As autoridades locais de Kiev proibiram os eventos públicos para assinalar, esta quarta-feira, o Dia da Independência da Ucrânia e os 31 anos de libertação do poder soviético, que coincide com os seis meses da invasão russa. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teme que a Rússia possa estar a planear "algo particularmente feio e cruel" para assinalar a data, numa altura em que Moscovo também acusa Kiev de estar por detrás da morte da jornalista russa Darya Dugina, que é filha do ideólogo do Kremlin, Alexander Dugin.."Esta é a nossa Independência, que ninguém pode quebrar e que ninguém pode tirar", disse Zelensky na sua intervenção diária em vídeo, publicada no domingo à noite, reiterando que ao fim de quase seis meses de guerra "ninguém duvida de que [vão] alcançar a vitória na Ucrânia". Segundo o presidente, os ucranianos estão mais unidos agora do que nunca. "Isto é uma das fundações da nossa força, do nosso poder. E, por isso, é um dos principais alvos dos terroristas russos", referiu..Zelensky alega que há inúmeros relatos de que está a ser preparado, em Mariupol, um "julgamento fantoche" dos "defensores ucranianos" - numa aparente referência aos que foram feitos prisioneiros após a rendição da Azovstal. O presidente avisa que, se isto acontecer, então a Rússia terá cruzado uma "linha" para lá da qual "quaisquer negociações são impossíveis" e "não haverá mais conversa" - não sendo claro que tipo de diálogo existe atualmente entre os dois países..Receando que as tropas russas preparem alguma ação para assinalar o Dia da Independência, Kiev proibiu os eventos públicos até quinta-feira. Já em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, a norte, o recolher obrigatório foi decretado das 16.00 horas de hoje, terça-feira, às 07.00 de quinta-feira, temendo-se novos bombardeamentos. Também no porto de Mykolaiv, no sul, foi decretado o teletrabalho por estes dias e feito um apelo para que não haja grandes ajuntamentos de pessoas..O comandante-em-chefe ucraniano, Valeriy Zaluzhny, admitiu esta segunda-feira que, desde a invasão russa, a 24 de fevereiro, já terão morrido nove mil soldados ucranianos. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse entretanto que a União Europeia está a estudar dar luz verde a uma missão de treino para o Exército ucraniano, algo para o qual Portugal já mostrou disponibilidade em junho..O receio de novos ataques aumenta também depois de Moscovo acusar os ucranianos de estarem por detrás da morte de Dugina, de 29 anos, na explosão do carro em que o seu pai também supostamente deveria estar - suspeitando-se que podia ser ele o alvo. Alexander Dugin, ideólogo do "Eurasianismo" - que coloca a Rússia como o centro de um novo império que desafiará a democracia liberal e a cultura ocidental -, apelidou a morte da filha de "ato terrorista perpetrado pelo regime nazi ucraniano"..A secreta russa (FSB) também diz que "o crime foi preparado e cometido pelos serviços secretos ucranianos", mas o presidente russo, Vladimir Putin, limitou-se a dizer que era um "crime cruel", sem apontar o dedo a Kiev. A Ucrânia reitera não ser responsável..susana.f.salvador@dn.pt