anos Praça de Toiros do Campo Pequeno (Lisboa)

Ganadarias: Quatro toiros de Canas Vigouroux para o toureio a cavalo. Bem apresentados, 2.º e 5.º colaboraram q.b. Dois toiros de Nuñez del Cuvillo para o toureio a pé, nobre o 1.º e com poucas opções o 2º.

Cavaleiros: Marcos Tenório (volta e volta) e Francisco Palha (volta e volta)

Forcados: Amadores de Santarém - Salvador Ribeiro de Almeida e Francisco Graciosa. Aposento da Chamusca - Pedro Coelho dos Reis e João Saraiva (volta). Destacada primeira ajuda de Pedro Coelho dos Reis, que também acompanhou o forcado da cara na volta à arena.

Matador de Toiros: Morante de la Puebla (volta e volta)