O horizonte é de três anos e o objetivo é triplicar a dimensão das áreas marinhas protegidas (AMP) que hoje existem na Zona Económica Exclusiva (ZEE) dos Açores. Dos 5% da sua ZEE que hoje gozam de algum regime de proteção, os Açores querem passar a ter três vezes mais em 2021, o que significa 15% do "seu" oceano salvaguardado pelo estatuto de área marinha protegida. Um total de 150 mil quilómetros quadrados..Este é o eixo central da parceria lançada hoje entre o governo Regional dos Açores e duas fundações orientadas para o mar e a preservação da sua biodiversidade: a portuguesa Oceano Azul e a norte-americana Waitt..O memorando de entendimento celebrado entre os três parceiros vai vigorar durante seis anos, processar-se-á em duas fases, e o objetivo é colocar os Açores destacado na dianteira, na conservação dos oceanos e da vida marinha, e marcar a liderança a nível internacional nesta problemática complexa.."Queremos dar um sinal ao país e ao mundo de que é possível fazer mais para a proteção dos oceanos e para a sua gestão racional", afirmou ao DN Gui Menezes, o secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores..Os novos 15% da ZEE açoriana que vão ser dedicados a áreas protegidas no âmbito desta parceria englobarão ao todo cerca de 150 mil km quadrados, o que significa triplicar a área atualmente com esse estatuto na região..Para implementar o projeto durante os primeiros três anos, "as duas fundações assumem em conjunto um compromisso para o seu financiamento em 1,5 milhões de euros", adiantou, por seu turno, ao DN Emanuel Gonçalves, administrador da Fundação Oceano Azul para a área da conservação.."A nossa estimativa é que a primeira fase deste projeto, que será dedicada à realização e recolha de estudos científicos para identificar as zonas onde deverão ser criadas as novas áreas protegidas e à definição das leis para a sua implementação concreta, envolverá um valor global de cerca de cinco milhões de euros", explica Emanuel Gonçalves. E sublinha: "Estamos confiantes de que vamos conseguir trazer para o projeto outros parceiros, como outras fundações, empresas e ONG "..Uma vez definidas as áreas a preservar e as leis que as vão regular, segue-se a segunda fase do projeto, a partir de 2021, com a implementação das novas áreas marinhas protegidas no terreno, ou seja no oceano, com o acompanhamento de todo o processo e a avaliação dos resultados..O mundo a passo lento na proteção do oceano.Com cerca de um milhão de km quadrados, a ZEE dos Açores é uma das mais vastas do mundo para um arquipélago e, sobretudo na última década, a região tem feito o seu caminho na criação de áreas com diferentes estatutos de proteção. Das 71 AMP que existem atualmente Portugal, a grande maioria (58) está nos Açores. Foram criadas pelo governo regional ou pelas autoridades locais ao longo dos anos, embora haja entre elas muitos estatutos diferenciados de proteção e casos em que a sua implementação efetiva mal saiu do papel..A parceria agora celebrada acontece num momento em que a rede das áreas marinhas protegidas está em restruturação, como explica o secretário regional Gui Menezes. "Estamos a elaborar o plano de ordenamento do espaço marítimo, um trabalho técnico que estará concluído no final de 2019, e cujo objetivo é dar mais coerência à sua gestão", diz. O memorando de entendimento não podia, por isso, vir em melhor altura..Para os três parceiros que hoje se comprometem pela defesa do oceano na região dos Açores, este é o primeiro dia dos próximos seis anos, que vêm aí, já seguir. A criação das novas áreas de proteção marinha é o eixo central da estratégia, mas com isso vem tudo o resto..Com a interdição da pesca nessas zonas, as espécies mais fragilizadas pela sobre-exploração poderão começar a recuperar, repovoando em seguida os territórios adjacentes. Isso e uma gestão racional das pescas promoverão, por seu turno, um paradigma de sustentabilidade para os oceanos. É todo um programa a arrancar. Os Açores querem posicionar-se na liderança desse processo e a Fundação Oceano Azul quer ser um parceiro ativo na promoção dessa liderança..A nível global, os números mostram que, na proteção dos oceanos, está quase tudo por fazer. Na visão da ONU, em 2020, 10% dos oceanos deveriam ter estatuto de áreas marinhas protegidas, mas a menos de dois anos ainda falta muito para lá chegar. Atualmente, essas áreas são apenas 4,2% dos oceanos, das quais apenas 1,2% são em alto mar. E se falarmos em proteção total, os números caem ainda mais, para 2,2% a nível global, dos quais menos de 1% são em alto mar - muito, muito pouco.